Com o eco dos motores do Grande Prémio ainda a dissipar-se nas colinas de Jerez, a segunda-feira trouxe um cenário contrastante: arquibancadas vazias, boxes a meio gás e um ambiente calmo, ideal para testar, experimentar e evoluir. Foi neste pano de fundo que Marc Márquez voltou a fazer soar o nome da Ducati, ao liderar a tabela de tempos no primeiro teste oficial da temporada. Por outro lado, a Yamaha parece finalmente ter encontrado um sopro de esperança com um novo motor que promete alterar a sua trajetória recente.

Ducati: Márquez explora limites, Bagnaia em dificuldades

Marc Márquez (Ducati Lenovo Team) liderou os tempos combinados com a única volta no segundo 1’35s – concretamente em 1:35.876s – , num dia em que esteve várias vezes dentro da garagem a experimentar componentes, incluindo um braço oscilante antigo. O foco esteve no controlo do eixo dianteiro, aspeto crucial após a sua queda no domingo. Já Francesco Bagnaia, apesar de ser um dos primeiros em pista, teve uma tarde discreta e voltou a queixar-se do equilíbrio da Desmosedici, algo que tem condicionado o seu desempenho.

Nas equipas satélite, a ausência de Franco Morbidelli devido a uma queda no domingo reduziu o volume de testes. Fabio Di Giannantonio assumiu a responsabilidade de avaliar novidades técnicas, enquanto Álex Márquez e Fermín Aldeguer trabalharam na gestão da perda de aderência traseira.

Yamaha: sinais positivos com novo motor

Se alguém saiu de Jerez com motivos para sorrir, foi a Yamaha. O novo motor testado por Fabio Quartararo e Álex Rins mostrou progressos claros. Rins destacou um aumento de 3 km/h na velocidade de ponta e um ganho geral de potência. Quartararo, ainda que mais cauteloso nas palavras, mostrou-se agradado. Ambos encerraram cedo a jornada, depois de colocarem a Yamaha no topo durante parte da sessão da tarde. O responsável de equipa, Massimo Meregalli, confirmou que a evolução estará disponível já em Le Mans.

Jack Miller, a testar para a Prima Pramac Yamaha, manteve-se prudente nos elogios, reconhecendo que as condições de pista ajudaram aos bons tempos. Ainda assim, alinhou com os colegas de marca na avaliação positiva do novo motor.

KTM: um olho no presente, outro no futuro

A KTM trouxe a Jerez uma abordagem de médio e longo prazo. Pedro Acosta, que sofreu uma queda de manhã, regressou rapidamente à pista, enquanto Brad Binder foi o mais rápido da marca na primeira sessão, embora sem melhorar à tarde.

Maverick Viñales, agora com as cores da Red Bull KTM Tech3, testou soluções aerodinâmicas e procurou uma entrega de potência mais progressiva, essencial para a próxima ronda em casa. Enea Bastianini continua a sua adaptação à RC16, com foco na capacidade de virar a moto.

Aprilia: foco na estabilidade e em novas soluções aerodinâmicas

Marco Bezzecchi trabalhou intensamente no travão e terminou o dia com mais voltas do que qualquer outro piloto – 99 no total. Continuou a testar o novo pacote aerodinâmico estreado no fim de semana, com resultados encorajadores.

Na equipa Trackhouse, Raul Fernandez e Ai Ogura também fizeram jornadas produtivas, com três Aprilia a terminarem entre os 11 primeiros à tarde. Lorenzo Savadori enfrentou problemas técnicos e acabou o dia com um número mais reduzido de voltas.

Honda: sem revoluções, mas com sinais de esperança

Na Honda, os progressos foram discretos, mas não inexistentes. Um novo braço oscilante foi o principal destaque técnico, embora os tempos por volta pouco tenham evoluído. Joan Mir e Luca Marini trabalharam até ao fim, recolhendo dados preciosos.

O mais animador foi Johann Zarco, que se manteve no top 10 durante todo o dia, mostrando evolução face ao fim de semana de corrida. O estreante tailandês Somkiat Chantra regressou à pista após uma lesão no braço, ainda que com queda incluída. Takaaki Nakagami completou um dia robusto com três motos à disposição e 68 voltas registadas.

Jerez mostrou-se silenciosa, mas decisiva

Apesar do silêncio nas bancadas, o circuito de Jerez tornou-se palco de decisões importantes. Marc Márquez reafirmou a sua sintonia com a Ducati, a Yamaha viu nascer uma nova esperança, e os restantes construtores afinaram armas para o que ainda está para vir. Com Le Mans já no horizonte, a temporada ganha novo fôlego – dentro e fora da pista.