Um dia depois do Natal, um avião da Azerbaijan Airlines com cerca de 70 pessoas a bordo despenhou-se no Cazaquistão, abatido por um míssil russo. Foi o terceiro acidente semelhante numa década, após os voos comerciais da Malaysia Airlines, entre Amesterdão e Kuala Lumpur, ter sido abatido sobre a Ucrânia (2014) e da Ukraine International Airlines cair à saída de Teerão, rumo a Kiev (2020). "Todos eles sublinham a vulnerabilidade de aviões civis em zonas de conflito, especialmente quando não existe capacidade de distinguir alvos militares de civis", alerta a Sky Expert, lembrando que as companhias da UE estão proibidas de voar para a Rússia e de sobrevoar o espaço aéreo russo a caminho de outros destinos, "mas essa proibição não vale para as companhias chinesas e indianas com destino à Europa, que continuam a fazê-lo diariamente, transportando cidadãos europeus e colocando as suas vidas em risco".
Considerando não apenas a "desigualdade financeira e operacional notória entre as companhias europeias e asiáticas", mas sobretudo as "sérias questões de segurança e ética" que se levantam, a empresa de consultoria em aviação e aeroportos enviou uma Carta Aberta a diversas entidades europeias que têm (co)responsabilidade na regulamentação da segurança aérea dos passageiros, apelando a que se endureça as medidas de proteção. "Neste momento, as medidas em vigor não são suficientemente fortes e não impedem que este tipo de acidentes se repitam com aviões que tenham origem e destino no espaço europeu", vinca a organização, apresentando três medidas que acredita poderem minimizar a falta de segurança para os europeus, sobretudo quando "companhias como a Air Serbia, Turkish Airlines ou Emirates transportam milhares de passageiros em trânsito embarcados na UE para vários destinos na Rússia, expondo-os ao risco de serem abatido ou, em caso de emergência, poderem não receber assistência".
A obrigação de informar os passageiros, no momento da compra, sobre se o percurso dos voos das companhias selecionadas inclui o sobrevoo de espaços aéreos considerados de risco e se existe capacidade de forças armadas e milícias distinguirem alvos civis de militares é a primeira sugestão da Sky Expert, que pede ainda regras de segurança harmonizadas. "Propomos que a União Europeia proíba a aterragem de qualquer avião comercial – europeu ou não – no seu território se o mesmo tiver sobrevoado o espaço aéreo russo para transportar passageiros com origem ou destino a aeroportos europeus"; bem como que "qualquer bilhete vendido na Europa com destino à Rússia (via Belgrado, Istambul, Dubai ou outros aeroportos de trânsito) inclua informação sobre os riscos inerentes ao sobrevoo de zonas de conflito e ao próprio destino", lê-se na carta aberta.
A organização recorda que, antes da guerra na Ucrânia e das sanções impostas à Rússia, "os direitos de sobrevoo geravam receitas anuais significativas de milhões de euros para o governo russo e constituem ainda hoje mais uma fonte de financiamento direto para as suas atividades militares", contrariando o espírito das sanções impostas pela UE e obrigando as companhias europeias a operar rotas alternativas "mais longas e dispendiosas". E questiona: "Três mísseis depois, de que estão à espera?"
"Os aviões civis não têm como detetar o perigo de mísseis em seu redor. Mesmo que tivessem, a margem de manobra que têm para se desviarem da trajetória de um míssil é nula", vinca Pedro Castro, diretor da Sky Expert, que assina a carta aberta onde se apela ao Conselho, ao Parlamento e à Comissão Europeia, bem como à EASA, à IATA, à Airlines for Europe, à ANAC e ao MNE que implementem estas "medidas essenciais com a maior urgência", de forma a "proteger a vida dos passageiros europeus".