O Presidente da Ucrânia confirmou "os primeiros combates" das tropas ucranianas contra soldados norte-coreanos que se juntaram ao exército russo na frente de batalha. "Os primeiros combates com soldados norte-coreanos abrem uma nova página de instabilidade no mundo", afirmou Volodymyr Zelensky, na terça-feira à noite, no habitual discurso à nação.

O responsável ucraniano voltou a pedir à comunidade internacional para que "faça tudo o que estiver ao seu alcance para garantir que este passo russo para expandir a guerra falhe". O ministro da Defesa ucraniano, Rustem Umerov, já tinha comunicado os primeiros contactos na frente de batalha entre as forças armadas norte-coreanas e ucranianas.

Zelensky agradeceu a todos os países que "reagiram ao destacamento de soldados norte-coreanos na Rússia" e mencionou especialmente aqueles que o fizeram "não apenas com palavras, mas preparando ações apropriadas" para ajudar Kiev a defender-se.

O G7 - grupo dos sete nações mais industrializadas do mundo -, a Nova Zelândia e a Austrália anunciaram na terça-feira que estão a preparar uma resposta coordenada à entrada de efetivos norte-coreanos na guerra russo-ucraniana. "As nossas contramedidas devem ser suficientes. Suficientemente fortes", acrescentou Zelensky.

De acordo com a Ucrânia e alguns aliados, a Coreia do Norte já enviou mais de 10 mil soldados para a Rússia. Alguns deles já se juntaram às tropas russas que combatem o exército ucraniano na região russa de Kursk, na fronteira com a Ucrânia e parcialmente ocupada pelas forças de Kiev desde agosto.

A câmara alta do parlamento da Rússia ratificou o tratado de defesa mútua com a Coreia do Norte. Esta votação do Conselho da Federação, que ocorre duas semanas depois da dos deputados, não suscitou dúvidas e nenhum senador votou "contra". Concluído durante uma rara visita de Vladimir Putin a Pyongyang em junho, este tratado prevê, nomeadamente, "ajuda militar imediata" recíproca no caso de um ataque contra um dos dois países.

Mark Rutte
Mark Rutte Remo Casilli/Reuters

Mark Rutte: uma “expansão perigosa”

O secretário-geral da NATO, Mark Rutte, considerou que a presença de soldados norte-coreanos na região russa de Kursk é "histórica por todas as razões erradas" e representa uma "expansão perigosa" da guerra da Rússia na Ucrânia. "A presença de tropas norte-coreanas em solo europeu é, sem dúvida, histórica por todas as razões erradas. É a primeira vez num século que a Rússia convida tropas estrangeiras a entrar no país", afirmou Rutte, num artigo de opinião publicado esta quarta-feira pelo ‘Politico’.

"Trata-se de uma expansão perigosa do conflito na Ucrânia, uma escalada da guerra e a demonstração de que a nossa segurança não é regional, mas sim global", afirmou o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

O político holandês referiu que, na semana passada, uma delegação de chefes dos serviços secretos e da defesa sul-coreanos informou os 32 aliados da NATO e os seus parceiros do Indo-Pacífico sobre "o destacamento de milhares de tropas norte-coreanas na região russa de Kursk, com a intenção de participar na guerra de agressão contra a Ucrânia".

Rutte afirmou que a Rússia "depende da China para apoiar a economia russa e aceder a tecnologias de dupla utilização para sustentar o seu esforço de guerra", do Irão "para os 'drones' e mísseis mortais que mataram e mutilaram tantos ucranianos" e da Coreia do Norte "para milhões de munições, mísseis balísticos e agora tropas". "Todos estes são sinais de um desespero crescente", afirmou.

Em todo o caso, Rutte afirmou que, "em todas as frentes", o Presidente russo, Vladimir Putin, "não está a conseguir atingir os seus objetivos estratégicos através desta guerra de agressão ilegal e mal avaliada". "Enquanto procuramos um fim justo e duradouro para o conflito, Putin está apenas a prolongá-lo e a alargá-lo", afirmou.

O custo é "inacreditável" para a Rússia, que "está a sofrer cerca de 1.200 baixas por dia, mais de 600.000 desde fevereiro de 2022", quando iniciou a invasão em grande escala da Ucrânia. Os norte-coreanos "não lutam numa guerra há mais de 70 anos e vão agora ganhar uma experiência valiosa no campo de batalha e conhecimento dos conflitos modernos", sublinhou.

Rutte recordou que, na semana passada, Pyongyang realizou um teste com um míssil balístico intercontinental de maior alcance e o primeiro num ano, numa nova violação das várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU. "O aprofundamento dos laços militares e económicos entre uma Rússia imprudente e uma Coreia do Norte encorajada não só ameaça a segurança euro-atlântica e do Indo-Pacífico, como é profundamente perigoso para a segurança global", sustentou.

Neste contexto, afirmou que a China "tem uma responsabilidade especial a este respeito, uma vez que deve utilizar a sua influência junto de Pyongyang e Moscovo para garantir que cessem estas ações". "Pequim não pode afirmar que está a promover a paz enquanto fecha os olhos a uma agressão crescente", afirmou.

Por último, Rutte referiu que o apoio militar dos aliados à Ucrânia corresponde a "uma fração dos orçamentos militares anuais" de cada um dos países. "É um pequeno preço a pagar pela paz. A questão é: podemos dar-nos ao luxo de não o fazer?", questionou, ao terminar o artigo.

Jay Paul/Reuters

Eurodeputados portugueses temem consequências das eleições norte-americanas

Eurodeputados portugueses manifestaram preocupação com possíveis consequências da eleição de Donald Trump para um novo mandato na Casa Branca no futuro dos conflitos na Ucrânia e no Médio Oriente. O eurodeputado Francisco Assis (PS) salientou em declarações aos jornalistas, em Bruxelas, que a eleição de Trump como Presidente dos Estados Unidos da América (EUA) "não é uma surpresa absoluta", mas sublinhou estar surpreendido com a dimensão da vitória. "Diria que a grande ponta de preocupação neste momento deve ser mesmo a questão da Ucrânia", referiu, acrescentando ainda que deve ser acompanhado o comportamento norte-americano em relação ao conflito israelo-palestiniano.

Sebastião Bugalho (PSD) referiu que a primeira ação da UE tem de ser a de "trabalhar para ter um bom interlocutor do outro lado do Atlântico para assegurar a defesa do continente no momento em que está sob ameaça da parte de uma superpotência imperialista liderada por Vladimir Putin, chamada Federação Russa".

"Esperamos e trabalharemos para ter esse interlocutor de confiança numa relação de respeitabilidade e reciprocidade com os Estados Unidos da América" destacou, acrescentando, por outro lado, que com uma aparente maioria do Partido Republicano no Senado e na Câmara dos Representantes, Trump estará "mais livre, mais solto" do que no seu primeiro mandato (2017-2021).

Também João Cotrim de Figueiredo (IL) destacou que "os temas do apoio militar e diplomático à Ucrânia estão em causa", considerando que declarações de Trump e da sua equipa em campanha indicam estar-se "perante uma posição muito menos multilateral, muito mais isolacionista, muito mais protecionista" nos temas da Defesa e do comércio internacional. Cotrim de Figueiredo defendeu ainda que a UE tem de se emancipar da dependência em relação aos EUA.

Catarina Martins (BE) referiu que o resultado das eleições norte-americanas é "muito preocupante" e terá impacto internacional, nomeadamente devido "ao alinhamento complexo" de Donald Trump com a extrema-direita israelita.

João Oliveira (PCP) referiu estar preocupado "com todos os povos que têm pela frente, no seu quotidiano, com a agenda da guerra, da morte, da destruição, seja na Ucrânia, seja no Médio Oriente, seja na Palestina, no Líbano, no Iémen, seja onde for que haja guerra". O eurodeputado comunista sublinhou que "seja na Ucrânia, seja para o Médio Oriente, é preciso soluções políticas de paz, de cooperação e de solidariedade entre os povos".

O eurodeputado do Chega António Tânger Corrêa foi o único que disse aos jornalistas estar "contente com a vitória de Donald Trump" nas presidenciais norte-americanas. "O Chega, ideologicamente, está mais perto de Trump do que de Kamala Harris" sublinhou.

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Outras notícias que marcaram o dia

⇒ O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou que vai deslocar-se a Budapeste, nesta quinta-feira, para participar na cimeira reunião da Comunidade Política Europeia, composta pela União Europeia (UE) e outros países vizinhos. "Estarei em Budapeste para participar na reunião da Comunidade Política Europeia, a convite do primeiro-ministro [húngaro], Viktor Orbán, e do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel", disse Volodymyr Zelensky numa mensagem na rede social Telegram e entretanto confirmada à Lusa por fontes comunitárias.

⇒ A Rússia vai trabalhar com a nova administração norte-americana liderada por Donald Trump e afirmou que mantém os seus objetivos na Ucrânia, que invadiu em 2022, anunciou a diplomacia russa. "As nossas condições mantêm-se inalteradas e são bem conhecidas em Washington", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo num comunicado citado pela agência oficial TASS. O ministério disse que Moscovo trabalhará com a nova administração "defendendo firmemente os interesses nacionais russos e concentrando-se em atingir todos os objetivos da operação militar especial", referindo-se à Ucrânia.

⇒ Mais de 76.000 pessoas que vivem na região russa de Kursk, na fronteira com a Ucrânia, foram retiradas para "locais seguros" desde a incursão das forças de Kiev, disse um funcionário citado pelos meios de comunicação russos. "Mais de 76.000 pessoas foram temporariamente retiradas para áreas seguras", disse Artiom Sharov, representante do Ministério para Situações de Emergência russo, citado pela agência TASS numa conferência de imprensa.

⇒ O Ministério da Defesa da Rússia reivindicou mais de 30 mil baixas infligidas ao exército ucraniano na região de Kursk, parcialmente ocupada pela Ucrânia desde agosto. "No total, durante as ações bélicas no setor de Kursk, o inimigo perdeu mais de 30.050 militares", avançou a tutela militar no seu relatório diário de guerra, indicando ainda que as forças ucranianas registaram mais de 230 baixas nos combates das últimas 24 horas. Referindo que "as ações ofensivas continuam", o Ministério acrescentou que quatro contra-ataques inimigos foram repelidos perto das cidades de Novoivanovka e Leonidovo.

⇒ O Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, felicitou o candidato republicano, Donald Trump, pela sua vitória nas eleições presidenciais dos EUA, confiando que o seu "amigo" contribuirá para travar guerras em Gaza e na Ucrânia. "Ele [Donald Trump] espera que as relações entre a Turquia e os EUA sejam reforçadas e que as crises e as guerras regionais e globais acabem, em particular a questão palestiniana e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia", disse Erdogan numa mensagem na rede social X.