"Houve uma irresponsabilidade da polícia e precisa ser responsabilizada criminalmente e isto não iremos deixar passar. Estão identificados os que protagonizaram essas ações contra as populações, pelo que a Renamo tudo fará para colocar estes que mataram populações indefesas nos tribunais nacionais e internacionais", prometeu o porta-voz da Renamo, Marcial Macome.

Em conferência de imprensa, o responsável disse que "não se pode tolerar" disparos contra populações, prometendo que o partido vai usar "meios legais" para a responsabilização das forças policiais envolvidas.

"Estes atos macabros, desumanos e de falta de sentido de Estado condenamos e queremos garantir que todos aqueles que estão envolvidos em Quelimane [província da Zambézia, no centro] assim como em outras partes do país serão responsabilizados", adiantou.

O autarca de Quelimane, Manuel de Araújo, quadro da Renamo, confirmou hoje que a polícia disparou na quarta-feira gás lacrimogéneo contra si e a população com intenção de acabar com "marchas pacíficas" no município.

"Bloquearam-nos literalmente, lançaram gás lacrimogéneo à nossa frente, lançaram gás atrás de nós, à nossa esquerda e lançaram gás à nossa direita", disse o presidente do município de Quelimane, numa declaração enviada à Lusa.

As forças policiais moçambicanas dispersaram em Quelimane, com recurso a gás lacrimogéneo, população que respondeu ao apelo a marchas convocadas pela Renamo contra os resultados eleitorais de 09 de outubro, que culminariam com a receção do autarca de Quelimane no aeroporto local, após uma visita ao exterior.

Moçambique, e sobretudo Maputo, vivem paralisações de atividades e manifestações convocadas desde 21 de outubro pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições gerais, anunciados pela CNE e que dão vitória a Daniel Chapo e à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder).

Mondlane pediu um novo período de manifestações nacionais em Moçambique, com inicio esta quarta-feira, em todas as capitais provinciais, incluindo Maputo, e alargado aos portos, às fronteiras do país, e aos corredores de transporte que ligam estas infraestruturas, apelando à adesão dos camionistas contestando o processo eleitoral.

O comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM) Bernardino Rafael, disse na terça-feira que é preciso um "basta" às manifestações e paralisações, referindo que são "terrorismo urbano" com intenção de "alterar a ordem constitucional".

Na terça-feira, os empresários moçambicanos estimaram em 24,8 mil milhões de meticais (354 milhões de euros) os prejuízos causados em 10 dias de paralisações e manifestações, durante as quais 151 unidades empresariais foram vandalizadas.

O Ministério Público (MP) moçambicano já instaurou 208 processos-crime para responsabilizar os autores "morais e materiais" da violência nas manifestações pós-eleitorais, anunciou também na terça-feira a Procuradoria-Geral da República (PGR), responsabilizando o candidato presidencial Venâncio Mondlane.

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