O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, defendeu esta sexta-feira, depois de ter saído da Casa Branca em conflito com Donald Trump, que os ucranianos são os primeiros a querer acabar com a guerra, mas recusou conversações de paz com a Rússia sem garantias de segurança contra uma nova ofensiva.

"Ninguém quer acabar com a guerra mais do que nós", sublinhou Zelensky numa entrevista à Fox News na conclusão de uma visita a Washington marcada por um confronto verbal na Casa Branca com o Presidente norte-americano.

Horas depois de Donald Trump ter ameaçado "abandonar" a Ucrânia se esta não assinasse um acordo de cessar-fogo já, Zelensky frisou que Kiev "não quer perder" o apoio de Washington, maior contribuidor para o esforço militar contra o invasor russo desde a invasão em 2022.

"Será difícil sem o vosso apoio, mas não podemos perder os nossos valores, o nosso povo. Não podemos perder a nossa liberdade", afirmou Zelensky, cujo país foi invadido pela Rússia, que em 2022 declarou a anexação de quatro regiões no leste e sul, depois de ter ocupado a Crimeia em 2014.

Após Trump o ter acusado de "desrespeito" na Casa Branca, num confronto verbal sem precedentes perante a comunicação social, e de abandonar prematuramente o encontro, o líder ucraniano rejeitou na entrevista dever um pedido de desculpas ao homólogo norte-americano.

"Penso que temos de ser muito abertos e honestos, e não tenho a certeza de que tenhamos feito algo de errado", disse o Presidente ucraniano. "Respeito o Presidente [Trump] e respeito o povo americano", disse Zelensky.

A assinatura de um acordo sobre os minerais, hidrocarbonetos e infraestruturas ucranianas, para a qual o chefe de Estado da Ucrânia se tinha deslocado a Washington, não se realizou, nem a conferência de imprensa conjunta que estava prevista no final do encontro.

Na entrevista à Fox, o Presidente ucraniano reconheceu que o incidente com Trump "não foi bom para ambos os lados" e que gostaria que o Presidente norte-americano estivesse "realmente mais do lado" ucraniano em relação à Rússia e a Vladimir Putin, nas negociações para pôr fim ao conflito.

Mostrou-se, contudo, confiante de que "naturalmente" as relações com o Presidente norte-americano podem ser reparadas.

"Sim, naturalmente, porque estas são relações que vão para além de dois presidentes, são relações históricas e fortes entre os nossos dois povos", respondeu.

"Mas não posso mudar a nossa atitude ucraniana em relação à Rússia. E não quero que nos matem por causa disso. É muito, muito claro que os americanos são os nossos melhores amigos, os europeus são os nossos melhores amigos e Putin e a Rússia são os nossos inimigos. E não significa que queiramos isso, apenas queremos reconhecer a situação real", afirmou.

Em declarações antes de partir de Washington para a Florida, Trump disse acreditar que Putin, que lançou a invasão da Ucrânia há três anos, está pronto para um acordo de paz, e acusou Zelensky de ser um obstáculo.

"Aquele [Zelensky] não era um homem que queria fazer a paz", disse Trump sobre o Presidente ucraniano, horas depois da reunião tensa na Sala Oval.

"Ele tem de dizer 'eu quero alcançar a paz'. Não tem de ficar ali a dizer 'Putin isto, Putin aquilo', todas as coisas negativas... Ele tem de dizer 'eu quero fazer a paz, não quero continuar a travar esta guerra porque as pessoas estão a morrer'", disse Trump.

"Eu quero um cessar-fogo agora", frisou o Presidente norte-americano.

Na sequência da altercação na Casa Branca, os líderes da União Europeia, Canadá e numerosos países declararam publicamente apoio a Zelensky e a uma paz "justa e duradoura" com a Rússia.

Numa mensagem na sua rede social, Truth Social, logo a seguir à altercação na Casa Branca, Donald Trump afirmou que Zelensky "pode voltar quando estiver pronto para a paz".