A vacinação alterou o panorama da infeção por HPV nos mais novos.Mas, em relação às mulheres que não tiveram acesso à vacina gratuita, ainfeção ainda é uma preocupação?

Sim, a infeção por HPV é sempre uma preocupação, quando se tem uma vida sexual ativa. Uma mulher pode ser infetada em qualquer idade. Tive um caso de uma senhora, com 70 anos, sempre com testes negativos, que teve um novo parceiro e acabou por testar positivo. É um problema de saúde que também depende muito da imunidade de cada pessoa

E em relação às comunidades imigrantes, que vêm de países onde não sedá importância a esta infeção?

A realidade está a mudar. Estou ligada à Associação Científica Lusófona-Estudo das Doenças Transmissíveis e Cancro e tenho colaborado em ações de formação em países de língua oficial portuguesa (PALOP), como Moçambique, Angola, Cabo Verde e Macau. O problema é que ainda não existe grande sensibilização junto das populações locais, assim como verbas para que possam investir mais no combate à infeção por HPV. Esta é uma situação que se poderia resolver se houvesse mais solidariedade. Em Portugal chega-se a ter vacinas quase a terminar o prazo, que não são usadas. Poderiam ser doadas.

Relativamente às mulheres imigrantes, que residem no nosso país, temos a oportunidade de as vacinar. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) está sobrecarregado, mas é importante, na Medicina Familiar, perceber se essas mulheres estão vacinadas. Deve-se também, obviamente, vacinar os filhos. Além da vacina, é essencial também fazer o rastreio a HPV e orientar, caso testem positivo.

“Se o microbioma estiver equilibrado, com probióticos, obtêm-se melhores resultados. Já existem estudos neste âmbito que o demonstram”

Fala-se muito em prevenção, mas que novidades existem, nos últimostempos, em termos de tratamento?

Primeiramente, deve pensar-se na prevenção da infeção por HPV. Não esquecer a importância da imunidade, porque estamos a viver tempos muito difíceis, com muito stress, o que tem repercussões no sistema imunitário. Se este estiver fragilizado, diminuído, mais facilmente se pode ter a infeção. Algumas pessoas conseguem, naturalmente, eliminar o vírus, outras não e é preciso iniciar o tratamento. A carga genética também tem impacto.

Tem-se falado muito de microbioma. Qual a relevância na prevenção e notratamento da infeção por HPV?

Desde 2013 que estou envolvida num estudo de investigação do microbioma, nos laboratórios Dr. Joaquim Chaves, assim como na deteção de anticorpos do vírus, para se perceber se a vacina foi eficaz. O microbioma é extremamente importante na prevenção e no tratamento da infeção por HPV. E não se pode pensar apenas na mulher, o tratamento também deve envolver o homem. Numa formação, no Brasil, em 2013, quando colaborei no lançamento da vacina contra HPV, a forma como sensibilizei um grupo de jovens foi com esta imagem: o ato sexual é como a pendrive e o computador, isto é, basta um deles estar infetado para que se transmita o vírus. O microbioma é importante na prevenção, mas também no tratamento. Se o microbioma estiver equilibrado, com probióticos, obtêm-se melhores resultados. Já existem estudos neste âmbito que o demonstram.

A infeção por HPV também afeta os homens. Dever-se-ia apostar emcampanhas de alerta?

Sim, sem dúvida! Quando colaborei na introdução da vacina, em Portugal, com a Dr.ª Graça Freitas, só obtivemos aprovação para as meninas, porque não havia financiamento. Mas, na minha consulta, os meninos eram vacinados – os pais tinham de pagar. Finalmente, mais tarde, abrangeram-se também os rapazes.

Maria João Garcia

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