
Apenas 7,4% dos mil inquiridos entre 10 a 24 de abril responderam que confiam muito ou totalmente no líder da Casa Branca, que assinala cem dias desde a posse para um segundo mandato, em 20 de janeiro, e que tem tentado obter um acordo de paz para pôr fim ao conflito entre Rússia e Ucrânia.
"É um número demasiado elevado para ignorar. Não é apenas uma reação emocional ou irracional. Estes 90% são um apelo para que os Estados Unidos revejam a abordagem em relação à Ucrânia --- uma abordagem que, por vezes, parece mais alinhada com a visão revanchista da Rússia do que com o direito internacional", observou o Centro Nova Europa.
O resultado da pesquisa, realizada pela empresa ucraniana Info Sapiens para o Centro Nova Europa com uma margem de erro de 3,1% e que exclui regiões ocupadas na Ucrânia, é considerado inesperado, atendendo a que, na última sondagem realizada em novembro passado, 47,2% dos inquiridos manifestavam desconfiança no novo líder norte-americano.
Na altura, segundo o 'think tank' ucraniano, este resultado elevado era "um reflexo da deceção geral com a política hesitante" da administração norte-americana cessante de Joe Biden em apoiar a Ucrânia, bem como "as esperanças de paz baseadas nas promessas feitas pelo Presidente recém-eleito".
No entanto, cem dias volvidos, os dados agora divulgados enviam "um sinal claro a um parceiro estratégico" de que "precisa mudar a abordagem", alertou o Centro Nova Europa, que apontou como exemplo a falta de prioridade dada por Washington a garantias de segurança para evitar uma nova agressão russa em caso de acordo de paz.
O Centro citou a sondagem anterior, a qual concluía que a maioria dos ucranianos (64,1%) acreditava que as negociações com Moscovo não deviam decorrer sem garantias concretas de segurança por parte do Ocidente, tendo como base o raciocínio de que "a Rússia retomaria a guerra após uma breve pausa".
Trump tem sido acusado pelos principais parceiros ocidentais de Kiev de favorecer o lado russo, sobretudo depois de ter destratado publicamente o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, num encontro na Casa Branca, e de o ter responsabilizado mais de uma vez por iniciar o conflito, apesar de ter sido a Rússia a invadir o país vizinho em fevereiro de 2022.
Mais recentemente, tem defendido que a Ucrânia terá de ceder território para alcançar um acordo com Moscovo, apontando o caso da península da Crimeia.
A Rússia ocupa parcialmente quatro regiões no sul e leste da Ucrânia - Donetsk, Lugansk, Zaporijia e Kherson -- desde a invasão lançada pelo Presidente russo, Vladimir Putin.
Anexou também a península ucraniana da Crimeia em 2014, após uma intervenção das forças especiais e um referendo não reconhecido por Kiev e pelo Ocidente, incluindo os Estados Unidos.
O Kremlin anunciou na segunda-feira um cessar-fogo temporário de três dias, que coincide com o 80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial, assinalado por Moscovo a 09 de maio como o "Dia da Vitória".
Kiev pretende, no entanto, uma pausa incondicional dos combates durante pelo menos 30 dias e Trump insistiu que a trégua deve ser permanente.
O Centro nova Europa foi fundado em 2017 em Kiev para desenvolver pesquisas, análises e conduzir projetos para promover padrões e práticas europeias na Ucrânia, bem como aumentar o apoio às perspetivas de integração na UE e na NATO.
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