
O fraco desempenho de Liam Lawson nas duas primeiras corridas da temporada de Fórmula 1 serve como mais uma evidência da tese de que a Red Bull constrói o seu carro única e exclusivamente em torno das necessidades de Max Verstappen.
O piloto neerlandês tem um estilo de pilotagem muito específico, que exige uma dianteira muito forte em detrimento da estabilidade do eixo traseiro. O estilo de condução envolve uma travagem antecipada nas curvas, o que gera subviragem, mas esta acaba por ser compensada pela dianteira forte que Verstappen exige. Assim, o carro, na realidade, autoequilibra-se, o que permite ao neerlandês ser tão preciso e suave nas curvas como manter uma velocidade mínima mais elevada nas mesmas.
Tendo em conta os resultados e o desempenho de Verstappen nos últimos anos, é perfeitamente compreensível a razão pela qual a Red Bull constrói o seu carro inteiramente em torno das necessidades do tetracampeão do mundo. Isto, claro, permite ao neerlandês superar em muito as capacidades do carro e, muitas vezes, registar resultados que de outra forma seriam uma miragem.
Ao mesmo tempo, os companheiros de equipa são frequentemente deixados à sua sorte com um monolugar que não se adequa aos respetivos estilos e, consequentemente, os resultados tornam-se bastante dececionantes. Isto atrai-lhes a ira dos responsáveis máximos da equipa, que não hesitam em substituir rapidamente o seu segundo piloto na esperança de encontrarem alguém que consiga lidar com o carro concebido à medida de Max Verstappen.
Tudo indica que Liam Lawson será o próximo piloto a ser substituído pelo conselheiro Helmut Marko e pelo CEO Christian Horner, o que poderá acontecer muito em breve. O destino do neozelandês será decidido nos próximos dias e existe a possibilidade de perder o lugar na Red Bull já para o Grande Prémio do Japão, na próxima semana.
Se isso acontecer, será o quinto piloto a deixar a equipa de Milton Keynes desde que Max Verstappen chegou. Até ao momento, as vítimas do neerlandês foram Daniel Ricciardo, Pierre Gasly, Alex Albon e, por último, Sergio Pérez, aquele que mais tempo sobreviveu (quatro anos) antes de ser substituído por Lawson no início da temporada de 2025.
A política da Red Bull assemelha-se muito àquela que a Honda adotou no MotoGP no final da década passada. Na altura, os japoneses construíam a sua mota inteiramente em torno das necessidades de Marc Márquez, o que trouxe excelentes resultados, até o espanhol se lesionar, no início da temporada de 2020.
A lesão de Márquez comprovou o quão dependentes dele eram na Honda. Os outros pilotos da marca japonesa dificilmente chegavam às posições da frente e o desenvolvimento da mota ficou sensivelmente para trás das marcas europeias, ainda que aqui a pandemia de coronavírus também tenha sido um fator determinante, dificultando significativamente a colaboração entre as fábricas no Japão e as equipas na Europa, o que também aconteceu com a Yamaha e, em menor grau, com a Suzuki, antes da retirada do fabricante de Hamamatsu.
O que aconteceu com a Honda, no entanto, demonstra o que pode acontecer a uma equipa se esta depender inteiramente de um único piloto. Ainda mais porque, desde meados da temporada passada, a força da Red Bull não é o que era antes, e a principal causa terá sido a saída de Adrian Newey, apesar de os líderes da Red Bull continuarem a afirmar o contrário.