Há compromissos que pela pouca importância de que se revestem podem ser cancelados caso, antes de se sair de casa, uma espreitadela para o exterior trouxer más notícias sobre o estado do tempo. Mais azar têm aqueles que, devido ao impossível reagendamento de assuntos preponderantes, não compatíveis com o temor provocado por uma chuva vigorosa, um vento forte ou um frio petrificante, terão de seguir o plano traçado antes da verificação dos desafios climatológicos.

O impreterível Nacional-FC Porto estava dependente das circunstâncias momentâneas. Sabe-se por influência de experiências anteriores, uma delas bastante recente, que a construção do estádio da Choupana parece ter sido autorizada através da assinatura de um contrato em que as letras pequenas elucidativas das rotineiras aparições de nevoeiro foram ignoradas pelos incumbentes do caso.

Consultando a futurologia para a região do Funchal, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) elencava uma série de previsões para esta sexta-feira, 3 de janeiro. No topo dos reparos, indiciando a certeza quanto à concretização do fenómeno, estava um alerta: “Céu geralmente muito nublado.”

GREGÓRIO CUNHA

A cúpula a embaciar o cenário, deturpava a visão dos acontecimentos. O FC Porto até tivera a decência (imposta pelos regulamentos) de usar o equipamento alternativo, oportunamente tingido por um berrante laranja, ameaçador do esfumado manto. Só que em dias como este não há armadilha montada que afugente a bruma.

Do que nos foi possível perceber do futebol praticado durante breves instantes dentro da neblina – e foi muito pouco, quer o que conseguimos entender, quer o tempo que a bola esteve a rolar – Rodrigo Mora, a estrela em ascensão nos dragões que mereceu a terceira titularidade consecutiva, deu uma valente pisadela no tornozelo de Djibril Soumaré. Não fosse a lateralidade do impacto e, possivelmente, aos quatro minutos estaria terminada a sua participação no inextricável desafio em que Vítor Bruno até devolveu o estatuto de titular a Alan Varela.

Com o contexto plenamente desfocado, Tiago Martins, também ele fardado com uma camisola fluorescente apropriada para a ocasião, interrompeu a ação pela primeira vez. Uma aberta deu esperanças e a bola voltou a rolar, mas era uma quimera. Afinal, não havia mesmo terra à vista e toda a gente, aos 15 minutos, regressou aos balneários com nenhumas expectativas de que este malfadado jogo se viesse a concluir.

Imaginando-se que ninguém tivesse faróis que dissipassem tamanha obstrução de um sentido tão valioso como aquele a que os olhos se prestam, a possibilidade de um adiamento vinha sendo antecipada. Uma hora depois, chegou a confirmação: os restantes 75 minutos só serão disputados no dia 15, às 17h.