
Um extenso trabalho realizado pelo 'The Washington Post' conta alguns detalhes acerca da influência no futebol italiano dos ultras e dos líderes das claques de Inter e Milan, bem como da relação que estes mantêm com a máfia e que lhes dá acesso indireto aos quadros mais altos dos clubes, aos treinadores e às direções.
Segundo explica aquela fonte, estes líderes foram, durante muitos anos, os "fios condutores" da máfia, "convertendo tudo em receitas para o crime organizado". Os negócios em questão iam desde o contrabando de bilhetes à venda de cerveja nos estádios, com o principal objetivo de lavar o dinheiro. "Eram máquinas de gerar lucro e poder", pode ler-se naquela publicação, que revela que, através de escutas colocadas em duas das pessoas mais influentes destas claques, entretanto mortas, a polícia italiana conseguiu "milhares de páginas de informação", desde horas de entrevistas a chamadas telefónicas que denunciavam a maneira como o crime organizado funciona.
A reportagem centra-se também num dos homens que liderou uma das mais conhecidas claques do Inter e afirma que este chegou a fazer mais de 1 milhão de euros por ano só através da "venda de bilhetes e outros focos de receitas no estádio". Dentro do seu carro, carregava sempre "uma pistola, algemas e um colete à prova de bala", artigos roubados às forças policiais. À imagem dos outros, acabou por ser assassinado em 2022 à porta de casa, quando dois homens desceram de uma mota e um deles disparou cinco tiros.
1
milhão de eurosOutra das histórias no artigo está relacionada à Juventus. Em 2017, um grupo de adeptos ameaçou entoar cânticos racistas nos jogos de forma a gerar, propositadamente, multas para a própria equipa. Mais tarde, as autoridades conseguiram prender mais uma série de pessoas ligadas a essas claques, numa investigação que terminou também com a suspensão de Andrea Agnelli, à data presidente da Vecchia Signora, por "relações não autorizadas" com esses setores de apoiantes.
Mas as coisas não param por aí. Além de tudo isto, fala-se ainda de crimes como chantagem ou tráfico de drogas. "O futebol é uma atividade comercial e as organizações criminosas estão interessadas em todas as atividades comerciais. Infelizmente, constatámos que não há queixas de empresários, que em boa parte dos casos também são vítimas", explicou, citado pelo 'The Washington Post', um dos responsáveis pelas investigações.