Donald Trump aproveitou o anúncio desta quinta-feira de um novo corte das taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE) para atacar o presidente da Reserva Federal, Jerome Powell, dizendo que a sua saída "cannot come fast enough" - "ontem já era tarde", numa possível tradução em português.

O Wall Street Journal avançou, entretanto, que Trump e a sua equipa têm vindo a discutir em privado a possibilidade de despedir Powell da presidência do banco central, instituição cuja independência a protege, em teoria, de interferências políticas diretas.

Antes do anúncio oficial pelo banco de Frankfurt de nova redução em 25 pontos-base, o presidente norte-americano, numa publicação na rede Truth Social, declarava Powell deveria seguir o exemplo da zona euro na redução das taxas de juro, e que a sua saída da liderança do banco central dos EUA era algo desejável.

"Espera-se que o BCE corte as taxas de juro pela 7.ª vez e, mesmo assim, o "Atrasado" Jerome Powell da Fed, que está sempre ATRASADO E ERRADO, ontem emitiu um relatório que foi mais uma, já habitual, "confusão"! Os preços do petróleo estão a cair, os alimentos (até os ovos!) estão a cair, e os EUA estão a ENRIQUECER COM AS TARIFAS. O Atrasado deveria já ter baixado as taxas de juro, como o BCE, há muito tempo, mas devia fazê-lo com certeza já. A saída de Powell ontem já era tarde", escreveu Trump.

O mandato de Powell como presidente da Fed termina em maio de 2026. A administração Trump, insatisfeita com a condução da política monetária norte-americana pelo banco central, tem vindo a apelar à descida das taxas de juro. Powell tem ignorado os apelos do presidente norte-americano para proceder a cortes semelhantes aos do BCE nos EUA.

De acordo com a Reuters, que cita o site Politico, o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, tem tentado pôr água na fervura junto de responsáveis da administração Trump, logo após a publicação do presidente na Truth Social. O argumento de Bessent é que uma tentativa de remoção de Powell do cargo acabaria por resultar em mais dias de forte instabilidade nos mercados, com novas perdas de milhares de milhões de dólares.

O banco presidido por Christine Lagarde anunciou hoje uma nova redução, a sétima, das taxas diretoras, numa altura em que a zona euro, já com a inflação controlada, encara a possibilidade de uma forte travagem do crescimento económico causada pela guerra comercial espoletada pelo presidente norte-americano.

A taxa diretora do BCE, agora nos 2,25%, está significativamente abaixo das taxas diretoras da Fed, atualmente no intervalo 4,25%-4,5%. Em março, a Reserva Federal resolveu não mexer no preço do dinheiro pela segunda vez em 2025. A instituição assumiu uma postura de "esperar para ver" no que toca às políticas económicas de Donald Trump, argumentando que é necessário mais “clareza” para se perceber o “impacto líquido” das medidas anunciadas.

No mesmo dia do anúncio da decisão de política monetária, Trump apelou, também na rede Truth Social, a que Powell reduzisse a taxa diretora: “A Fed estaria muito melhor se cortasse as taxas à medida que as tarifas dos EUA comecem a fazer a sua transição (aliviar!) para a economia."