O início do Martin Anselmi ao comando do FC Porto não se pode dizer que tenha sido positivo. No entanto, a missão era difícil. Um plantel sem grande cultura de vitória, jogadores descrentes no que podiam fazer e uma resignação que até há bem pouco tempo não era visível nos azuis e brancos. Em 2024/2025, parece uma realidade já bem patente.

Perante o cenário financeiro herdado da direção anterior e a falta de garra, de “fibra”, que durante anos foi característico do FC Porto, não se preveem anos férteis em títulos. O jogar à Porto está desaparecido…

Contudo, centramo-nos nas ideias táticas do treinador argentino.

Defesa sem controlo

Anselmi colocou a equipa do FC Porto a jogar em 3x4x3, com este formato a exigir muito do guarda-redes, com a bola nos pés, algo que Diogo Costa tem, e dos centrais. Um dos defesas tem mais liberdade para subir no terreno e existem os corredores para cobrir por estarem mais expostos perante a existência de alas, em vez de laterais.

No entanto, os centrais do FC Porto parecem carenciados de liderança, para lhes incutir assertividade no controlo do movimento ofensivo adversário. Exemplo paradigmático foi o golo do empate do Vitória SC (1-1) no Dragão, em que uma perda de bola no ataque portista deu origem a uma transição rápida dos vimaranenses. Tiago Djaló podia e devia ter travado o lance antes da grande área.

Já nas alas, Francisco Moura foi um dos maiores beneficiados do novo sistema tático. Com mais espaço e mais adiantado no terreno, o lateral/ala esquerdo ganha liberdade para assistir municiar os avançados com os seus cruzamentos. Zaidu aparenta ser carta fora do baralho e a sua velocidade, nas transições rápidas, especialmente nos 10-15 minutos de jogo, não é assim aproveitada.

Por outro lado, Moura parece ser dos poucos jogadores portistas, com potencial para concretizar de meia distância, característica em défice desde a saída de Nico Gonzalez para o City. Do lado contrário, João Mário está a desbaratar algum do crédito que vinha das épocas anteriores. O internacional português parece, tal como à equipa, com défice de confiança e, por várias vezes, está desposicionado e em desacordo com os movimentos dos companheiros. Não é de estranhar, portanto, que a aposta em Martim Fernandes se torne mais frequente.

Meio-campo despido

No meio-campo do FC Porto, a saída de Nico Gonzalez fez mossa à equipa e a equipa está dependente de Eustáquio, alguém com qualidade no toque de bola, mas sem capacidade no 1×1 e pouco intenso para o ritmo de jogo exigido. Falta ainda capacidade de finalização, aspeto que Gonzalez aprimorou no Dragão.

Alan Varela está a voltar à titularidade, mas não está ao nível da época de estreia. A distância entre o setor defensivo e o intermédio é tão grande que Varela não consegue tapar os buracos e não está fisicamente no seu auge. André Franco parece ser uma solução de recurso, só que o seu perfil é mais ofensivo, deixando muito a desejar no posicionamento em movimento defensivo, nomeadamente nas marcações.

Tomás Peréz pode até ser uma surpresa no futuro, para libero, ou no médio campo defensivo. Contudo, o jovem argentino não está ainda pronto para agarrar a titularidade, precisando de tempo de adaptação para adquirir intensidade e conhecer os movimentos pretendidos por Anselmi.

Ataque sem finalizadores

No ataque, o cenário não é também o melhor. Samu está em défice claramente e parece mais desapoiado no centro, pelos médios, e melhor controlado pelos defesas adversários. Distante da baliza e perante um ou dois adversários, o avançado espanhol é facilmente desarmado. Por isso, é urgente que o treinador do Porto crie soluções para colocar o ponta de lança mais próximo da grande área adversária a receber a bola.

Gul tem um processo de maturação a fazer, um empréstimo não cairia nada mal, se os recursos fossem outros. A saída de Fran Navarro justifica-se mais por razões financeiros do que potencial para jogar. Não se percebe a falta de oportunidade do atual avançado do Braga, nos portistas. O antigo avançado do Gil Vicente tinha tudo para, pelo menos, pressionar Samu para garantir a titularidade. A capacidade de finalização não lhe falta, já à equipa azul e branca…

Nos corredores ofensivos, Gonçalo Borges tem finalmente oportunidades para ganhar a titularidade. Contudo, o internacional jovem português perde-se em floreados nos lances, ao querer mostrar a sua técnica e as oportunidades de golo não surgem. Falta intensidade ao jovem talento português. O grande reforço, à partida, para esta temporada, era Fábio Vieira.

O extremo tem uma qualidade técnica que permite definir jogos, em meia dúzia de segundos, algo muito útil, porém o internacional jovem português passa a maior parte do tempo ao lado do jogo e a construção do jogo ofensivo ressente-se. Um dos reforços de inverno, William Gomes tem muito talento para ser explorado, só que Anselmi parece ainda não querer apostar nele, possivelmente para o adaptar ao futebol português. O extremo tem técnica no 1×1 e boa capacidade de cruzamento, certamente será o titular em breve, num dos corredores.

Pepê é um paradigma do antes e depois da equipa portista, estando a anos-luz do internacional brasileiro que brilhou nas primeiras épocas em Portugal. A cabeça parece não estar lá e as perdas de bola sucedem-se perante a falta de objetividade com o esférico nos pés.

Namaso já não é de agora, não parece encaixar na equipa. Sem profundidade nos corredores, é na posição de segundo avançado que parece render mais, mas falta-lhe golo.

Por último, Rodrigo Mora é um dos maiores talentos saído do Olival, nos últimos anos. O primeiro toque, o 1×1 e a velocidade de execução são características do virtuoso jovem, mas não tem ninguém para o orientar no onze.

Com parcos recursos financeiros e a Liga dos Campeões, novamente longe das cogitações, parece ser um dos trunfos para o equilíbrio financeiro do clube. Sorte do clube que ficar com ele.