Em outubro de 2022, a vida de Simona Halep mudou. A tenista romena, uma das melhores da sua geração, testou positivo a Roxadustat, uma molécula que estimula a produção de glóbulos vermelhos, sendo condenada a quatro anos de suspensão. Aos 31 anos, o castigo era mais uma sentença de reforma para a antiga líder do ranking WTA.
No entanto, Halep não parecia disposta a aceitar a pena, pegar nos cerca de €40 milhões que angariou em prémios de participação ao longo da carreira — em toda a história da modalidade, só as irmãs Williams ganharam mais em prize money — e partir para uma descansada vida fora dos courts. “É uma injustiça. Irei provar a minha inocência”, foi a primeira reação da mulher que ganhou Roland-Garros em 2018 e Wimbledon em 2019.
Arrancou, assim, uma longa batalha judicial. A meio dessa cruzada, em 2023, Halep disse estar a viver “o pior ano” da sua vida. Suspensa preventivamente desde 7 de outubro de 2022, a grande vitória de Simona surgiria no Tribunal Arbitral do Desporto (TAD), na Suíça.
Em março de 2024, a tese da defesa da romena foi dada como comprovada. O TAD decidiu que o teste positivo provinha de um “suplemento contaminado”, sendo as posteriores anomalias no passaporte biológico da jogadora uma consequência de uma “operação cirúrgica”. Assim, a pena foi reduzida de quatro anos para nove meses, o que significava que deveria ter terminado em julho de 2023, bem antes de março de 2024, quando se autorizou o regresso à competição. Halep foi, ainda, indemnizada em €21 mil.
“Este processo foi um teste à resiliência. O triunfo da verdade é uma vingança agridoce que, ainda que chegando tarde, é imensamente gratificante”, escreveu a tenista ao conhecer o veredicto.
O calvário de Halep não terminaria, ainda assim, com o regresso aos courts. Simona jogou em março, em Miami, perdendo contra Paula Badosa, mas a ausência da competição passou-lhe fatura, com diversos problemas físicos. Em maio, tentou voltar num challenger em Paris, mas retirou-se por lesão.
Depois de mais cinco meses afastada da competição, a romena, com 33 anos, voltou a jogar no WTA 125 de Hong Kong, onde pareceu recuperar o sorriso que estava ausente há dois anos.
Na ronda inaugural do torneio para o qual recebeu um convite para jogar, Halep, afundada na 1130.ª posição do ranking WTA, bateu a australiana Arina Rodionova (114.ª da hierarquia), por 6-2, 4-6 e 6-4. “Não consigo expressar por palavras o que sinto por estar novamente a competir e a ganhar, depois de tanto tempo, na modalidade que amo. Obrigada a todos pelo vosso apoio e amor”, expressou a romena, para quem ganhar 778 dias depois “significava o mundo”.
A última vez que a romena estivera do lado vencedor da rede fora a 16 de agosto de 2022, em Cincinnati, contra Potapova . Demasiado tempo para quem, entre 2014 e 2022, esteve 16 vezes entre as oito melhores de torneios do Grand Slam, incluindo a presença em cinco finais de majors.
Na segunda ronda de Hong Kong, já esta quinta-feira, a inatividade de Halep notou-se naturalmente. A romena perdeu por 6-2 e 6-1 contra a russa Anna Blinkova.
As batalhas judiciais, no entanto, não terminaram ainda para Halep, que processou a Quantum Nutrition, empresa de suplementos alimentares que a tenista acusa ser a responsável pela sua suspensão. Simone pede uma indemnização por danos morais de €9,3 milhões, argumentando que a empresa foi negligente ao rotular o suplemento.
A antiga número um do mundo tomava o suplemento por orientação de Patrick Mouratoglou, seu treinador à data e ex-técnico de Serena Williams. Mouratoglou já afirmou sentir-se responsável por fornecer o produto a Halep, alegando que esta foi “uma vítima”. À Reuters, o fundador da empresa de suplementos disse que a Quantum Nutrition foi transformada num “bode expiatório” neste processo.