«Nunca na minha vida tive tantas dificuldades em gerir um grupo de jogadores como este» - Gary O’Neil, poucos dias antes de ser demitido do comando técnico do Wolverhampton.
*com Diogo Organista Pereira
Depois de Nuno Espírito Santo e Bruno Lage, Vítor Pereira está prestes a tornar-se o terceiro treinador português a liderar a armada lusa do Wolverhampton. O desafio, porém, não se avizinha acessível, uma vez que o emblema inglês vive, atualmente, uma fase delicada - e debilitada - no principal escalão inglês.
A apenas três partidas de findar a primeira volta do campeonato, os Lobos situam-se no penúltimo posto da tabela, com duas vitórias, três empates e onze derrotas em 16 confrontos - e foram também eliminados da Carabao Cup - na terceira ronda, frente ao Brighton & Hove Albion. Este negativo registo é somente superado pelo Southampton, que é o lanterna vermelha da competição com cinco pontos.
Com diversos problemas na bagagem, Gary O’Neil não resistiu à senda de resultados negativos - contou por derrotas as últimas quatro partidas -, nem a pressão que adveio da mesma, e foi demitido horas após somar um novo desaire, desta vez diante do Ipswich Town (1-2). Assim, vários nomes foram associados ao cargo - como o de Ole Gunnar Solskjær, por exemplo -, mas o de Vítor Pereira superiorizou-se aos demais.
O técnico português de 56 anos vai agora concretizar um sonho antigo - o de rumar ao primeiro escalão inglês [n.d.r: reveja AQUI a longa entrevista do nosso portal a Vítor Pereira] -, com a ambição de, pelo menos, assegurar a manutenção esta temporada. Com isto em mente, o zerozero esteve à conversa com Stephen Gillet, editor do nosso PlaymakerStats, sobre os desafios associados a esta mudança para Inglaterra.
Concluída a travessia de Riade para o Molineux, que tipo de Wolverhampton vai o treinador encontrar?
«O arranque atribulado colocou pressão acrescida no grupo, que não conseguiu reerguer-se»
Para Stephen Gillet, os principais desafios são claros e prendem-se a três importantes pilares: «Vai encontrar um clube com uma condição instável, com vários desafios, tanto fora como dentro de campo. Uma equipa desmoralizada, a instabilidade no setor defensivo e a saúde financeira do clube são as principais adversidades que assombram o momento atual do Wolves e devem preocupar Vítor Pereira.»
Um ambiente negativo paira sobre o Molineux e são já várias as situações que o comprovam e demonstram um grupo quebrado e ansioso. José Sá confrontou os adeptos, Lemina perdeu o estatuto de capitão por estar envolvido em confusão com Bowen no final de um encontro e dois atletas - Matheus Cunha e Rayan Aït-Nouri - desentenderam-se com a comitiva do Ipswich Town após a derrota caseira.
A justificação de Stephen para este pesado ambiente prende-se com dois fatores, sendo estes o aumento da pressão, associado aos sucessivos resultados negativos, e à inexperiência do plantel.
«O clube começou a temporada com uma série de jogos muito complicada. Depois, foram incapazes de garantir resultados positivos frente a equipas de semelhante ou inferior calibre. Este arranque atribulado colocou pressão acrescida no plantel, que não conseguiu reerguer-se.»
«Existe falta de experiência no cômputo geral. É sempre complicado, para alguns jogadores, chegar a um novo ambiente e alcançar a totalidade do seu potencial. A equipa tem bons momentos, mas algumas desatenções, frequentemente devido a erros associados à inexperiência, ferem a equipa e desestabilizam a harmonia em redor do grupo», vincou.
Os lances de bola parada são também uma dor de cabeça para o conjunto inglês, que apresenta graves debilidades no setor mais recuado: «Contrataram um responsável para aprimorar esse tipo de lances, contudo não resultou. Sofreram 15 golos de bola parada, o máximo da Premier League até ao momento. O grupo orientado por Gary O'Neil não era conhecido pela solidez defensiva.»
«A fase de lua de mel de Vítor Pereira vai ser mais curta face ao momento do clube»
É também inegável que o Wolverhampton sofreu uma dura quebra de rendimento nos últimos cinco épocas - desde a caminhada europeia, na temporada 2019/20, o clube terminou sempre na metade inferior da tabela. Algo intrinsecamente ligado à saúde financeira do emblema inglês, que sofreu «mudanças significativas» nos recentes anos.
«Mesmo quando estavam no Championship, tinham jogadores como Diogo Jota, Ruben Neves ou Pedro Gonçalves. Tinham jogadores sólidos, com qualidade para pisar os palcos da Premier League e fazer a diferença. A verdade é que foram perdendo poderio ofensivo. Têm bons jogadores na equipa, mas falta a coesão do coletivo. Definitivamente, não é, agora, uma equipa com mentalidade vencedora», destacou Stephen Gillet.
«Existia um grande investimento por parte de Jorge Mendes e um ímpeto positivo associado a esse fator. Acredito que esse planeamento estratégico, vincado nesse pilar, tem desaparecido. A saúde financeira do Wolves sofreu mudanças significativas nos últimos anos», revelou.
Desta forma, a chegada de Vítor Pereira à armada lusa em solo britânico pode ser vista com bons olhos por parte dos adeptos e associados, face à «valorização» do treinador português no campeonato inglês. Ainda assim, Stephen acredita que o trajeto por terras de Sua Majestade pode também ser atribulado, tendo em conta a atual «delicada posição» do Wolverhampton.
«Os treinadores portugueses são muito valorizados na Premier League. Vítor Pereira teve passagens positivas nos últimos anos e, como a maioria dos treinadores, vai a ter fase de lua de mel no clube, onde os fãs vão querer ver melhorias, mas vão também ser mais compreensíveis», salientou.
«Vítor Pereira precisa de instalar a mentalidade do jogo a jogo. O mais importante é conquistar pontos, não importa se jogam de forma brilhante. Como o Wolves encontra-se numa posição complicada e delicada esta temporada, acredito que essa fase vai ser mais curta. Se tiver três ou quatro resultados negativos, vai enfrentar uma pressão imensa», frisou.
Existem condições para Vítor Pereira vingar em Inglaterra?