Imagina só ver o gráfico abaixo da NBA há duas semanas. Provavelmente irias sorrir. Ora, cá estamos, já com o prazo limite para as trocas na NBA ultrapassado e, após todas as conversas sucedidas entre as várias front offices, com um paradigma de competição totalmente novo, no que aos objetivos de cada equipa diz respeito.

Tivemos muita ação nos últimos dias. Várias equipas evoluíram, outras nem tanto e uma conseguiu realizar aquela que tem potencial para se tornar a trade mais icónica da história do basquetebol norte-americano. A chegada de Doncic aos LA Lakers tem tudo para adquirir esse estatuto, afinal, no momento em que ocorreu, fez-nos, até, questionar a sua veracidade.

Como tal, passarei a analisar as cinco principais trocas acordadas na última semana. Naturalmente, a primeira delas só pode ser uma.

DAL-LAL: Luka Doncic por Anthony Davis

Dallas Mavericks recebem: Anthony Davis, Max Christie e uma escolha da 1ª ronda do draft de 2029

Los Angeles Lakers recebem: Luka Doncic, Maxi Kleber e Markieff Morris

Por esta altura, não se trata de uma novidade para ninguém. Muitos continuam sem perceber o porquê de Nico Harrison ter dado “luz verde” a esta troca. Mais que isso, as dúvidas tornam-se ainda maiores quando descobrimos que foi o próprio a propor esta transação e que Luka nunca quis abandonar Dallas.

Poucos discordarão que abdicar do melhor jogador de uma equipa, meses após este a ter encaminhado de volta às finais, é das piores decisões que uma organização pode tomar. Especialmente depois de o atleta em causa ter liderado os playoffs da NBA em pontos, ressaltos, assistências, desarmes, lançamentos certeiros, triplos, lançamentos livres e minutos. Especialmente quando essa pessoa é Luka Doncic.

Todos ficaram chocados. Realmente todos. Até o próprio astro esloveno.

Agora, tudo muda para os Lakers. O futuro está assegurado, algo cuja relevância ascendia continuamente com o avanço da idade de LeBron James. Com isto, as peças deverão ser montadas ao redor de Luka, com armas capazes de concretizar com eficácia as oportunidades criadas pelo base, seja de três ou no jogo interior.

Mas olhemos para a presente época. As incertezas em redor da condição física de Anthony Davis – e outros tantos fatores – afastavam a formação de Los Angeles dos restantes candidatos ao ring. Ora, ainda assim, não coloco os Lakers no mesmo patamar de equipas como os Oklahoma City Thunder e os Boston Celtics, já com outras rotinas coletivas. Sendo assim, deverá, ainda, haver um período de adaptação para que o conjunto orientado por JJ Redick possa consolidar as suas dinâmicas de jogo.

O mesmo se aplica à turma do Texas. Claro que a perda da sua estrela pesará durante muitos anos, mas não deixaram de adquirir uma grande arma defensiva que consegue, também, registar grandes números com a bola na mão. Aliás, o star power de Doncic é tão significativo que nos esquecemos da qualidade de Anthony Davis.

Se todas as peças se coligarem devidamente, acredito que os Mavericks conseguirão chegar longe nos playoffs.

MIA-GSW: Jimmy Butler por Andrew Wiggins

Golden State Warriors recebem: Jimmy Butler

Miami Heat recebem: Andrew Wiggins, Dennis Schroder, Kyle Anderson e uma escolha protegida da 1ª ronda do draft

Jimmy Butler finalmente conseguiu o que queria na NBA. Está de saída dos Miami Heat.

Olhemos para o que cada um dos conjuntos perde: de um lado, os Warriors abandonam uma das peças fulcrais do título de 2022; do outro, os Heat acabam por fazer o melhor possível depois de serem colocados “entre a espada e a parede” por Butler. Contudo, não deixam de lamentar o divórcio com o motor que colocou Miami em duas finals, com prestações de excelência e muita personalidade pelo meio.

A escolha dos Warriors pareceu-me bastante lógica. Curry está na reta final da sua carreira, sendo o momento certo para um último esforço para vencer mais um ring. Butler, com os seus 35 anos, também saberá que corre contra o tempo. É o tudo ou nada: correndo bem, a Bay Area poderá celebrar o seu quinto título; correndo mal, clica-se no botão de reset e parte-se para uma reconstrução do plantel.

Tanto Jimmy Butler como Stephen Curry continuam a ser mais que capazes de tomar conta de um jogo pelas suas próprias mãos. Se conseguirem fazer isso mesmo, dividindo as responsabilidades entre si, quem sabe onde poderão chegar?

SAS-CHI-SAC: De’Aaron Fox e Zach LaVine de malas feitas

San Antonio Spurs recebem: De’Aaron Fox, Jordan McLaughlin

Sacramento Kings recebem: Zach LaVine, Sidy Cissoko, três escolhas da 1ª ronda do draft (2025 CHA, 2027 SAS, 2031 MIN) e três escolhas da 2ª ronda (2025 CHI, 2028 DEN, 2028 SAC)

Chicago Bulls recebem: Zach Collins, Tre Jones, Kevin Huerter e uma escolha da 1ª ronda do draft de 2025

Em mais uma transação surpreendente (especialmente pela boa forma com que os Sacramento Kings tinham saído das últimas semanas), o que fica é a forma como o projeto de rebuild dos Spurs na NBA se está a concretizar.

Desde a escolha de Victor Wembanyama, os responsáveis da equipa de San Antonio continuam a rodear o “alien” francês com excelentes companheiros para, mais tarde, lutar pelo troféu Larry O’Brien. Fox torna-se na segunda opção ofensiva da turma de Gregg Popovich, mas à lista juntam-se atletas como Chris Paul, Stephon Castle, Devin Vassell, entre outros.

Para os Bulls, os sinais de uma aposta na reconstrução do plantel são cada vez mais visíveis. Os homens de Chicago encontram-se na décima posição da conferência Este, arriscando-se mesmo a concluir a época aquando do término da fase regular. A meu ver, um rebuild seria a melhor opção para este histórico da NBA.

MIL-WAS: Khris Middleton por Kyle Kuzma

Milwaukee Bucks recebem: Kyle Kuzma, Patrick Baldwin Jr. e uma escolha da 2ª ronda do draft

Washington Wizards recebem: Khris Middleton, AJ Johnson e uma pick swap

Confesso que esta é uma trade complicada de analisar, especialmente pelas intenções dos Bucks. O único motivo que me parece justificável passa pelas condicionantes físicas que limitam o tempo que o agora extremo dos Wizards soma na quadra. Acredito que o departamento médico da formação de Milwaukee concluiu que os riscos a longo prazo sobrepõem as hipóteses de Middleton voltar a chegar a um patamar de all-star.

Em troca, os Bucks recebem um substituto que, nesta temporada, tem vindo a registar números mais risonhos (pelo menos em pontos por jogo). É importante ressalvar que os mesmos foram contabilizados num ambiente em que Kuzma tinha mais espaço para ter a bola nas mãos, algo que não se verificará na sua nova equipa. Terá, portanto, de assumir um papel mais preponderante sem bola, com Giannis e Lillard a criarem oportunidades para Kyle Kuzma finalizar. Infelizmente para estes all-stars, os 28% de Kuzma em triplos saltam à vista pela negativa.

Por outro lado, é Khris Middleton quem, agora, assume um papel mais ativo e com mais oportunidades para brilhar. Chegando aos Wizards, a equipa com mais derrotas da NBA, partilhará com Jordan Poole a liderança do plantel. Torna-se, assim, bem mais propício para Middleton melhorar as suas médias e, assim, aproximar-se da sua melhor versão que observámos em Milwaukee.

NOP-TOR: Brandon Ingram vai passar a fronteira

New Orleans Pelicans recebem: Bruce Brown Jr. Kelly Olynyk uma escolha da 1ª ronda do draft e uma escolha da 2ª ronda

Toronto Raptors recebem: Brandon Ingram

Verificam-se dois pontos de situação bastante diferentes entre as equipas que negociaram esta troca.

Em New Orleans, esta escolha começa a indicar uma mudança na abordagem para o futuro. Terminando a ligação com um dos seus craques, e sabendo das inúmeras lesões que impediram Zion Williamson de ajudar a equipa, parece chegar a hora de começar do zero. Para já, acredito que os Pelicans continuarão a avaliar o estado físico da primeira escolha do draft de 2019, bem como propostas para troca de CJ McCollum, para depois tomar uma decisão definitiva em relação ao rumo que o clube deverá tomar.

Para os Raptors, o contributo de Ingram pode ser o necessário para inverter os maus resultados da temporada. Tendo em conta o baixo número de vitórias conquistadas, atingir o play-in parece um objetivo mais realista, mas bastante complicado.

Artigo redigido por David Braga