A Rússia realiza atividades suspeitas de espionagem sistemática no mar Báltico, através de uma frota de navios que se faz passar por embarcações dedicadas à ciência, de acordo com uma investigação jornalística divulgada na terça-feira na Alemanha.
Nesta investigação, na qual participaram os canais de televisão públicos alemães NDR e WDR e o jornal alemão Süddeutsche Zeitung, desde o início da guerra da Rússia contra a Ucrânia, em 2022, um total de 72 navios russos realizaram 400 viagens por aquela zona do nordeste da Europa, em algo a que estes meios de comunicação chamam "espionagem sistemática".
As manobras do navio, que incluem mantê-lo parado durante horas no mesmo local, perto de infraestruturas subaquáticas ou marítimas, como cabos ou parques eólicos, são registadas na Alemanha como mais do que um comportamento ameaçador.
Bruno Kahl, presidente do Serviço Federal de Informações (BND), referiu ao NDR, ao WDR e ao Süddeutsche Zeitung que a sua instituição considera tal comportamento um "perigo muito real".
"A velocidade com que a Rússia está a aumentar as tensões e também a acelerar os seus próprios preparativos para poder agir militarmente contra o Ocidente dá-nos razões para olharmos de forma muito concreta para estas ameaças, espionagem e sabotagem", frisou Kahl.
Os 'media' identificam a presença destes navios no Báltico como parte da "guerra híbrida" de Moscovo contra o Ocidente.
"A Rússia investiu muito na guerra submarina nas últimas décadas. Isto inclui a frota regular de submarinos, mas também mini-submarinos que podem ser lançados discretamente a partir de navios maiores, bem como drones e mergulhadores subaquáticos", salientam os autores da investigação na televisão pública alemã ARD, que revelou na terça-feira parte da investigação aos chamados "navios espiões" da Rússia.
A Rússia invadiu a Ucrânia com o argumento de proteger as minorias separatistas pró-russas no leste e "desnazificar" o país vizinho, independente desde 1991 - após a desagregação da antiga União Soviética - e que tem vindo a afastar-se do espaço de influência de Moscovo e a aproximar-se da Europa e do Ocidente.
A guerra na Ucrânia já provocou dezenas de milhares de mortos de ambos os lados, e os últimos meses foram marcados por ataques aéreos em grande escala da Rússia contra cidades e infraestruturas ucranianas, ao passo que as forças de Kiev têm visado alvos em território russo próximos da fronteira e na península da Crimeia, ilegalmente anexada em 2014.
Já no terceiro ano de guerra, as Forças Armadas ucranianas confrontaram-se com falta de soldados e de armamento e munições, apesar das reiteradas promessas de ajuda dos aliados ocidentais, que começaram, entretanto, a concretizar-se.
Nas últimas semanas, as tropas russas, mais numerosas e mais bem equipadas, prosseguiram o seu avanço na frente oriental, apesar da ofensiva ucraniana na Rússia, na região de Kursk.
As negociações entre as duas partes estão completamente bloqueadas desde a primavera de 2022, com Moscovo a continuar a exigir que a Ucrânia aceite a anexação de uma parte do seu território.