"Estiveram nesta base mais de 280 mulheres e crianças e essas mulheres foram recrutadas aqui nas povoações de posto administrativo de Sabe [na província da Zambézia] (...) Estes malfeitores já estavam a criar mal-estar aqui no distrito de Morrumbala, na estrada Nacional número 1", avançou à comunicação social o brigadeiro Bernardo Ntchokomala, após o resgate das vítimas.

Segundo as autoridades moçambicanas, o grupo privou as mulheres e crianças da liberdade por mais de duas semanas numa antiga base de ex-guerrilheiros da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), força de oposição contra a qual as autoridades lutaram durante a guerra civil dos 16 anos.

A base estava localizada no posto administrativo de Sabe, distrito de Morrumbala, na província central da Zambézia.

Segundo Bernardo Ntchokomala, as vítimas estavam a ser treinadas pelos raptores, não estando clara a intenção do grupo com estes exercícios.

"Estiveram cá mulheres a serem violadas em frente aos seus maridos", acrescentou o oficial do exército moçambicano, reiterando que não se trata dos históricos naparamas.

"Estes são malfeitores", frisou Bernardo Ntchokomala.

Os naparamas são paramilitares moçambicanos que surgiram na década de 1980, durante a guerra civil, aliando conhecimentos tradicionais e elementos místicos no combate aos inimigos, atuando em comunidade.

Historicamente, os naparamas classificam-se como uma força que se organizou espontaneamente para a autodefesa da população perante a guerra e os seus elementos submetem-se a ritos de iniciação, destinados a dar-lhes alegada "proteção sobrenatural" que acreditam que os torna imunes, até a balas.

Nos últimos meses, as autoridades têm denunciado diversos ataques de grupos que se autoproclamam naparamas em vários pontos de províncias do centro e norte de Moçambique.

Em 17 de abril, no distrito de Malema, província de Nampula, pelo menos cinco membros de um grupo autoproclamado naparamas foram mortos após tentarem atacar uma posição da polícia moçambicana, avançou a corporação naquele ponto do país.

"O grupo fez-se àquele ponto munido de azagaias, catanas, marretas e outros instrumentos contundentes, além de pedras", disse, na altura, a porta-voz da Polícia da República de Moçambique em Nampula, Rosa Chaúque.

Em 02 de janeiro, supostos naparamas decapitaram um secretário de bairro no distrito de Murrumbala, na província da Zambézia, e colocaram a cabeça da vítima numa praça pública, disse à Lusa fonte policial, na altura.

Em 12 de fevereiro, o Presidente de Moçambique, Daniel Chapo, pediu ao novo vice-comandante-geral da PRM, Aquilasse Manda, para combater os ataques atribuídos aos grupos na província da Zambézia, indicando que estes "tentam bloquear" vias vitais para o desenvolvimento do país.

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