Tinha 18 anos quando pela primeira vez veio a Lisboa. E veio para ficar. Natural de Angola, de onde saiu com apenas três anos de idade, o CEO do Bison Bank, António Henriques, cresceu em Seia, no distrito da Guarda. Recorda uma infância em que, para poder ir à escola, "saía de casa às 5h30 da manhã, porque havia apenas um autocarro que ia buscar as pessoas, a todas das aldeias do concelho". Mudou-se para Lisboa para prosseguir os estudos na universidade e recorda, nos primeiros tempos, as dificuldades de adaptação ao movimento grande cidade: "essa grandiosidade, para mim, não era necessariamente uma coisa muito positiva, porque me retirava aquele silêncio da aldeia".
António Henriques licenciou-se em Gestão e Organização de Empresas e concluiu um mestrado em Administração de Empresas. Mas o seu percurso académico foi tudo menos linear. Durante um tempo deixou de estudar para se dedicar a 100% ao trabalho e ganhar dinheiro. Integrou o Millennium BCP ainda jovem, como administrativo. E rapidamente construiu sonhos, como o de chegar a CEO de um banco antes dos 50 anos.
“Era um miúdo quando entrei como administrativo, em 1994, para para o banco e rapidamente percebi que havia pessoas, como eu, que ganhavam 550 euros (era o meu ordenado em 1994) e outras que ganhavam muito mais e que tinham uma série de outras regalias, como o carro, mandavam em pessoas, eram respeitadas dentro da organização e eram os senhores doutores”, recorda. António fez uma conta simples: “dividi o número de anos que eu tinha para a minha reforma pelo número de níveis que eu tinha que subir até ao topo, para calcular a velocidade da minha progressão. Isso mostrou-me que o caminho era muito duro (e foi!), mas tambémque ter alguns aceleradores”.
Com mais 30 anos de carreira ligada à banca, António não cumpriu a sua meta por um mês, mas chegou ao cargo ambicionado no Bison Bank, que hoje lidera. Diz que “devemos ser ambiciosos dentro daquilo que são os nossos limites, dentro do que conseguimos alcançar". Mas desmistifica a ideia de que o CEO de um banco tenha de ser o maior especialista em banca: “eu não preciso, na verdade, de perceber de banca para ser CEO de um banco, é a minha convicção. O líder tem que ser alguém que tem a capacidade de unir todas as partes interessadas da organização que lidera”
E, não tendo fórmulas mágicas para o sucesso, acredita que, no seu caso e para que cumprisse o sonho, terá pesado o facto de colocar a mesma determinação na função de CEO que colocou sempre na de administrativo. “Sendo empregado de uma instituição financeira, sempre tive sempre uma ‘cultura de patrão’: quis entregar o melhor de mim às organizações onde estive. E esse é talvez o denominador comum daquilo que determina efetivamente o progresso na vida das pessoas”, aponta.
O CEO é o limite é o podcast de liderança e carreira do Expresso. Todas as semanas a jornalista Cátia Mateus mostra-lhe quem são, como começaram e o que fizeram para chegar ao topo os gestores portugueses que marcaram o passado, os que dirigem a atualidade e os que prometem moldar o futuro. Histórias inspiradoras, contadas na primeira pessoa, por quem ousa fazer acontecer. Ouça outros episódios: