Alvalade preparava-se para receber um grande jogo de futebol, entre o Sporting e o Arsenal, tanto no papel como no campo, onde duas grandes equipas estavam prontas para medir forças na mítica prova milionária.
No primeiro jogo da sua carreira na Liga dos Campeões, João Pereira não conseguia esconder o nervosismo claro de quem pisa pela primeira vez um relvado “regado” de magia, história e essência de uma competição que merece todos e quaisquer elogios.
Depois de vencer o Manchester City, naquele que foi o último jogo europeu de Rúben Amorim no banco dos leões, a equipa verde e branca chegava motivada a esta partida, frente a um Arsenal perigosíssimo em quase todas as suas ações em campo. Uma equipa cirúrgica, muito bem montada, ou não fosse Arteta um “aprendiz” de Pep Guardiola, ele que curiosamente, e como disse anteriormente, não passou no teste em Alvalade.
Todos nós sabíamos que este jogo ia ser um grande espetáculo protagonizado por duas grandes equipas e por alguns dos melhores intérpretes do mundo. Realmente, o encontro não desiludiu, sobretudo da parte do Arsenal, que trouxe a Lisboa um esquema muito bem montado e a lição bem estudada, já o Sporting deixou, de facto, muito a desejar.
Debaixo de uma expetativa enorme, a turma comandada pelo recém-chegado João Pereira entrou em campo no seu esquema habitual, com Maxi Araújo a fechar o corredor esquerdo defensivo, cabendo a Marcus Edwards jogar à sua frente, numa tentativa de explorar o espaço interior deixado pelas subidas constantes de Timber.
No entanto, acredito que foi precisamente aqui que o Arsenal conquistou a vitória, devido ao facto de ter preparado muito bem a sua estratégia de ataque, mesmo expondo demasiado alguns setores do terreno.
Na primeira parte, o Arsenal faz três golos, todos devido a movimentações do seu lado direito do ataque, que funcionou numa plena harmonia entre Timber e Saka, mas que juntava muitas vezes à equação quer Odegaard, quer Rice, o que causava uma lógica superioridade, para além de baralhar a estrutura defensiva leonina. Esta questão trazia Morita na marcação ao “mago” norueguês, mas que tirava muitas vezes Gonçalo Inácio da sua posição para tentar chegar à bola mais cedo que os adversários, e a falta do central no meio causava de facto vários lances de perigo.
E o Sporting até podia ter aproveitado esta estratégia de fogo do Arsenal para virar o feitiço contra o feiticeiro, porque por várias ocasiões, vi Trincão e Quenda sozinhos frente a Calafiori no corredor direito, no entanto, é preciso conseguir transportar a bola até lá, algo que a equipa leonina não fez de forma eficaz.
A juntar a tudo isto, não me parece que Edwards fosse uma escolha particularmente inteligente para este jogo, mas claro que percebo a ideia de João Pereira e partilho da mesma, é preciso mantermos uma identidade em tudo o que fazemos, e o Sporting tem vindo a ser uma equipa destemida nas suas ações, por isso estar a entrar com mais cautelas podia ir um pouco contra a corrente daquilo que tem vindo a ser feito.
Ainda assim, acredito que teria sido mais eficaz colocar Maxi mais à frente no terreno e entrar com Matheus Reis a fechar o corredor lateral esquerdo, isto porque, entenda-se, estamos a falar de um jogo que ia exigir naturalmente muita atenção por parte do flanco esquerdo da defesa leonina, e que pedia muito mais um jogador atento à arte de defender, do que a partir para atacar.
Este jogo não era, de todo, fácil para João Pereira e a sua equipa técnica. O Arsenal é uma equipa com dinâmicas bem oleadas e um esquema tático que beneficia as movimentações e as trocas de posicionamento, o que para quem chegou há pouco tempo a um contexto desta dimensão, não é nada fácil.
Por exemplo, se compararmos esta equipa à do Manchester City, que foi derrotada recentemente em Alvalade por números tão expressivos quanto os da noite de ontem, acho muito mais difícil enfrentar a equipa de Mikel Arteta do que enfrentar a equipa de Guardiola, essencialmente pela maneira como podemos ou não prever os seus movimentos e os comportamentos que vai apresentar em campo.
Em jeito de conclusão, acredito que foi um jogo de sensações para João Pereira, foi um teste de fogo logo na primeira vez que pisa um relvado de uma competição europeia e foi uma lição de futebol puro e duro. Esta lição veio de uma equipa que está a ser trabalhada há algumas épocas sob as ideias de alguém que também andou muito tempo no relvado, mas que já se encontra num outro nível de maturidade. Apesar da pesada derrota, fica um jogo interessante para que João Pereira possa entender onde é que o adversário “magoou” mais a sua equipa e assim corrigir estes erros no futuro.