"Jeff Wall -- Escritos de Arte" reúne "alguns dos textos mais significativos de uma das maiores figuras contemporâneas das artes visuais" das últimas décadas, escritos entre 1982 e 2010, e organizados por Sérgio Mah, curador e diretor-adjunto do MAAT -- Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia.

O livro é produzido no âmbito da exposição "Jeff Wall -- Time Stands Still, 1980-2023", organizada pelo MAAT e que vai estar patente de 23 de abril a 01 de setembro.

A obra de Jeff Wall evidencia uma atenção privilegiada a genealogias e modelos de representação visual que marcam a história da cultura ocidental, sendo o seu meio de representação a fotografia.

Contudo, o seu imaginário artístico assenta na exploração das articulações estéticas e conceptuais com os campos da pintura, da literatura, do teatro e do cinema, entendidos como modos correlativos de representação e ficção da realidade, explica Sérgio Mah, no prefácio do livro.

A par da sua prática artística, Jeff Wall tem desenvolvido, desde o início dos anos 1970, uma regular produção escrita de grande relevância crítica e reflexiva.

"São ensaios que evidenciam um amplo conhecimento da história das artes visuais e da filosofia, em particular sobre questões relacionadas com as práticas e ideias em torno da imagem, da pintura até à fotografia", sendo que a maioria dos seus textos incide em temas e momentos significantes da história da arte desde o século XIX, destaca o responsável.

Assim, a escrita de Jeff Wall propõe um diálogo abrangente entre áreas distintas, da pintura ao cinema, da arquitetura à instalação, e ainda com artistas com quem partilha uma visão conceptual da arte, como Ian Wallace, Dan Graham, On Kawara ou Édouard Manet.

Os seus textos refletem sobre influências e transições artísticas, os limites e possibilidades da fotografia ou o papel da arte enquanto campo de reflexão e interpelação cultural, social e política.

Menos frequentes são os textos que incidem explicitamente sobre as suas obras, como é o caso dos três primeiros ensaios escolhidos para esta publicação, em que o autor analisa ideias e momentos significativos da sua produção artística.

O primeiro destes, um dos mais conhecidos do artista, intitula-se "Gestos" e reflete sobre o gesto na arte, a partir da pintura e do teatro, associado à ideia do gesto fotográfico.

"Sobre fazer paisagens" e "Quadros de referência" são os dois ensaios que se seguem.

Os restantes dez textos debruçam-se sobre outros artistas e assuntos que foram marcando a sua trajetória teórica e prática.

Entre estes, incluem-se os conhecidos "Fotografia e inteligência líquida" -- que aborda como a fotografia digital muda a natureza da imagem, sendo a "inteligência líquida" uma metáfora para o fluxo constante de dados e manipulações possíveis nas imagens digitais -- e "'Sinais de indiferença': aspetos da fotografia na ou como arte conceptual", no qual analisa o uso da fotografia no contexto da arte conceptual dos anos 1960/70 e estabelece uma relação entre indiferença estética e fotografia documental.

"Kammerspiel, de Dan Graham", "Unidade e fragmentação em Manet", "O contador de histórias", "Dentro do bosque: dois esboços para estudos da obra de Rodney Graham", "La Mélancolie de la rue: idílio e monocromia na obra de Ian Wallace (1967-1982)", "Monocromia e fotojornalismo nas pinturas 'Today', de On Kawara", "Representação, objeto, evento" e "Alguns comentários sobre as alegações a favor e contra a pintura", completam os ensaios reunidos na obra.

Segundo a Orfeu Negro, com este volume, "cumpre-se o duplo objetivo de traduzir escritos nunca traduzidos para português e de reunir, numa mesma publicação, alguns dos mais importantes ensaios de Jeff Wall, que, ao longo das últimas décadas, se tornaram objetos de estudo e de referência no contexto da teoria e crítica de arte".

A par desta publicação, será inaugurada "uma das mais vastas exposições realizadas até hoje" sobre o trabalho de Jeff Wall, "um nome incontornável no panorama internacional das artes visuais das últimas décadas", que "é, também, a primeira exposição individual do artista em Portugal", indica o MAAT, em comunicado.

A exposição reúne mais de 60 obras, que refletem os vários temas que o artista tem privilegiado ao longo da sua carreira: cenas da vida quotidiana, tensões e dramas inerentes às sociedades modernas e contemporâneas, como a solidão, a pobreza, a alienação, a violência urbana, o abandono e a exclusão social.

Nascido em 1946, Jeff Wall é um dos mais influentes artistas visuais dos últimos 40 anos, conhecido pelas suas fotografias encenadas em grande escala, que se assemelham a cenas de filmes ou pinturas.

Jeff Wall recorre frequentemente a grandes caixas de luz ('lightboxes') para exibir as suas obras --- influenciado pela publicidade -- e misturando elementos da pintura clássica, do cinema e da vida quotidiana urbana, como forma de representar e encenar a realidade.

"The Destroyed Room" (1978), inspirado numa pintura de Delacroix, "Mimic" (1982), que representa uma cena de tensão racial entre um homem branco e um asiático, e "A Sudden Gust of Wind (After Hokusai)" (1993), a releitura fotográfica de uma gravura japonesa do século XIX, são algumas das obras mais icónicas de Jeff Wall.

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