
Ainda se lembra do primeiro dia em que começou esta caminhada na Liga?
Recordo-me perfeitamente do primeiro dia em que entrei na Liga, até porque vinha de uma área completamente diferente. Vinha do Ministério dos Negócios Estrangeiros para uma área completamente desconhecida e nova. Foi no dia 2 de agosto de 2000. É uma data que guardo na minha memória muito bem guardada, porque a ansiedade de abraçar um novo projeto era grande. Queria muito trabalhar no Porto. Estava na parte internacional no Ministério dos Negócios Estrangeiros e cheguei à Liga para fazer a interligação entre as ligas e a própria UEFA. Foi por isso que eu fui contratada naquela altura, e vinha com muita expectativa para um mundo completamente novo.
E como é que foi essa adaptação ao mundo novo?
Eu acho que a adaptação foi boa. O facto de vir de uma área diplomática ajudou, e ajuda muito, porque nós somos muito resilientes. Somos muito educados, somos muito formatados. Acho que essa resiliência, essa tranquilidade que nós temos, e que temos que ter, essa forma diplomática de nos posicionarmos, de trabalharmos, acaba por ser um fator muito importante no meu dia a dia. Vim à descoberta do que era o futebol. Não tenho receio de encarar e de enfrentar novos desafios. Com muito trabalho, muita determinação e prescindindo de muitas coisas, que não me importo de prescindir. Tenho muito orgulho no caminho que fui trilhando, e nas pessoas com quem me fui cruzando e que tive a felicidade de ter junto de mim. Depois fruto daquilo que é o meu trabalho, a minha determinação e foco, fui conseguindo ir trepando dentro da organização e tive pessoas que me foram valorizando ao longo de toda esta caminhada. Tive aquela sorte, que eu digo que dá muito trabalho, portanto trabalhei verdadeiramente muito e continuo a trabalhar muito. Eu gosto imenso de trabalhar. Sou uma workaholic por natureza. E, portanto, devagarinho, com calma, serenidade, muito trabalho, muito respeito, muito carinho, acho que cheguei aonde estou atualmente.
Não tenho receio de encarar e de enfrentar novos desafios.
Nessa diplomacia que é necessária para gerir este desporto rei em Portugal, comandado por homens, a sensibilidade feminina também tem ajudado a encontrar consensos?
Confesso-lhe, e até pode parecer estranho, mas nunca senti de ninguém qualquer tipo de afastamento pelo facto de ser mulher. Penso que estas características que nós mulheres temos da resiliência, da diplomacia, da postura, do respeito que se vai criando nos traz até aqui. E é de facto com muito orgulho que hoje estou aqui a liderar a Liga Portugal neste período de transição. É preciso querer. Nós somos uma atividade económica com uma dinâmica diferente, e depois encaro os desafios como oportunidades.
Nunca senti de ninguém qualquer tipo de afastamento pelo facto de ser mulher
Se lhe pedir para olhar para trás, para o que era o futebol português quando começou na Liga, o que me diz?
Era um futebol diferente, muito menos profissionalizado, mas adequado à altura em que se vivia. Depois as estruturas começaram a corresponder a outro tipo de necessidades e começou a haver outro tipo de profissionalização. A própria Liga posicionou-se como uma atividade econômica, que de facto é, e a reclamar o seu espaço junto das outras atividades económicas. Entrei numa Liga completamente diferente, onde utilizar uma videoconferência era impossível. Onde os papéis funcionavam muito, e neste momento vivemos numa Liga completamente desmaterializada e informatizada, tecnologicamente evoluída, com uma perspectiva de negócio e uma dimensão gigante, ao nível das maiores empresas cotadas em bolsa. Temos requisitos muito apertados, onde o compliance é uma palavra que faz parte do nosso dia a dia. Onde não conseguimos viver sem um plano de atividades, sem um orçamento e sem um controlo económico e financeiro. Palavras que não existiam naquela altura e que nesta altura são fundamentais.