Regra número um sobre despedir pessoas? Nunca dizer a palavra despedir. O Manchester United, por exemplo, chamou-lhe “plano de transformação”, eufemismo para anunciar que dezenas de pessoas vão ficar sem trabalho no clube.

Em outubro de 2024, soube-se em Inglaterra que Alex Ferguson iria deixar de pertencer aos quadros dos red devils no final da época. A figura lendária que treinou o Manchester United durante praticamente três décadas ainda desempenhava funções enquanto embaixador global. Para o fazer, recebia dois milhões de libras por ano. Foi uma das primeiras medidas tomadas por Jim Ratcliffe quando, há um ano, se tornou dono minoritário do clube e iniciou uma reestruturação financeira com medidas pouco populares.

No Manchester United, se Alex Ferguson não está a salvo, ninguém está a salvo. No último verão, foram despedidos 250 trabalhadores num esforço para poupar 45 milhões de libras por ano, de acordo com o “The Athletic”. No entanto, o esvaziamento do staff não terminaria aí.

Esta segunda-feira, dois dias depois da equipa de Ruben Amorim ter empatado com o Everton (2-2), resultado que não ajudou a acalmar a crise desportiva. Omar Berrada reuniu-se com os funcionários. O diretor-executivo, revela o “The Guardian”, pediu desculpa por ter dito em setembro que não existiriam mais cortes no pessoal. O passo seguinte foi anunciar um novo despedimento coletivo e outras medidas de redução de custos.

O Manchester United comunicou oficialmente que entre 150 a 200 postos de trabalho vão deixar de existir como parte do “plano de transformação” para tornar “o clube lucrativo de novo” após “cinco anos consecutivos de perdas, desde 2019”. A nova vaga de despedimentos, estima o “The Athletic”, pode servir para poupar até 36 milhões de libras. Até ao final de 2024, o Manchester United tinha o maior staff da Premier League com 1.140 elementos. O mais provável é que deixe o ser após a nova redução.

Os prejuízos “não podem continuar”, disse Berrada citado no comunicado oficial. “As nossas duas principais prioridades são ter sucesso em campo, para os adeptos, e melhorar as nossas infraestruturas. Não podemos investir nesses objetivos se estamos continuamente a perder dinheiro.”

Com oito vitórias, seis empates e 12 derrotas, o Manchester United está afogado no 15.º lugar da Premier League, longe dos lugares europeus. As principais aspirações passam pela FA Cup e pela Liga Europa, que pode valer a qualificação para a Liga dos Campeões da próxima época e com isso a angariação de uma preciosa fortuna graças à entrada na competição e à valorização dos contratos de patrocínio.

Ruben Amorim considera “importante que os treinadores e os jogadores não ignorem” os despedimentos que estão a acontecer, colocando a “responsabilidade” na equipa principal. “Há pessoas a perderem o seu trabalho, temos que perceber que o maior problema é a equipa de futebol. Nós gastamos dinheiro e não estamos a ganhar. Também não estamos na Liga dos Campeões e então as receitas não são as mesmas”, afirmou o português.

Neste momento, tudo conta. Os funcionários do estádio vão deixar de ter cantina à disposição onde até agora podiam almoçar. Em vez disso, para reduzir custos de cerca de um milhão de libras por ano em refeições, terão fruta à disposição.

Nos últimos cinco anos, o Manchester United teve prejuízos de 373 milhões de libras. Esta época pouco tem ajudado a reerguer a saúde financeira do clube. Só pelos despedimentos de Erik ten Hag e Dan Ashworth, diretor-desportivo que recrutou Amorim e que deixou o clube ao fim de cinco meses, teve que pagar 14,5 milhões de libras.