Dércio Samuel explicou que os indivíduos alvejados faziam parte de um grupo composto por 100 pessoas, que, munidos de instrumentos contundentes, incluindo flechas, pretendiam vandalizar o posto administrativo de Aube, no distrito de Angoche, a mais de 170 quilómetros da cidade de Nampula, a capital provincial.

"O comando distrital da PRM destacou uma força para aquele posto com intuito de impedir que esses atos fossem concretizados e, chegados no local, os membros da polícia foram recebidos e confrontados com atos de violência (...) Nestes confrontos, um agente foi ferido e houve baixa em número de sete por parte dos Naparamas (...)", declarou o porta-voz da corporação, em conferência de imprensa.

De acordo com o porta-voz, o grupo é proveniente do distrito vizinho de Larde e exigia que as trinta medidas defendidas pelo ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, que lidera a contestação aos resultados eleitorais em Moçambique, fossem implementadas.

"Eles pretendiam também capturar o chefe do posto para o matar, assim como a destruição de infraestruturas públicas e privadas, reclamando o não cumprimento das decisões do seu presidente Venâncio Mondlane", declarou.

Em 21 de janeiro, Mondlane, que rejeita os resultados das eleições gerais de 09 de outubro, apresentou um documento que classificou como "30 medidas governativas" para os próximos 100 dias, a partir do que descreve como "Gabinete do Presidente Eleito", exigindo, entre outros, redução de preços de produtos, suspensão do pagamento de água e a constituição  de um "tribunal autónomo" que emita "sentenças" contra os órgãos de polícia, alegando a "onda macabra" de "execuções sumárias" a manifestantes.

 Os Naparamas são paramilitares moçambicanos que surgiram na década de 1980, durante a guerra civil, aliando conhecimentos tradicionais e elementos místicos no combate aos inimigos, atuando em comunidade.

Historicamente, os Naparamas classificam-se como uma força que se organizou espontaneamente para a autodefesa da população perante a guerra na altura e os seus elementos submetem-se a ritos de iniciação, destinados a dar-lhes alegada "proteção sobrenatural" que acreditam que os torna imunes, até a balas.

Em 02 de janeiro, supostos elementos do grupo Naparamas decapitaram um secretário de bairro no distrito de Murrumbala, na província da Zambézia, e colocaram a cabeça da vítima numa praça pública, avançou à Lusa fonte policial.

Moçambique vive desde outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas, primeiro, por Venâncio Mondlane.

Atualmente, os protestos, em pequena escala, têm ocorrido em diferentes pontos do país e, além da contestação aos resultados, os populares queixam-se do aumento do custo de vida e outros problemas sociais.

Desde outubro, pelo menos 327 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 750 foram baleadas durante os protestos, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais.

 

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