Ao longo da vida, sempre se acaba por encontrar alguém que é muito bom no que faz e que se distingue na sua área. Distinção essa que pode ir até à diferença que provoca na vida de muitas pessoas com quem se foi cruzando. Aurélio Pereira foi, sem dúvida, um desses alguéns. Alguém ímpar no descobrimento, na captação e no acompanhamento de jovens, não só para o Sporting Clube de Portugal, mas para o futebol português e internacional globalmente.

Aurélio da Silva Pereira nasceu no dia 1 de outubro de 1947 e praticamente, teve uma vida inteira ligada ao seu clube do coração. A sua relação com o Sporting durou mais de meio século e foi de uma dedicação devota. Fez de tudo em Alvalade.

Iniciou-se como jogador nas camadas jovens, até aos juniores, altura em que se mudou para o Futebol Benfica, onde terminaria a formação na segunda metade dos anos 60. Seria neste clube que iniciaria, mais tarde, a carreira de treinador nos escalões jovens, até 1973, altura em que retornou aos leões e para nunca mais sair. Desde então, até 2019, Aurélio Pereira destacou-se como treinador de juniores, conquistando dois campeonatos nacionais e depois como coordenador de Scouting do Sporting. Este segundo posto, desempenhou-o tanto na formação como na equipa principal. Em 1988, foi responsável pela criação e desenvolvimento do departamento de recrutamento, algo muito inovador na época e que dirigiu por mais de trinta anos. Mais tarde, entre 1995 e 1997, exerceu o cargo de diretor desportivo do futebol juvenil.

Para a formação dos leões pescou imensos talentos. A lista é interminável. Durante as suas duas primeiras décadas em Alvalade, Aurélio chamou Paulo Futre, Carlos Xavier, Fernando Mendes, Lima, Jorge Cadete ou Emílio Peixe. De seguida, chamaram-lhe a atenção Luís Figo, Jorge Cadete ou Dani. Mais tarde, desde os anos 1990 até aos seus últimos tempos de serviço, foram recrutados Cristiano Ronaldo, Fábio Paim, Simão Sabrosa, Ricardo Quaresma, Nani, João Moutinho, Rui Patrício, Cédric Soares, João Mário, José Fonte, André Martins, Miguel Veloso ou Hugo Viana. Tal como observador para a equipa principal, ajudou a escolher Oceano, Ricardo Sá Pinto, Naybet ou Marco Aurélio para o plantel.

Além de muito talento detetado e de muito dele ter singrado, pelas mãos de Aurélio Pereira destacaram-se, naturalmente, três rapazes que mais tarde seriam Bola de Prata e… Bola de Ouro: Paulo Futre, Luís Figo e Cristiano Ronaldo. Os maiores diamantes de Aurélio, acabaram por vir do Montijo, Almada e Funchal.

Com todos os jovens que orientou e em especial, com aqueles com quem teve relação mais próxima, Aurélio nunca deixou de fazer o que achava melhor para os seus rapazes, mesmo que não fosse fácil. Isso define um caráter e algo que seria importante na formação dos que orientou. Desde ter excluído Futre de uma convocatória, pelo jovem esquerdino ter desrespeitado um dos seus dez mandamentos na condução dos trabalhos, até ter excluído o adolescente Cristiano de um jogo na (sua) Madeira, por não ter sido correto com uma professora da escola. Muitos lhe diriam mais tarde, que tinha sido mais importante para eles como homens do que como jogadores, algo que lhe tocava dentro e confessou-o numa entrevista recente a Rui Miguel Tovar. Foi, não um, mas o grande conhecedor do futebol de formação e deixa um legado singular, precisamente pelo seu dom particular de descobrir grandes talentos e de os orientar.

Aurélio Pereira representou, em parte, o melhor que podemos ter no futebol: visão para o seu constante renascimento. Com uma postura profissional no futebol, ele destacou-se pela visão na descoberta de jovens talentosos e com personalidade, que podiam contribuir não apenas para um clube, mas para o próprio desporto. Esse legado ficará sempre associado ao seu nome. Um autêntico padrinho dos diamantes verdes que acabaram por fazer parte do mundo. Respeitado pelos seus e pelos rivais, tratou-se mesmo de alguém especial para o mundo do futebol. Obrigado, Senhor Aurélio!