Lá estava ele no fim ligado à corrente, a voltagem em altas, a conversar com Jannik Vestergaard e Harry Winks, tipos que não lhe dizem diretamente respeito, jogam pelo Leicester, mas tertuliavam acerca da partida recém-acabada com o treinador da equipa que até há bem pouco tempo seria mais do que banal vencê-los, mas já não tanto assim.
Desde a eliminação da Taça da Liga inglesa, a 26 de outubro, onde se fixou o gatilho do epifenómeno que atormenta o Manchester City, finalmente houve outra vitória, apenas a segunda em 14 jogos. Ganhou o outrora opulento Manchester City de Pep Guardiola, horripilante na estima dos adversários por terem, há quase uma década a terem de aguentar as passas do Algarve para sobreviverem a um jogo contra eles em Inglaterra, mas agora sôfrego e intermitente como um iô-iô, atravancado nas hesitações dos jogadores, nas dúvidas do treinador, na murchidão de um coletivo incapaz de se impor.
Em casa do antepenúltimo classificado da Premier League, em muitos momentos o City pareceu agarrar-se à vida contra o Leicester, a pior registo defensivo (40 golos sofridos) no campeonato, que há pouco tempo despediu o treinador para dar as boas-vindas a Ruud Van Nistelrooy, neerlandês que saiu debaixo da asa de Ten Hag para voar a solo e tentar resgatar o clube. Os tetracampeões ingleses marcaram um golo em cada parte, por Savinho (21’) e Haaland (74’), mas sofreram entre cada festejo.
Incaracterísticos face à memória prevalente da vigência de Guardiola, iguais ao que têm sido nestes últimos dois meses, os jogadores do City encolheram-se sem a bola, recuaram linhas a defender e agruparam-se na área. Akanji armou-se em bombeiro em cima da linha de baliza, socorrendo a equipa de um golo certo e, em suspensão no ar, cheio de estilo, o trintão Jamie Vardy perdeu outro nas barbas do guarda-redes. A postura dos cityzens era para aguentar, fazer os possíveis, ser prudente ao deixar bastantes jogadores atrás da linha da bola quando a recuperavam, não se porem em correrias ousadas.
Até sofrer o segundo golo, o Leicester acentuou a esquizofrenia do jogo: ia para cima do adversário, tinha muita bola, viciava-se em acumular passes, libertava os seus mais talentosos (Facundo Buonanotte, mas sobretudo Bilal El Khannous) para atazanarem a vida aos adversários. Não é descabido ilustrar que o Leicester jogou à City e os visitantes comportaram-se como a equipa em sofrimento que hoje são - Bernardo Silva incluído, que fez os 90 minutos. “Todos precisávamos disto, não foi a prestação ideal, mas era importante ganharmos”, resumiu Guardiola, órfão de explicações para justificar o resultado, igual a Haaland, que “honestamente” não soube indicar o que houve de diferente para a equipa, desta feita, ganhar o encontro.
A rara vitória seguida a um empate contra o Everton, no Boxing Day, deixa o Manchester City na 5.ª posição, a precisar de uns binóculos apurados para avistar a liderança do Liverpool, que está a 11 pontos e com dois jogos a menos (um deles relativo a esta jornada). A bênção de fechar 2024 com um resultado sorridente coincidiu com o 500.º jogo de Pep Guardiola pelo clube, marco excelso como variadíssimos outros da carreira do catalão que atravessa a sua pior fase.