A ansiedade é algo terrível. Quando apanha o cérebro e flui para o corpo, torna-se dramático e pode paralisar qualquer um. Pior ainda se se estende por longo período, como era o caso deste FC Porto. Os dragões vinham de quatro jogos sem ganhar e, pelo meio, goleada na Luz e afastamento da Taça de Portugal. Mesmo com o tónico de terem visto o Santa Clara ganhar em Alvalade e, com isso, poderem reduzir para três pontos a diferença para o líder, havia ansiedade e nervosismo. E só através de cinco minutos deliciosos, a abrir a segunda parte, o FC Porto espantou os fantasmas e a desleal ansiedade, embora não fizesse esquecer tanta monotonia ao longo dos 90 minutos.
Talvez pela nada habitual série de resultados negativos, os jogadores do FC Porto entraram em campo possuídos por fantasmas recentes, sem capacidade para colocar em campo um pingo de talento que fosse. Tudo demasiado previsível, sem chama, sem rasgo, sem velocidade, sem quase nada. Era, no fundo, fotocópia perfeita dos piores momentos dos últimos jogos.
Os espectadores mostravam impaciência, os jogadores estavam nervosos e ansiosos e o Casa Pia mantinha-se tranquilo na defesa da baliza de Patrick, sem necessidade de colocar dois muros de betão na frente do seu guarda-redes, como acontecera há dois meses, em Alvalade. Além disso, por duas vezes até ao intervalo, ainda teve tempo e espaço para assustar Diogo Costa.
Houve uma cabeçada de Perez para defesa apertada de Patrick Sequeira na primeira parte, sim, que poderia ter desbloqueado o jogo muito mais cedo, mas era quase sempre fogo de artifício e nenhuma verdadeira explosão. Pepê sem rasgo, Galeno sem rasgo, Samu demasiado quieto e só Fábio Vieira, nalguns lançamentos para a área, criava algum perigo e mostrava ponta de rasgo. O Casa Pia, entretanto, respirava. Respirava por não estar submetido ao sufoco por que passara, por exemplo, em Alvalade, há cerca de dois meses.
De repente, após a longa e enfadonha monotonia do primeiro tempo, os golos encantaram o Dragão e soltaram, por fim, os jogadores do FC Porto. Cinco minutos deliciosos, primeiro a aproveitar erro grave de Kluivert para o 1-0 de Fábio Vieira e depois, num contra-ataque velocíssimo, com Nico González a iniciá-lo e Samu a conclui-lo para o 2-0, após troca de bola com Pepê. Deliciosamente simples, deliciosamente bonito.
O 3-0 estava em cima da mesa e João Pereira, treinador do Casa Pia, decidiu mexer e trocou três de uma assentada: Cassiano por Svensson, Nuno Moreira por Henrique Pereira e Beni por Rafael Brito. A ideia era clara: estancar a força do FC Porto e tentar, de forma um pouco mais ousada, criar perigo.
Mas não teve resultado imediato. Patrick Sequeira, após jogo muito bem conseguido, quis controlar a bola como se fosse médio de alto talento, apareceu Galeno, mas o luso-brasileiro atrapalhou-se com a oferta do guarda-redes e falhou o 3-0.
A ideia de João Pereira de atacar com maior convicção a baliza de Diogo Costa, mas só viria a ter algum efeito em cima do minuto 80 quando, na sequência de um canto, Tchamba, de cabeça, obrigou o guarda-redes a enorme desvio para a barra e da barra para fora.
O FC Porto sentiu o toque e, até final, nada mais permitiu ao Casa Pia. Com estes três pontos, os dragões regressam ao segundo lugar a três pontos do Sporting e voltam a estar dependentes apenas de si próprios para chegar ao título. Para quem estava dominado por ansiedade, este 2-0 é como um calmante de que tanto estavam necessitados.