
Na sequência da polémica sobre os serviços prestados por uma empresa detida pela sua mulher e filhos e da qual já foi sócio, Luís Montenegro falou ao país na residência oficial, em São Bento. Face às suspeições de que é alvo, o primeiro-ministro anunciou que vai avançar para uma moção de confiança na Assembleia da República.
Como funciona?
Os deputados presentes em sessão que terá lugar na Assembleia da República votam uma moção de confiança apresentada pelo governo que, caso seja rejeitada, provoca uma demissão automática do mesmo. Em onze moções desse género, apresentadas desde o 25 de abril, apenas uma provocou a queda do executivo em 1977.
O que disse Montenegro?
O primeiro-ministro vincou que criou, em conjunto com os filhos, uma empresa que presta serviços de consultoria a clientes ocasionais e permanentes, entre as quais a Solverde ou a Rádio Popular, que tomam «decisões que impactam meio milhão de pessoas». Apesar de afirmar que deixou qualquer atividade ligada tanto à Spinumviva como à advocacia, desde que regressou à vida política, Montenegro anunciou que a consultora passa a ser detida exclusivamente pelos seus descendentes.
Fez ontem uma semana que a asse vida profissional e matrimonial. Prestei todos os meus esclarecimentos, decidi mostrar os meus rendimentos nos últimos quinze anos, dei o enquadramento da sua concessão e atividade, expliquei a sua faturação e clientes ocasionais e permanentes, qualificação experiencia e especialização na sua estutura e trabalhadores. «Para alguns os esclarecimentos não foram nem serão suficientes para que o assunto nunca se encerrasse» acusou o primeiro-ministro, que aproveitou a ocasião para visar o Partido Socialista.
«Nada disto tem a ver comigo, com a minha família, com a política Isto é trabalho puro, com responsabilidade. Por mais que se explique isto, nunca vão entender. Se o nosso sistema político não aceita a conciliação entre a vida pessoal e a vida política vamos ter políticos sem passado nem futuro profissional. Nunca cedi a nenhum interesse particular face ao interesse público e geral e assim vai acontecer. Não cometi nenhum crime», vincou, visivelmente desagrado.
Montenegro puxou dos galões ao relembrar as medidas já apresentadas pelo seu executivo para melhorar a saúde financeira do Estado, combater a crise à habitação e apoiar os vários grupos etários. O primeiro-ministro reforçou que, dado o contexto de tensão internacional, criar uma crise política em Portugal «deve ser evitável.»
Luís Montenegro foi eleito primeiro-ministro em março do ano passado.