O presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) acredita que hoje o Serviço Nacional de Saúde está mais bem preparado para responder aos efeitos diretos de uma pandemia, mas que continuaria a falhar no acompanhamento dos outros doentes.

"Se nós tivéssemos uma nova pandemia, eu acredito que estamos mais preparados para combater os efeitos diretos dessa pandemia, mas que provavelmente íamos continuar a falhar no que respeita ao acompanhamento dos outros doentes", declarou Xavier Barreto à agência Lusa.

Cinco anos depois de terem sido confirmados em Portugal os primeiros casos de contágio pelo coronavírus SARS-CoV-2, que causa a doença designada de covid-19, a 2 de março de 2020, o responsável considera que "as coisas mudaram (...) de forma significativa".

Face ao "aparecimento de novas doenças infecciosas (...) de novas pandemias", Xavier Barreto sustenta que a resposta, particularmente em termos de cuidados intensivos, seria "muito mais capaz hoje do que era no início da pandemia de covid".

"Quando a pandemia começou éramos um dos piores países da Europa em termos de camas de cuidados intensivos. Estávamos muito mal preparados, tínhamos cerca de metade, em média, daquilo que era a média da União Europeia", observa, acrescentando que durante o surto foram abertas novas unidades de cuidados intensivos e o número de camas duplicou.

"Hoje estamos muito melhores (...) em termos do número de camas e até de pessoas preparadas para lidar com este tipo de doentes em cuidados intensivos".

Além disso, foi entretanto criada a Direção Executiva do SNS, o que, segundo o responsável, facilita a articulação entre hospitais e entre o setor público, o privado e o social, o que "foi difícil" na altura da pandemia.

Xavier Barreto previne, no entanto, que a resposta depende sempre da doença em causa, de qual seria o vírus, o seu ritmo de propagação, a taxa de mortalidade, e que "há muita incerteza" a este nível, pelo que é difícil fazer previsões.

SNS não está preparado para "gerir todos os outros doentes"

Ainda assim, não tem dúvidas que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) não está preparado "para conseguir gerir a atividade programada de rotina, no fundo, para conseguir gerir todos os outros doentes" ao mesmo tempo que combate uma pandemia.

O presidente da APAH lembra que devido à pandemia causada pelo novo coronavírus há uns anos muitos doentes "ficaram sem consultas, sem cirurgias, sem tratamentos", o que "terá tido consequências em termos de mortalidade".

Preparar o sistema de saúde para manter o acompanhamento dos "doentes programados" e, ao mesmo tempo, combater uma pandemia obriga a "reformular a forma" como se diagnostica, trata e segue aqueles doentes, sustenta.

"Por exemplo, introduzindo muito mais tecnologia , tendo mais sistemas de monitorização à distância , tendo mais sistemas de triagem digital dos nossos doentes, utilizando mais a inteligência artificial para poder, de facto, sinalizar os doentes mais graves e acompanhá-los de uma forma diferente, muitas vezes até à distância".

Admite que existem atualmente mais consultas feitas à distância, mas considera tratar-se de "um número muito residual" e insiste que se mudou "muito pouco".

"Existe potencial para nós termos muito mais acompanhamento dos nossos doentes à distância, seja via telemedicina, seja via telemonitorização", afirma, acrescentando: "Essa mudança de paradigma da forma como acompanhamos os doentes crónicos é muito importante. E ainda não aconteceu".

Quanto à existência atualmente de "um Serviço Nacional de Saúde mais robusto, mais capaz, com mais pessoas, com mais estrutura também", o responsável refere que "os resultados de 2024 são, mais uma vez, muito claros", adiantando que o SNS "bateu todos os recordes de cirurgias, de consultas, de tratamentos em hospital de dia, também utilizando essas pessoas que foram incorporadas durante a pandemia".