Piloto espanhol brilhou durante anos nas motos no Dakar, mas acidente em 2007 trocou-lhe as voltas
Começando pelo início, e recuando uns bons anos, há que lembrar que Isidre Esteves, ex-motard que chegou a disputar durante várias temporadas os lugares cimeiros do Dakar pelas motos, ficou numa cadeira de rodas em 2007 após um grave acidente numa das etapas na competição, que o marcou com lesões graves, ao ponto de fraturar as vértebras, mas mostra que não há impossíveis. Desde então, corre ao volante de uma Toyota Hilux T1+ e, a Record, explica, como viveu todo o processo.
"Comecei no mundo do enduro, com provas em Espanha e em Europeus, até cheguei a correr em Portugal, no Mundial de enduro na Figueira da Foz e Lisboa. Comecei no Dakar nas motos em 1998 e foram 10 anos maravilhosos nas motos. Saímos de Lisboa em 2006 e tínhamos tantos adeptos ali. Estava num grande momento da carreira, primeiro com a KTM e depois com a Repsol, e durante 6 anos tivemos o objetivo de lutar para ganhar o Dakar. Mas às vezes acontecem coisas na vida que não esperamos. Em 2007 tive um acidente e fiquei com as rodas em cima de mim. De alguma maneira, sinto-me abençoado por poder voltar a competir a um grande nível e ter um grande carro. Tenho uma equipa muito boa à minha volta e que permite que tudo seja mais fácil. Estou num momento em que me sinto feliz por viver tudo isto", conta-nos o experiente piloto espanhol, o qual sente orgulho por ser um exemplo para vários apaixonados pelo desporto motorizado.
"Hoje em dia é muito difícil ser exemplo de algo. Cada um vive uma realidade distinta. O que importa é a mensagem e dizer que a incapacidade [física] não é um problema para impedir os teus sonhos. Fico orgulhoso por animar e ser um exemplo para as pessoas que tenham este sonho. E ajudar a normalizar esta situação", assume, sempre com um sorriso na cara.
O sol e calor intenso que se faz sentir em Marraquexe este sábado, na véspera do prólogo que irá marcar o dia de domingo no rali de Marrocos juntam-se a uma maneira de pilotagem bem distinta que Isidre terá de manusear. Para os menos esclarecidos sobre o tema, o piloto espanhol explica-nos de que forma o seu veículo foi adaptado para a sua situação específica. E não podia ser mais simples. Ele conta-nos ao pormenor.
"A diferença está no carro está no volante. Levo as duas penas muito presas no carro para que não se mexam e levo um volante que acaba por ter três volantes: no meio, guio o carro; na parte de cima, o acelerador no qual faço pressão para dentro; e por trás o travão, no qual faço pressão em direção a mim. E depois na caixa de mudanças, tenho uma maneta, como se fosse numa mota, que permite sair. Depois é tudo igual. E funciona muito bem!", garante.
Esta etapa (a última do Campeonato do Mundo de Rally Raid este ano) em Marrocos acaba por ser um teste também para a disputa do Dakar, que arranca em janeiro, tal como o próprio piloto adaptado, o qual já chegou a ter mais de 10 participações na grande montra, aponta. "A preparação não muda. O rali de Marrocos é muito importante para nós, porque é a antecâmara do Dakar'2025. Todas as novidades técnicas e de regulamento do Dakar serão testadas aqui, porque há pouco tempo depois até ao Dakar. O rali de Marrocos será diferente do ano passado por três fatores: primeiro porque choveu muito cá recentemente, depois porque o percurso é distinto, com muitas dunas e zonas com água, bem como mais zonas de perigo; e depois porque havia muitos trajetos que eram claros e agora já não será assim. A nível de navegação será uma corrida muito exigente", sublinha, antes de apontar metas a curto prazo.
"Os objetivos são ser o mais competitivo possível. Temos a sorte de ter ao nosso lado a Toyota, a Repsol, com o combustível renovável, a ter uma equipa de mecânicos muito bem preparada... Temos tudo aquilo que precisamos para ser competitivos. Queremos ser mais competitivos do que no ano passado", vinca.
Atento também à evolução do desporto motorizado em Portugal, e tendo Miguel Oliveira como referência do motociclismo português na montra do Moto GP, Isidre, apaixonado por motos e velocidade, deixa elogios e traça uma comparação entre portugueses e espanhóis neste ponto. "Portugal sempre foi um país com grande adeptos de desporto motorizado. Há sempre muita gente a ver provas e a nível cultural é um evento desportivo para o qual assistem. Portugal e Espanha são países muito semelhantes nesse aspeto de adeptos que gostam de desportos motorizados e pela evolução dos pilotos", concluiu, bem humorado e otimista para o que aí vem.