
Esta semana, o Estoril Praia voltou a surpreender. Aconteceu em julho, com as vestes - principal e alternativa - obrigatórias. Em outubro, com a terceira camisola. E, agora, em abril, com o equipamento Senna.
O clube da Linha de Cascais inspirou-se na inesquecível primeira vitória de Ayrton Senna na Fórmula 1 - festejada, precisamente, no Autódromo do Estoril - para lançar o quarto equipamento da temporada - que vai ser usado exclusivamente no jogo contra o SC Braga - , na semana em que a conquista celebra o seu 40º aniversário.
Estamos cientes, claro, da natureza subjetiva do tema e da consequente discórdia que as infinitas interpretações possam causar, mas permita-nos a opinião: criaram uma obra de arte.
Com um regresso ao passado - simples e relevante -, os estorilistas pegaram num pedaço de tecido e o resto foi história.
No zerozero, somos movidos pelas histórias e, por isso, fomos saber mais sobre esta.

Comecemos por dar o devido mérito a quem o merece: António Nobre - diretor do marketing e da comunicação do Estoril Praia -, Bernardo Fernandes - diretor criativo da Colure (assessoria de comunicação e relações públicas) - e Francisco Fernandes - designer da Colure. Eis as mentes por detrás da camisola.
O zerozero reuniu-se com os três, de modo a entender todos os detalhes da homenagem, desde o processo criativo até à conceção da mesma. Uma conversa que deu pano para mangas - ainda vão a tempo de as fazer compridas!
Olá, era uma... nova identidade!
António foi o porta-voz e começou por contar mais sobre a fase embrionária da relação entre os três envolvidos: «Em janeiro de 2024, conheci o Bernardo pelo LinkedIn. Convidei-o a vir ao Estoril e ele apresentou-me a Colure, uma agência criativa, que vai além do rebranding, do design e da produção de eventos. Se me perguntassem, em 2024, se esta ideia ia sair do papel, diria que não, mas felizmente saiu, muito graças a esta malta, que fez acontecer.
Expliquei ao Bernardo, na altura, que a grande dificuldade do Estoril Praia era sair dele próprio. Era um clube de futebol muito fechado e não chegava à comunidade de Cascais e do Estoril.
Neste caso, o equipamento não foi ligado à responsabilidade social, mas à memória histórica. É uma homenagem que procura que as pessoas olhem para o nosso Concelho», assim, estava a feita a ponte para o grande motivo desta conversa.
«A Colure pôs mãos à obra e procurou tipos de iniciativas, eventos, culturas e histórias bonitas que podíamos encontrar aqui na zona, sendo eles também cascalenses. Obviamente, o circuito do Estoril acaba por marcar uma parte importante desta comunidade e dentro das infindáveis histórias, estava esta do Ayrton Senna.
No fundo, esta parceria acabou por ajudar a construir uma identidade em torno do clube, algo que, na opinião de António, ainda está em evolução: «O rebranding do Estoril Praia ainda é um work in progress. Estamos a dar vida a uma marca que queremos que cresça; dizemos que está na fase adolescente, mas queremos chegar a uma fase de maturidade», admitiu.
O diretor de marketing dos canarinhos analisou, também, a forma como os equipamentos auxiliam a difundir o clube pela comunidade.

«São um ótimo veículo para contarmos uma história e mostrarmos quem somos. A margem que o clube tem para comunicar com alguém que ligue a televisão durante um jogo de futebol é muito reduzida. Por isso, aproveitamos os equipamentos para mostrar identidade. Portanto, à procura disso, acabámos por conseguir incorporar o moderno, as cores e uma atitude moderna com alguns elementos deste design retro, que falámos na outra entrevista, que transportam as pessoas para um período nostálgico do futebol.
Sendo este veículo, o Estoril Praia deu sempre uma especial atenção aos equipamentos. Com o terceiro equipamento, o objetivo foi olhar para a responsabilidade social, para o trabalho das associações: por exemplo - em Portugal pelo menos e não sei se em todo o mundo -, o Estoril Praia é o único clube que oferece o espaço para consultas de psicologia e psiquiatria no estádio. Acabamos por integrar o equipamento como uma parte de visibilidade de uma ação mais global.
Ayrton, muito me lembras, mais me inspiras!
«Queríamos celebrar Ayrton Senna em Cascais e isso não era só a corrida no Autódromo do Estoril. Era o sair à noite aqui, o morar aqui, o viver aqui... A primeira coisa que marca na camisola é que nós não queríamos que fosse... uma camisola. É um polo. Tem uma gola e o Estoril Praia não usa golas, porque é focado na performance desportiva. Queríamos essa vertente, que as pessoas pensassem: "O Ayrton podia ter usado isto a passear na Marina"», admitiu António, antes de passar a bola a Bernardo.
«É daqueles ideias que, quando aparece, não conseguimos largar. Tornou-se num conceito super forte, vencedor e com um potencial incrível - tanto é que a repercussão está à vista.
O que me impressiona mais - e vemos agora com os comentários e reações - é que o Ayrton Senna deve ser dos poucos desportistas que, tantos anos após a sua morte, têm um legado tão presente e tão forte. Tem um carisma inigualável e isso foi o maior ingrediente aqui», opinou Bernardo, que deu sequência à circulação de bola ao passar para o irmão.
«O que fez isto funcionar tão bem é a mistura do retro com o moderno. O equipamento do Senna funciona ainda melhor que os outros, porque, mais que um design, é uma ideia e as pessoas identificam-se muito com isso», revelou Francisco, antes de António acrescentar outro ponto à discussão.

«Aliás, até há algo que não é muito comum. O fabricante e o emblema em preto sobre preto, de modo a perderem a relevância sobre o que queremos transmitir e homenagear», fez questão de salientar.
No seguimento, Bernardo revelou uma conversa ocorrida durante a sessão fotográfica: «Fizemo-la com o Xeka, o Zanocello e o Bacher. Uma das coisas que eles diziam - meio a brincar, meio a sério - era: "Quero ficar já com esta camisola; vou de férias e vou usá-la". Ouvia aquelas conversas e só pensava: "Perfeito, era mesmo isso que nós queríamos"».
Uma homenagem aqui e agora
Lamentamos, caro leitor, mas damos já as más notícias: a nova camisola do Estoril Praia não estará à venda.
A decisão foi recebida, um pouco por todas as redes sociais, com alguma tristeza, mas tornou-se percetível quando António Nobre nos explicou toda a situação.
«Falámos desde cedo com o Instituto Ayrton Senna. Eles têm produtos e serviços: são uma empresa que vive disso, dessa imagem e dessa marca.
Sempre reforçámos muito - também é daí que vem a vontade deles participarem nisto connosco - que seria uma homenagem. Ao início, pensámos em comercializar, mas rapidamente percebemos que não fazia sentido.
Primeiro, porque é um negócio que é deles e o Estoril Praia não tem nada a ver.
Depois, porque, para nós, isto tem um espaço e um tempo muito definido. É uma homenagem aos 40 anos de algo que aconteceu no dia 21 de abril. Tem um período de vida muito curto.
Se fossemos produzir merchandising para vender, faríamos cinco mil camisolas e, quando as vendêssemos, íamos querer fazer mais cinco mil. Isso prolongar-se-ia no tempo e perdia o contexto de uma homenagem, cujo objetivo é relembrar o que aconteceu aqui, viver um pouco da história, partilhá-la com o mundo e agradecer pelo impacto que criou na nossa comunidade.
Para nós, não faz sentido que isto se alongue no tempo. Tem uma vida útil muito condicionada: lançámos na terça-feira, para viver sábado no jogo e para, na segunda-feira, fecharmos a homenagem entregando essa camisola no Circuito do Estoril».
«Tivemos uma avalanche de comentários de pessoas a pedir [para colocarmos a camisola à venda]. Achámos mais lógico não o fazer, sobretudo a nível da repercussão. É normal que agora existam muitas pessoas a falar de eventuais milhões perdidos ou ganhos por termos tomado esta decisão; nunca vamos saber, se fosse comercializada, se a camisola teria sequer o mesmo impacto», lembrou Bernardo.
Missão cumprida... e olhos no futuro!
O diretor criativo da Colure não terminou a entrevista sem antes salientar o sucesso da iniciativa e admitiu que, com esta viagem ao passado, realizou um sonho.
«Tenho a memória dos almoços de domingo serem seguidos por horas e horas a ver a Fórmula 1. Como vivíamos perto do Autódromo, ouvíamos os treinos aos sábados de manhã. Acredito que milhares de pessoas tenham crescido, direta ou indiretamente, a idolatrar o Ayrton Senna. Portanto, fazer este projeto tem uma grande carga emocional.
Para ser honesto, estávamos à espera que a campanha corresse bem, mas, se fosse um quarto do que realmente aconteceu, já achávamos ótimo».
Entretanto, a gravação chegou ao fim, mas a conversa continuou.
António, Bernardo e Francisco mostraram-nos os protótipos de camisolas feitas para esta homenagem. Os equipamentos que - por uma razão ou outra - não foram aprovados. E não, caro leitor, não foi por falta de encanto.
Aliás, se algum dia as gavetas do Estoril Praia ficarem cheias de testes que não viram a luz do dia, o museu do zerozero oferece-se para ser o novo lar!
Por fim, ficou uma opinião no ar, de alguém que já assistiu de perto aos desenvolvimentos para a temporada 25/26: «Acho que os próximos equipamentos ainda vão ser melhores.»
Seja pela estreia deste equipamento Senniano - este fim de semana - ou pelos da próxima época: resta-nos aguardar com entusiasmo!
