A “magia da Taça”, como muitos lhe chamam, acontece quando emblemas mais modestos se transcendem e conseguem percursos notáveis nesta competição a eliminar. A esperança dos clubes dos escalões inferiores cria toda uma mística à volta da prova e as surpresas que vão acontecendo época após época são um dos fatores mais aliciantes.

Desde a criação da competição, apenas 10 equipas fora dos três grandes conseguiram erguer o troféu, o que talvez dê ainda mais valor a estas surpresas. Neste artigo, revisitamos cinco edições da Taça em que o vencedor não estava no lote dos principais favoritos.

5.

Académica – 2011/12 – Em maio de 2012, Adrien Silva e Cédric Soares estavam emprestados pelo Sporting aos estudantes e cedo perceberam que, provavelmente, estavam do lado certo da barricada. Logo no quarto minuto, Marinho apareceu completamente sozinho ao segundo poste e fez o 0-1 para Académica, despertando a insegurança de adeptos e jogadores sportinguistas.

O Sporting assumiu o jogo após o golo sofrido, mas o esforço nunca foi suficiente para desestabilizar significativamente a defesa da Briosa, com o guarda-redes Ricardo Nunes a ser decisivo com várias intervenções fulcrais que mantiveram a margem mínima no marcador.

73 anos depois de vencer a edição inaugural da Taça de Portugal, a Académica conseguiu repetir a proeza, prolongando a seca de títulos do Sporting que se estendia desde 2008.

4.

Vitória FC – 2004/05 – Com Giovanni Trapattoni ao leme, o Benfica tinha vencido o campeonato pela primeira vez desde 1994 e parecia lançado para a dobradinha e para a segunda Taça de Portugal consecutiva.

Um Vitória FC bem mais modesto tinha terminado o campeonato na décima posição. Os comandados de José Couceiro fizeram um percurso notável na Taça, eliminando emblemas como Braga, Boavista e o homónimo da cidade berço.

Os sadinos apresentaram-se no Jamor com elevada motivação e uma grande penalidade convertida por Simão Sabrosa, logo ao minuto quatro, não foi suficiente para a esmorecer. Manuel José e Meyong apontaram os dois golos da reviravolta que chocou as águias e voltou a levar a taça para Setúbal, 38 anos depois.

3.

Estrela da Amadora – 1989/90 – Numa final surpreendente com dois óbvios underdogs, os adeptos de Estrela da Amadora e Farense (que tinha acabado de garantir a promoção à primeira divisão) disseram presente e encheram o Estádio Nacional, criando um ambiente incrível nas bancadas.

No entanto, não seria no primeiro jogo que o vencedor seria coroado: após 90 minutos pautados por um grande equilíbrio (Estrela mais forte na primeira parte, Farense melhor na segunda), dois golos no prolongamento ditaram o 1-1 final e adiaram a decisão por uma semana.

A finalíssima teve mais uma boa casa, mas foi bastante mais desequilibrada, com a equipa da Reboleira a dominar o jogo e a vencer por 2-0. Os golos foram apontados por dois jogadores muito jovens, Paulo Bento e Ricardo Lopes, que protagonizaram então a maior conquista da história da equipa tricolor.

2.

Desportivo das Aves – 2017/18 – O clima tenso que se vivia para os lados de Alvalade, após o ataque à academia de Alcochete, equilibrava ligeiramente as odds desta final, sem que o Sporting deixasse de ser o claro favorito.

Apesar de ter entrado melhor na partida, o Sporting não foi capaz de se colocar em vantagem e acabou por sofrer um golo de contra-ataque logo aos 16 minutos. A reação leonina não foi tão intensa como seria de prever e, na segunda parte, a transição ofensiva avense voltou a funcionar, com Alexandre Guedes a bisar na partida.

O golo apontado por Fredy Montero aos 85 minutos ainda reavivou a esperança verde e branca, mas o resultado ficou mesmo em 2-1. O veterano guarda-redes Quim tinha participado na final da Taça 20 anos antes (pelo Braga) e foi uma das grandes figuras da partida, levantando a primeira e única Taça de Portugal do clube de Santo Tirso.

1.

Beira-Mar – 1998/99 – Em 1999, e pela primeira vez na história, uma equipa que tinha acabado de ser despromovida do principal escalão do futebol nacional venceu a prova rainha. Depois de acabar o campeonato na antepenúltima posição, a equipa aveirense tinha uma oportunidade de ouro para transformar uma época menos conseguida numa das mais memoráveis da história do clube.

A 19 de junho, aconteceu no Jamor uma das finais da Taça mais imprevisíveis: Beira-Mar frente a Campomaiorense, a última equipa alentejana a marcar presença na Primeira Liga.

O herói do encontro foi Ricardo Sousa, filho do treinador dos aurinegros, que apontou o único golo ao minuto 70. Palatsi e Fary eram outros nomes sonantes no 11 da turma de Aveiro. O Beira-Mar chegou a jogar com menos duas unidades durante cerca de 15 minutos, mas conseguiu aguentar a vantagem e garantir um título inédito que foi efusivamente celebrado na “Veneza portuguesa”.