Duas palavras muito sentidas, embora muito breves, para felicitar o Senhor Presidente António Ramalho Eanes pelos seus 90 anos, que são, larguissimamente, anos vividos ao serviço de Portugal”. É assim que Marcelo Rebelo de Sousa felicita, este sábado, o primeiro Presidente da República democraticamente eleito no pós 25 de abril pelo seu aniversário.

Eanes “é um homem de liberdade” e serviu o país “com honestidade, seriedade de caráter e sentido de Estado”, reforça o antigo presidente, Cavaco Silva, num texto publicado na edição do Jornal de Notícias deste sábado em que manifesta “profunda admiração pelo percurso de vida do general (…) a quem Portugal muito deve" sem esquecer uma referência ao facto de ter sido nomeado primeiro-ministro por Ramalho Eanes e de mais tarde, já como presidente, o ter condecorado com o Grande Colar da Ordem da Liberdade.

Em comum, as mensagens de Marcelo Rebelo de Sousa e de Cavaco Silva sublinham o facto de Ramalho Eanes continuar ao serviço do país. “Felicito-o pela forma firme, serena e integra como continua a servir Portugal”, escreve o antigo presidente Cavaco Silva, “Serviu e serve Portugal” no Conselho de Estado e na “permanente atenção ao papel das Forças Armadas no presente e no futuro de Portugal”, diz o atual presidente Marcelo Rebelo de Sousa.

“O interesse nacional em primeiro lugar”

Na mensagem publicada no site da Presidência, Marcelo destaca, ainda, que Ramalho Eanes “serviu Portugal” desde “muito cedo”, ainda antes de se ter tornado “o primeiro Presidente da República eleito em Democracia” e, ao longo dos anos, serviu o país de diferentes formas, nas Forças Armadas, no 25 de Abril, durante a revolução, durante e após o 25 de novembro de 1975, com a candidatura e a recandidatura à presidência, na investigação, “no trabalho académico, que incentivou, que concebeu, que concretizou com sucesso”.

“Serviu Portugal e serve Portugal naquilo que representa de empenho cívico, de capacidade de colocar, com uma visão de Estado, o interesse nacional sempre em primeiro lugar e com uma energia, com uma criatividade, com uma imaginação e sempre com uma ponderação e com um bom senso na expressão da vontade popular, que é um dos fatores de estabilidade constante na nossa Democracia”, refere.

O general que os portugueses elegeram em junho de 1976, com 61,59%, e reelegeram em dezembro de 1980, com 56,44% dos votos expressos, também à primeira volta, trabalhou durante 10 anos com sete primeiros-ministros: Mário Soares, Alfredo Nobre da Costa, Carlos Mota Pinto, Maria de Lurdes Pintassilgo, Francisco Sá Carneiro, Francisco Pinto Balsemão, e Aníbal Cavaco Silva.

Risco de fuzilamento no pós 11 de março

Natural de Alcains, filho de um construtor civil e de uma dona de casa, António dos Santos Ramalho Eanes entrou na Escola do Exército, como cadete, em 1956, no mesmo ano de Garcia dos Santos, Loureiro dos Santos, Tomé Pinto e Jaime Neves.

Escolheu Infantaria e fez comissões de serviço em Goa, Macau, Moçambique e na Guiné onde foi comandado pelo general António de Spínola e teve como companheiro de camarata Otelo Saraiva de Carvalho.

Casado com Maria Manuela Duarte Neto Portugal, com quem tem dois filhos, Miguel e Manuel, participou em várias reuniões de militares para organizar uma resposta ao regime do Estado Novo. No pós 25 de abril é implicado nos acontecimentos do 11 de março e, conta Vasco Lourenço na biografia autorizada escrita por Isabel Tavares, chegou a ser sugerida a sua prisão e até o seu fuzilamento depois de derrotadas as forças de Spínola, mas foi ilibado e colocado no Estado-Maior General das Forças Armadas.

Subscritor do Documento dos Nove, um manifesto por um socialismo “inseparável da democracia política”, que recusa simultaneamente “o modelo de sociedade socialista tipo europeu oriental” e o modelo social-democrata, com Salgueiro Maia, Costa Braz e Garcia dos Santos, entre outros, acaba por reunir os apoios dos líderes do PPD, Francisco Sá Carneiro, do PS, Mário Soares, e do CDS, Diogo Freitas do Amaral para se candidatar à presidência nas eleições de 1976.

Apoios a Cavaco e Sampaio da Nóvoa

Depois de uma campanha marcada por grande tensão em que chega a haver uma troca de tiros, em Évora, e morre um homem que teria tentado atingir Eanes, é eleito sob o lema “Muitos prometem, Eanes cumpre” para ser "Presidente de todos os portugueses”.

Já depois de sair da Presidência assume a liderança do Partido Renovador Democrático, onde fica cerca de um ano, saindo após o desaire nas legislativas de 1987 em que o PRD tem apenas 5% dos votos. Mas continua com uma presença ativa na vida nacional. Apoia as candidaturas a Belém de Cavaco Silva presidindo à sua comissão de honra, em 2011, e de Sampaio da Nóvoa, derrotado por Marcelo Rebelo de Sousa em 2016.

Em 1995, já na reforma (1993) Eanes ainda ponderou recandidatar-se à Presidência da República, mas acabou por não avançar. Em 2000, recusou a ascensão à mais alta patente da hierarquia militar: não aceitou a promoção a marechal.