Nasceu no Brasil, veio para Portugal (o país do pai) com seis anos e descobriu o surf adaptado na Indonésia. O surf? O surf. Alex Santos só se aventurou na canoagem para desenvolver a musculatura dos seus braços de modo a remar mais eficazmente na prancha especial que adquiriu para, mesmo paraplégico, apanhar ondas.

A canoagem piscou-lhe o olho e daí a nada já não eram só os membros superiores que estavam dilatados de tanto exercício fazerem nas pagaiadas. A afeição à modalidade também cresceu. Alex Santos tornou-se no primeiro português, em conjunto com Norberto Mourão, a qualificar-se para os Jogos Paralímpicos quando a modalidade se estreou em Tóquio.

No Japão, o canoísta de 42 anos ficou em quinto lugar. Em Paris, não conseguiu melhorar o desempenho, terminando a regata decisiva dos 200 metros (KL1) na oitava e última posição. O diploma, o 14.º da comitiva portuguesa, estava já assegurado com o acesso à final.

Na largada, Alex Santos ficou imediatamente fora do plano televisivo que seguiu magneticamente os líderes da prova. Não era bom sinal. O ritmo imposto por Peter Kiss foi enorme, tanto que valeu ao húngaro um novo recorde paralímpico (44:55) e a medalha de ouro. Quem mais se abeirou dele foi o brasileiro Luís Carlos Cardoso (prata, 46:42). O francês Rémy Boullé ficou com o bronze (47:01).

Conseguiu um diploma para Portugal aquele que, então jovem de 16 anos, foi contagiado com um vírus que se embrenhou na medula. Alex Santos saiu do hospital com uma depressão. Em família, decidiu que o melhor era regressar ao Brasil. Passou a morar na vizinhança de uma escola militar. A cabeça não deixava de pensar na irreversível situação que o seu corpo atingira. No entanto, por razões inesperadas, mesmo tendo uma parte de si congelada, mentalmente recuperou o ânimo que lhe iluminou o caminho até Paris. Segue-se a citação ipsis verbis do que o canoísta partilhou com o jornal “Record”, em 2021, antes de se estrear em Jogos Paralímpicos.

“Tive psicólogos e psiquiatras e nada resultou. Saí do hospital com uma depressão profunda e a médica perguntou se a minha mãe tinha condições de me colocar num país tropical e foi isso que ela fez. Arrendou uma casa no Brasil ao lado de uma escola militar e eu fui para lá. Estava lá e a minha vida era casa e escola, escola, casa. Houve um dia que um vizinho chegou ao pé de mim e disse: ‘Ó português, tu não sais, não te divertes’. Eu dizia que estava em recuperação, mas ele fez com que eu fosse ao bar dele naquela noite. [...] Quando cheguei lá, o que era o bar? Era uma casa de prostituição. Havia uma coisa que me fazia muita confusão que era as pessoas me perguntarem o que aconteceu comigo, não gostava nada de falar sobre isso, fazia sentir-me um coitadinho. Tinha ainda outro problema que era pensar como é que ia arranjar uma namorada estando numa cadeira de rodas… Mas ali não aconteceu nada disso. Cheguei lá e as prostitutas trataram-me como se fosse uma pessoa normal e aí eu comecei a pensar de outra forma. Embebedei-me lá, fartei-me de beijar mulheres e acordei com três em casa, que me levaram e ajudaram-me. Depois, eu comecei a ir a esse bar todos os dias. A minha cabeça, de um dia para o outro, fez um clique. Comecei a ver que era uma pessoa normal, que conseguia ter uma vida normal. Fiquei seis meses lá, até que a minha mãe descobriu que eu frequentava esse tipo de festas e mandou-me regressar. Quando voltei para Portugal nunca mais me senti em baixo, foquei-me nas coisas e nunca mais tive depressão.”

Há várias maneiras de sair do fundo e Alex Santos encontrou a sua. O atleta nascido em Porto Seguro, no Brasil, encontrou a sua. Graças a isso, a missão portuguesa saiu enriquecida.