A morte da jovem corredora Muriel Furrer reacendeu a discussão sobre a segurança no pelotão. A suíça, de 18 anos, sofreu uma queda durante a corrida de juniores nos recentes Mundiais em Zurique, no dia 24 de setembro, e esteve caída, inconsciente, numa zona arborizada à beira da estrada - de acordo com estimativas que reuniram informações de diversas fontes -, mais de uma hora sem que ninguém, incluindo da organização da prova e da própria seleção suíça, se apercebesse da sua presença. No caso da comitiva helvética, nenhum elemento terá dado pela falta da ciclista até cerca de meia hora após o final da corrida.

Murriel Furrer sofreu lesões cerebrais que resultaram na sua morte, no hospital, menos de 24 horas após a sua queda.

Segundo as primeiras informações fornecidas pelas autoridades suíças, que conduzem um inquérito para determinar as circunstâncias do acidente fatal, a corredora esteve «algum tempo caída, inconsciente, só e sem assistência», sempre precisar quanto tempo demorou até que recebesse os primeiros socorros.

Muriel Furrel terá estado caída, fora da estrada, insconsciente, mais de uma hora após o acidente, sem que alguém se apercebesse

Quase duas semanas após a trágica ocorrência, foram feitos apelos para que os localizadores GPS nas bicicletas, que só agora começam a generalizar-se nas corridas mais importantes da principal categoria do ciclismo, WorldTour, se tornem obrigatórios em todas e nos diversos escalões etários. No entanto, a União Ciclista Internacional (UCI) foi lesta a esclarecer que o equipamento foi utilizado nas corridas de juniores, masculinos e femininos, nestes Mundiais, embora sublinhe, em declarações citadas pelo Wielerflits, que a tecnologia não permite rastrear todos os corredores em todos os momentos.

Fee Knaven, um dos elementos da seleção júnior dos Países Baixos que participou nos Campeonatos em Zurique, confirma que foram utilizados localizadores GPS, mas não há certeza se Furrer também tinha instalado esse equipamento na altura da queda.

Segundo a UCI, estes dispositivos, montados sob o selim da bicicleta, não garantem que o seu portador esteja visível, requerendo-se ligação permanente entre o localizador e a rede de Internet, que nem sempre está disponível. «A UCI gostaria de esclarecer que os localizadores GPS não permitem rastrear a posição de todos os corredores em todos os momentos. Os dados só são recolhidos quando estão ao alcance de uma rede ativa de Internet, normalmente numa moto durante uma corrida», afirma o organismo internacional que regue o ciclismo.

A UCI refere ainda que melhorar a tecnologia GPS é uma das coisas que o SaFer - projeto que pretende reduzir drasticamente que o risco de quedas graves no ciclismo - está a considerar para aumentar a segurança no ciclismo.

«TOTALMENTE INACEITÁVEL»

Considerando-se que Murriel Furrer transportaria na sua bicicleta um localizador GPS na altura da queda – em condições normais, só não o faria se tivesse trocado de bicicleta durante a prova, devido a avaria ou furo, o que se poderá determinar facilmente junto do staff da seleção suíça -, impõe-se a probabilidade de a rede de telecomunicações não ter sido a ideal durante a corrida júnior feminina.

«É completamente inaceitável que as pessoas se percam numa corrida», afirma Mathieu Heijboer. «A tecnologia existe, mas nem sempre é utilizada, está disponível ou operacional», afirma o responsável de performance da equipa Visma Lease a Bike. «No Tour de França, isso funciona bem. As informações instantâneas do rastreador são imediatamente disponibilizadas a todos no site através de uma rede móvel».

Todavia, Heijboer reconhece que é dispendioso manter continuamente essa ligação. «É preciso ter um avião ou helicóptero a voar permanentemente para manter essa rede em permanência e sem falhas. Mas deveria ser obrigatório, desde já nos principais corridas do WorldTour, de homens e mulheres».