Depois de cinco épocas de grande sucesso ao serviço do Sporting, Rúben Amorim decidiu sair da sua zona de conforto e abraçar um dos projetos mais difíceis, mas igualmente desafiantes do futebol nos dias que correm: o Manchester United.

O futebol costuma não ter memória e é um desporto que move muitas paixões, mas os adeptos do Sporting souberam reconhecer o excelente trabalho que Amorim fez, e o seu legado absolutamente impressionante.

Uma equipa que conta por vitórias todos os jogos que realizou na nossa liga e que neste momento está em posição de qualificação direta para os oitavos de final da Liga dos Campeões, sendo que acaba de golear (4-1) o todo-poderoso Manchester City no último jogo europeu de Amorim ao serviço da equipa leonina.

Esta vitória por estes números tão expressivos, pode ser vista como o melhor dos cartões de visitas de Rúben Amorim no futebol inglês, mas pode igualmente ser um presente envenenado, pois os adeptos do Manchester United podem criar expectativas infundadas e alheias da atual realidade do clube inglês.

O Manchester United é claramente um gigante adormecido e o técnico português sabe a tarefa hercúlea que tem nas suas mãos para poder fazer com que o Manchester United volte a ser um colosso mundial.

Um contrato com a duração de dois anos e meio, sobre o qual Amorim proferiu as seguintes declarações: “Considero ser o contrato ideal para que o clube entenda perfeitamente se no fim do mesmo, eu sou a pessoa certa para este projecto. Eu considero ser a pessoa certa no momento certo”.

A chegada de Rúben Amorim ao Manchester United foi inicialmente recebida com alguma desconfiança e descrença por parte dos adeptos e da imprensa inglesa, mas a extraordinária capacidade de comunicação do técnico português (aliado ao seu carisma), já fazem de Amorim um fenómeno de popularidade e um nome bastante consensual, mesmo antes de apresentar resultados desportivos.

Desde que o mítico Sir Alex Ferguson anunciou a saída em 2013, o clube inglês tem sido um autêntico cemitério de treinadores. Inclusivamente, nomes consagrados como Van Gaal e José Mourinho (apesar de ter conquistado a Liga Europa), não conseguiram ter o sucesso esperado e saíram pela porta pequena e sem deixar um grande legado no clube.

E para agudizar a crise do Manchester United, o outro clube de Manchester (o Manchester City), que não tinha qualquer relevância a nível nacional e internacional, tem tido um crescimento exponencial nos últimos anos, tem dominado o futebol inglês e inclusive sagrou-se campeão europeu pela primeira vez há dois anos atrás.

A cidade de Manchester já não é vermelha, está claramente pintada de azul-celeste e branco, e isso dilacera o coração dos adeptos do United, que vêm como época após época e depois de contratações milionárias, não conseguem construir um plantel que lhes dê garantias de títulos, sendo que esses adeptos estão sedentos dos mesmos e deixaram de reconhecer o seu clube.

Old Trafford é denominado de Teatro dos Sonhos, mas até o estádio do Manchester United deixou de ser uma fortaleza inexpugnável. Têm sido várias as derrotas copiosas do clube inglês no seu domicílio, inclusive uma dessas derrotas de um passado bem recente foi contra o seu arquirrival Manchester City, num jogo que terminou com um resultado vergonhoso (6-3) e impensável há uns anos atrás, quando o clube era liderado por Alex Ferguson e era provavelmente o maior clube do mundo.

O Manchester City tem gasto muito dinheiro no mercado de transferências e quem treina a sua equipa é o espanhol Pep Guardiola (para mim o melhor treinador do mundo), mas ao contrário do Manchester United, a política de contratações do clube vizinho tem sido infinitamente mais certeira que a do United.

O volume gasto em transferências de jogadores tem sido muito similar, mas o City contratou De Bruyne, Bernardo Silva, Haaland, Rodri, Akanji, Ederson, Rúben Dias, Gvardiol, Grealish, etc….

E todos estes que eu enunciei têm tido um grande rendimento desportivo, ao invés das contratações do Manchester United, que gastou valores exorbitantes em jogadores como Antony, Jadon Sancho, Mason Mount, Hojlund, Harry Maguire, Tyrell Malacia, Wan-Bissaka, entre outros.

É incomparável a discrepância de qualidade entre os jogadores contratados pelo Manchester City relativamente a estes últimos que mencionei anteriormente.

Caros leitores, considerei importante apresentar este contexto inicial, para que se perceba todo o enquadramento que espera o nosso promissor técnico Rúben Amorim na sua temporada de estreia.

No fim do jogo com o Ipswich Town (primeiro jogo de Amorim a comandar a equipa do United), o treinador português disse o seguinte: “Falei mais numa semana do que em quatro anos de Sporting. Só quero trabalhar com os meus jogadores e nada mais”. Esta declaração é bem reveladora de que Rúben Amorim ainda vai necessitar de entender o que representa treinar um clube da dimensão de um Manchester United.

É compreensível a frustração do técnico nacional, mas o futebol é cada vez mais um negócio, e o Manchester United é uma das marcas desportivas de maior renome a nível mundial e de grande relevância no mercado britânico. Quanto mais cedo Amorim se adaptar às outras vicissitudes inerentes ao seu cargo de treinador do Manchester United, melhor será para ele.

A imprensa inglesa é bastante peculiar, e está sempre à espera de titulares bombásticos que encham as suas páginas de jornais sensacionalistas (os famosos tabloides). Em Inglaterra, o futebol joga-se dentro e fora dos relvados, e Amorim deve encarar isso com naturalidade e aperceber-se do mesmo com a maior brevidade possível.

Não tendo sido Amorim a compor o plantel, dificulta ainda mais o trabalho do técnico português. No mercado de Janeiro, certamente que Rúben Amorim vai querer fazer algumas movimentações e reforçar a sua equipa.

O nome que mais se tem falado ultimamente é o do seu ex-jogador Viktor Gyokeres, o jogador da moda e de que mais se fala no futebol mundial. O matador sueco de ascendência húngara, que tem um registo impressionante de 59 golos em 55 (jogos) oficiais no ano de 2024, um registo que já ultrapassou alguns recordes individuais anuais, de uns tais de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi.