Está a fazer 12 anos (3 de novembro) que Bruno Fernandes teve a sua estreia como futebolista profissional. Novara 0-1 Citadella, Serie B. O internacional português tinha acabado de fazer 18 anos anos e estava a viver os primeiros tempos fora de Portugal, em Novara, cidade italiana da região de Piemonte, paredes meias com as gigantes Milão e Turim.
Durante a estadia do zerozero nesta cidade italiana a propósito do Campeonato do Mundo de Hóquei Patins, e perspetivando o FC Porto-Manchester United desta quinta-feira (até pelo portismo de Bruno Fernandes), fomos descobrir como tudo aconteceu com o maiato.
O trabalho preparatório obrigou-nos a solicitar uma entrevista com o treinador Giacomo Gattuso, o homem que lançou Bruno Fernandes no futebol profissional e que está novamente a treinar o Novara. No entanto, não tivemos resposta ao pedido. Ainda assim, fomos até ao Estádio Silvio Piola tentar encontrar alguém.
O dia era pesado, o diretor desportivo Christian Argurio não tinha resistido a um ataque cardíaco sofrido dias antes e o clube estava a preparar o último adeus. Lá conseguimos falar com o responsável de imprensa que nos disse: «A vida tem de avançar e o nosso diretor tinha esse pensamento. Venha cá amanhã e falará com Giacomo Gatusso.»
Assim fizemos. Além do primeiro treinador em Itália de Bruno Fernandes, falámos também com Mauro Borghetti, responsável da academia do Novara, que veio a Portugal contratar o médio ao Boavista.
Um bambino diferente
A força, a bravura e a capacidade técnica foram aspetos que saltaram à vista dos olheiros do Novara quando observaram Bruno Fernandes. Depois, foi só marcar viagem até à cidade do Porto, confirmar pelos próprios olhos e convencer o jogador e a família.
Parece simples, mas foi assim, ainda com 17 anos, que o internacional português pegou na mala e mudou-se para Novarello, localidade onde está inserido o centro de treinos do Novara. «O Novara era, na altura, um bom clube na Serie B, e os dirigentes conseguiram convencer o Bruno Fernandes a mudar-se para Itália. A transferência também foi fácil, tal como a mudança do Bruno para Novara», começou por nos contar Giacomo Gattuso, técnico que o acolheu nos Sub-19 do emblema do norte de Itália.
Mauro Borghetti recordou os primeiros tempos do médio português: «O clube cedeu dormida e alimentação ao Bruno, que assim não teve despesas. Ele nessa fase não tinha contrato e os primeiros tempos foram difíceis.» O diretor do clube acrescentou que, mesmo com tudo a ficar mais simples depois de Bruno Fernandes ter assinado o primeiro contrato profissional, o jogador continuou «a morar no Centro Desportivo do clube, em Novarello».
Tanto Borghetti como Gattuso enalteceram o trabalho que Bruno Fernandes apresentou desde o primeiro dia. O treinador falou num atleta com uma inteligência em toda a linha: «Ele era diferente de todos os outros. Era um atleta já completo para os seus 17 anos, tanto no aspeto técnico como no aspeto mental. Ele era muito ambicioso. Tinha o desejo de chegar e viver a oportunidade para poder triunfar no futebol.»
Sinal da vontade de Bruno Fernandes foi a forma como rapidamente aprendeu o italiano: «É revelador da sua inteligência, pois passou a estar completamente ligado com os colegas e ajudou a que rapidamente chegasse à equipa principal», contou o treinador Gattuso.
A chicotada que ajudou Bruno Fernandes
Oportunidade é a palavra que melhor descreve a estreia de Bruno Fernandes como futebolista profissional.
O Novara viu-se obrigado a agitar com o balneário, depois de um início de época difícil. Despediu o treinador e chamou o técnico dos Sub-19, Giacomo Gattuso , para orientar os trabalhos durante uns tempos. O primeiro nome da sua equipa que chamou para os treinos é fácil de adivinhar...
«O Bruno Fernandes ficou muito feliz quando foi chamado à primeira equipa, foi com esse objetivo que ele veio para Itália. Ele jogou o primeiro jogo oficial, mas depois foi para o banco. O objetivo era protegê-lo, pois o momento desportivo do Novara não era o melhor. Mas quando a situação ficou melhor, entrou e foi muito importante para a equipa», contou o treinador do Novara.
A partir dali a história ficou conhecida. Saiu para a Udinese nesse verão e mais tarde esteve na Sampdoria. Cresceu como jogador, mas Giacomo Gattuso revelou pena por não o ter visto noutra dimensão no Calcio: «Ele teve um papel importante nesta equipa, mas não acredito que pudesse ter um papel de tanto relevo em Itália, pois o futebol é diferente. Em Itália ele não encontrou o clube ideal, no momento ideal, para demonstrar todo o seu potencial. Eu vejo o Bruno Fernandes a ter a mesma postura que tinha quando veio para cá. Não mudou, mas é impressionante fazer o que está a fazer durante tanto tempo.»
Gattuso e Borghetti arregalam os olhos ao falarem de Bruno Fernandes. O diretor salientou que Bruno Fernandes continua a ser o «exemplo» que o clube mostra aos jogadores da formação, não só pela sua qualidade, «mas também pelo profissionalismo».
Gattuso por seu lado, deu ênfase ao homem: «Há uns anos veio jogar a Champions League a Milão e aproveitou um dia de folga para visitar Novarello. Nunca se esquece de nós e demonstra um carinho muito grande pelo clube.»