O Governo israelita declarou que o acordo deixou de ser válido com a queda do regime de Bashar al-Assad, no domingo, e entrou na parte dos Montes Golã sob controlo da Força das Nações Unidas de Observação da Retirada (UNDOF, na sigla em inglês).

A UNDOF, que esteve em silêncio durante a semana, disse hoje que informou as autoridades de Israel de que a presença israelita na zona "constitui uma violação do Acordo de Retirada de 1974".

O acordo faz parte dos processos políticos que se seguiram ao fim da guerra israelo-árabe de 1973 (a Guerra do Yom Kippur, como é conhecida em Israel) e estipula a criação de uma zona desmilitarizada sob jurisdição da UNDOF.

Logo após o derrube de Assad, Israel considerou que o acordo de retirada de 1974 com a Síria tinha "entrado em colapso" com a tomada do país pelos rebeldes.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou no início da semana que o exército tinha assumido temporariamente o controlo da zona-tampão desmilitarizada nos Montes Golã.

Israel argumentou que a presença na zona-tampão era uma resposta à "ameaça de grupos jihadistas" na área.

O ministro da Defesa israelita, Israel Katz, ordenou hoje que o exército se preparasse para manter as posições durante os meses de inverno.

Desde a queda de Assad, Israel efetuou centenas de ataques na Síria contra instalações militares para evitar que caíssem "nas mãos de elementos terroristas", segundo o exército israelita.

A UNDOF disse num comunicado que observou desde sábado, 07 de dezembro, "um aumento significativo da presença israelita na zona".

Esse aumento registou-se "desde que o exército israelita comunicou um ataque às forças da ONU, e que decidiu vir em seu auxílio numa operação sem precedentes em 50 anos".

A UNDOF confirmou que "indivíduos armados saquearam armas e munições de uma posição da ONU perto de Hadar".

Referiu, no entanto, que efetivos da força multinacional conseguiram recuperar "alguns dos objetos saqueados, incluindo armas e munições", após negociações com os líderes da comunidade local, de acordo com a agência espanhola Europa Press.

A UNDOF disse que as suas forças permanecerão nas respetivas posições na zona de separação.

Recordou que a sua missão inclui "o controlo e a observação da zona e da linha de cessar-fogo, bem como o patrulhamento e a elaboração de relatórios sobre a evolução da situação".

A força da ONU apelou ainda a todas as partes para cessarem as atividades militares na área de separação e respeitarem os termos do acordo de 1974 para preservar a estabilidade nos Montes Golã.

A UNDOF, sob o comando do tenente-general nepalês Nirmal Kumar Thapa, conta com 1.171 efetivos uniformizados, sendo os principais contingentes oriundos do Uruguai, Cazaquistão, Índia, Fiji e Nepal.

A missão conta ainda com 150 elementos civis e é assistida no desempenho das suas funções por 92 observadores militares.

Bashar al-Assad, que sucedeu ao pai Hafez em 2000, fugiu com a família para a Rússia no domingo, pouco antes de uma coligação de rebeldes tomar Damasco e pôr fim a cinco décadas de poder da família do ex-presidente.

A coligação vitoriosa é liderada pela Organização Islâmica de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham, ou HTS, em árabe) e inclui fações pró-turcas.

Os rebeldes lançaram uma ofensiva relâmpago em 27 de novembro a partir da cidade de Idlib, um bastião da oposição, e conseguiram expulsar em poucos dias o exército de Assad das capitais provinciais de Alepo, Hama e Homs, abrindo caminho para Damasco.

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