
Há quem diga que é sacrifício pela causa, amor desmedido gritarão alguns. Loucura, talvez. Não há problemas, apenas soluções. É assim que subsistem os clubes pequenos em dimensão, gigantes no que toca à alma.
É o caso do Grupo Desportivo de Vila Nova de Foz Coâ que, perante a indisponibilidade dos três guarda-redes do plantel, teve de colocar o vice-presidente na baliza.
«Temos tido muitos problemas na equipa. Ainda no domingo só tínhamos 11 jogadores. Os dois guarda-redes estão lesionados e foi o vice-presidente quem foi à baliza para desenrascar. Não temos juniores por falta de jovens e torna-se um bocadinho ridículo. Mas é a nossa realidade», conta a A BOLA José Pedro Marra, treinador do clube da primeira divisão da AF Guarda.
Aos 44 anos, Daniel Morgado calçou as luvas e estreou-se como sénior pelo clube da cidade onde vive.
«O guarda-redes titular, o Valter, foi operado em novembro e começou a jogar o Gabriel. No entanto, este lesionou-se num pé, a 2 de dezembro e no jogo seguinte teve de ir um jogador de campo à baliza. O outro guarda-redes, o Pedro é camionista internacional e por vezes, está fora. Como não conseguimos arranjar uma solução para a semana seguinte, o presidente disse-me que tinha de assumir a baliza. Fui inscrito e a15 de dezembro comecei a jogar. Assumo a baliza sempre que for preciso», relata.
Após uma passagem pelo Grupo Desportivo de Vila Nova de Foz Côa como treinador da formação, Daniel Morgado tornou-se membro da direção há cerca de oito anos.
«Já tinha tido uma breve ligação com o clube em 2000 como treinador da formação, mas tive de abandonar por causa do serviço militar obrigatório. Entretanto, comecei a acompanhar o percurso do meu filho que está nas camadas jovens. Como havia falta de pessoal, convidaram-me para diretor. Há tanta falta de pessoal para uma coisa como para a outra. Assumi o cargo de vice-presidente e quando fiz 35 anos, inscrevi-me nos veteranos», recorda, longe de imaginar que ainda jogaria pelos seniores.
Mais do que os 13 golos sofridos ou os resultados, Daniel Morgado declara o amor por um clube que vive em dificuldades constantes.
«Enquanto diretores não recebemos nada. Fazemos isto por amor à camisola. E foi por isso que me estreei nos seniores aos 43 anos. É complicado, mas quando assumo um compromisso, cumpro-o», conclui.
Entre a incerteza e a luta por manter viva uma organização desportiva, Daniel Morgado ficou com uma história para contar.