O jogo com o Bolonha – um sorridente empate a uma bola – seria, em qualquer dos cenários, 100% diferente do que o Sporting está habituado. Já Ruben Amorim, na última temporada, sofreu de um mal semelhante contra a Atalanta (pelo menos um degrau acima) e o próprio Benfica já havia batido de frente com os constrangimentos que uma equipa como a orientada por Vincenzo Italiano provoca. E o Sporting sofreu neste cenário.
Para um grande português, 90% dos jogos têm um contexto semelhante: cenários de posses prolongadas, blocos baixos a desmontar e espaço a criar. Esta rotina cria problemas quando o adversário adota uma estratégia radicalmente diferente e, perante isto, o nível não precisa necessariamente de subir. O Bolonha não tem uma equipa melhor que o Sporting, não tem jogadores melhores que o Sporting, não tem um jogo melhor do que o Sporting. É, simplesmente, muito diferente o que obriga a ter em conta detalhes aos quais não se costuma prestar atenção e comportamentos esquecidos na maioria dos jogos.
O Bolonha pressiona a todo o campo, com referências homem a homem e encaixes individuais e faz, como Rui Borges explicou, proveito da capacidade física e atlética para reduzir o jogo coletivo a 10 duelos individuais ao redor do campo. Não é propriamente difícil de entender como jogam os italianos, nem o é identificar como os superar: mobilidade, atração, utilização das entrelinhas e dos espaços mortos e predominância dos contramovimentos para atacar a profundidade. O problema está em criar estes cenários numa equipa – como qualquer equipa portuguesa – que raramente tem, sequer, de se esforçar para ter bola.
O jogo foi pautado pelas referências individuais e pelos duelos, agressivos, físicos, e raramente a cair para o Sporting. Só quando os leões criaram pequenas sociedades em campo, juntando os médios no corredor para combinar de forma curta e encontrar o espaço, criou perigo, numa primeira parte em que, apesar da bola, a equipa de Rui Borges raramente soube o que fazer com ela.
Com Debast no meio-campo, o Sporting perde um jogador capaz de jogar dentro do bloco adversário. O belga, lateralizando sobre a esquerda para construir e ver o jogo de frente, oferece soluções no passe, mas em jogos deste nível, acaba por ser uma limitação. Pela agressividade dos duelos no meio-campo, com o Bolonha a travar – em falta, muitas vezes – os médios dos leões, impedindo-os de se virar de frente para o jogo, foram raras as vezes em que o Sporting limpou a pressão e conseguiu lançar os homens da frente.
Mesmo quando tal se sucedeu, a equipa de Rui Borges foi traída pelos poucos movimentos certos dos homens da frente. Seja por cansaço – evidente, numa fase em que as lesões se acumulam e muitos jogadores estão fora ou totalmente fora de ritmo –, por uma adaptação que não deu certo a uma posição diferente (Geny Catamo perde ao jogar por dentro, fugindo do papel de destabilizador) ou limitações individuais (Conrad Harder não é Viktor Gyokeres a jogar tão longe da baliza), não houve capacidade para, de forma continuada, agredir a última linha.
Na segunda parte, as mudanças ditaram o ritmo do jogo. O Bolonha foi tirando os amarelados, num jogo que exige constantemente faltas para impedir transições – já que, defensivamente, há espaço por todo o lado – e mantendo os índices de agressividade nos duelos. O Sporting, venceu o jogo a partir do banco, com a entrada de dois pupilos que estão a marcar a temporada.
Geovany Quenda é um jogador mais fino com bola, mais associativo e capaz de gerar combinações a partir da esquerda, o cenário de que o Sporting necessitava para resguardar a bola e, tal como nos melhores lances da primeira parte, permitir superar pressões com a sobrecarga de jogadores no corredor. No mesmo sentido, João Simões entrou em campo para ser o melhor jogador que o pisou ou, pelo menos, o mais influente.
O dinamismo com que se movimenta, a capacidade de pisar várias alturas de campo e a facilidade com que, num toque, limpa a jogada e ganha espaço para progredir com bola ou através do passe, desmontou o sistema defensivo do Bolonha. O lance do golo do empate, com a aproximação dos dois jogadores pela esquerda e com a condução do médio traduzem as melhorias – residuais, ainda assim – do Sporting na segunda parte.
Os minutos fora do top-24 traduzem as dificuldades do Sporting nesta fase da época. As lesões descortinaram um plantel muito curto para atacar todas as frentes. Iván Fresneda teve o pior jogo dos últimos tempos e voltou a deixar mostras de que, até ao final do mercado, tem de chegar um lateral com outra capacidade ofensiva e outra capacidade física nos duelos defensivos. Zeno Debast só poderá ser solução a médio diante de blocos baixos e de pressões pouco agressivas. Geny Catamo tem limitações técnicas para ser mais do que um desestabilizador e, num 4-4-2 ou 4-3-3 terá sempre mais impacto a partir do banco. A ansiedade de Conrad Harder em marcar pode ter-se dissipado, mas o dinamarquês está longe de oferecer as mesmas soluções coletivas de Viktor Gyokeres, principalmente a jogar longe da baliza. Perto da área adversária, consegue jogar de costas, em apoio, atacar a linha defensiva em diagonais curtas muito precisas e procura constantemente a baliza. Mais afastado desta, tem menos recursos para ser decisivo.
Rui Borges terá, depois deste fim de semana, uma semana limpa para recuperar jogadores e trabalhar pontos específicos do seu modelo de jogo (o espaço nas costas dos médios é lacuna deste Sporting). O mercado, que fechará em breve, poderá trazer um ou dois ajustes a um plantel que, construído curto, terá sempre limitações quando duas ou três lesões se acumularem. O tempo e a sua passagem e o mês de fevereiro – onde se jogam os playoffs da Champions League – poderá ter impacto na época do Sporting e no planeamento até maio.
BnR na Conferência de Imprensa
Bola na Rede: Em primeiro lugar queria perguntar se era importante para a sua equipa condicionar a primeira fase de construção do Sporting, pressionando não só os seus médios mas também os seus centrais, e depois também tentar condicionar ao máximo as saídas pelos flancos. E depois, gostaríamos de saber se a saída prematura do Lewis Ferguson condicionou, de alguma forma, a estratégia que montou para este jogo.
Vincenzo Italiano: Sabíamos que todo o jogo do Sporting passa pelo Hjulmand, com o Trincão entrelinhas. Procurámos pressionar ao máximo e fizémo-lo bem. Os jogadores tiveram uma boa exibição. Se deixas o adversário dominar o jogo é difícil, conseguimos travar o adversário. A saída do Ferguson estava prevista, o Moro tem capacidade de verticalizar e trabalhou bem. Esperemos que o Lewis tenha sido capaz de travar a tempo.
Rui Borges: Infelizmente não nos foi concedida a possibilidade de fazer qualquer questão ao treinador do Sporting.