Sonho para uns, objetivo para outros e realidade para muito poucos. Viajar por países a ver futebol é algo que todos os aficionados pelo desporto rei já pensaram em fazer. Este turismo de futebol tem um nome: o groundhopping.

O conceito não é assim tão popular em Portugal, mas conta com vários aficionados principalmente na Europa Ocidental, onde cresceu. Naquela zona, muitas pessoas viajam pelos países vizinhos à procura de um retângulo de relva verde onde role a redondinha.

Foi através desta modalidade que conhecemos Rutger de Vlieger e Luuk Wijnen, dois neerlandeses que, na semana passada, vieram conhecer a realidade do futebol português.

16 países, 426 jogos, 155 estádios: o amor ao futebol sem fronteiras

Através de uma aplicação onde se pode registar os jogos a que se assiste (como também conseguimos fazer aqui, no zerozero), um dos jornalistas do zerozero recebeu uma mensagem de Rutger a perguntar onde se podiam comprar bilhetes para jogos do Famalicão. A conversa desenrolou e, a partir daí, continuámos a explorar o que iriam fazer estes neerlandeses no Minho.

Rutger e Luuk no Benito Villamarín, em Sevilla @Arquivo pessoal

«Viemos fazer groundhopping, viajamos para ver futebol noutros países sempre que conseguimos», começou por nos dizer Rutger. A história despertou interesse e impôs-se a pergunta elementar: «Mas quantos países já visitaste?». A resposta surpreendeu, até pela tenra idade do protagonista desta história. «Nesta modalidade, já visitei 16 países no total, aos 23 anos. Mais precisamente 426 jogos em 155 estádios diferentes, já a contar com Portugal». Números de quase groundhopper profissional.

Em Portugal, foram nove jogos e nove estádios. Começaram em Alvalade, acabaram em Braga - dois jogos que regalaram o olho aos dois jovens (Sporting-Manchester City e SC Braga-Sporting). Pelo meio, Vitória SC-Mlada Boleslav, Vizela-Chaves, Moreirense-Gil Vicente, Penafiel-Felgueiras, Famalicão-Arouca, Boavista-Rio Ave e Paços de Ferreira-FC Porto B.

Uma jornada impressionante, dificilmente igualável por um adepto português.

Parecenças na qualidade, diferenças na mentalidade

«Para nós, Portugal é fantástico porque é tudo muito barato. Cerveja, Coca-Cola, as sandes, os alimentos, tudo. O pastel de nata é muito barato também (risos). É perfeito vir cá: o clima é bom e as pessoas são amigáveis, portanto não há razão para não vir», disse Rutger ao nosso portal sobre o porquê de terem escolhido Portugal.

Chegaram para ver o Sporting na Liga dos Campeões por intermédio de uns amigos portugueses (Luuk tem familiares no nosso país) e depois seguiram caminho para o norte. Os adeptos neerlandeses - devotos pelo PSV Eindhoven, clube que seguem para todo o lado- traçaram depois um retrato do futebol português.

Sporting e PSV defrontaram-se esta temporada @Getty /

«Tem parecenças em algumas coisas com o nosso país, mas outras são muito diferentes. A competitividade é idêntica, com três/quatro equipas muito superiores ao resto. Acho que o nível baixo da Eredivisie é melhor do que o português, mas as melhores equipas são equivalentes - talvez as portuguesas estejam acima. O pior destes campeonatos é que quando, por exemplo, o Sporting joga contra o Boavista ou o PSV defronta o Groningen não há tanta competitividade. Depois jogam contra os grandes na Europa e não conseguem resistir à intensidade», disse o jovem.

A maior diferença dissecada por Rutger foi a cultura futebolística: «Acho que só Benfica, FC Porto e Sporting esgotam os seus jogos de casa. O Vitória também, às vezes. Quando fomos ao Moreirense, a lotação estava apenas a 20 por cento. No nosso país isso não acontece. Quase todos os jogos têm, no mínimo, uma taxa de ocupação de 75 por cento e os melhores jogos esgotam sempre.»

«O Sporting-Manchester City é um dos melhores jogos que já vi»

Chegado ao momento de conversar sobre os jogos propriamente ditos, Rutger, que esteve presente nos embates do seu PSV com os leões em 2019 e nesta temporada, classificou o Sporting-Manchester City como um dos melhores jogos que viu: «Entra no top-10, fácil, e eu já vi muitos jogos (risos). Estávamos a torcer pelo Sporting, claro. O Gyokeres é um dos melhores jogadores da atualidade e adorei vê-lo fazer um hat-trick. Foi divertido ver o Haaland falhar o penálti porque o jogo teria sido outro. Foi uma experiência inacreditável», reiterou.

A conversa, que aconteceu por chamada depois de a dupla ter regressados aos Países Baixos- trocámos apenas breves impressões no intervalo do Moreirense-Gil Vicente-, estava boa e ficou mais interessante quando falámos dos jogos ditos 'mais pequenos'. «Divertimo-nos muito no jogo do Penafiel (jogo com golo aos 90'+7). Em Vizela, Famalicão e Paços de Ferreira não foi tão bom. Tivemos também duas remontadas, em Moreira de Cónegos e em Braga. O Vitória foi muito bom, mas foi um jogo europeu e é logo diferente.»

Geny foi o preferido de Rutger @Catarina Morais / Kapta +

«O jogo que mais gostámos foi mesmo o SC Braga-Sporting. Depois dos dois golos do Ricardo Horta nunca esperávamos que o Sporting conseguisse virar o jogo. Quatro golos depois, foi uma loucura», assumiu Rutger.

O olho neerlandês esteve atento em terras lusas e os adeptos focaram-se nos seus compatriotas, mas não tiveram grande sorte. «Vimos o Pavlic em Paços e o Frimpong em Moreira de Cónegos. Não conseguimos ver muito de Justin de Haas ou Tommy van der Looij em Famalicão, mas o Pavlic marcou um golo!»

Por fim, e em jeito de brincadeira, deixaram uma dica ao jogador que mais gostaram de ver nesta semana em Portugal. «Acho que o Geny Catamo tem de ir ter com o novo treinador e dizer "Tenho de jogar mais, sou melhor que o Trincão". É aquele jogador que mais guardo para o futuro

Até à próxima, amigos!