
O Banco de Portugal reviu em alta o crescimento da economia para 2025, tendo passado as suas estimativas de 2,2% para 2,3% no Boletim Económico de março, face às últimas previsões.
"A economia portuguesa cresce 2,3% este ano, abrandando para 2,1% e 1,7% em 2026 e 2027", lê-se no relatório, que refere ainda que "este ritmo continuará a superar a média da área do euro, beneficiando em 2025-26 do alívio das condições financeiras, da aceleração da procura externa e de uma execução de fundos europeus mais concentrada no próximo ano".
O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, adverte, contudo, que vai haver uma "desaceleração do crescimento que tem a ver com o investimento público e o fim do PRR"."O crescimento mais baixo de 2027 justifica-se com o fim do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), dá nota o relatório.
"Do ponto de vista do crescimento será menor, mas devido ao aumento de tarifas decorrente da guerra comercial entre a china e os EUA, o passo para a política monetária é apenas (cautela) na dimensão incerteza", afirma Centeno.
Aliás, Mário Centeno cita Fernando Pessoa: "O amanhã é uma coisa incerta", e isso está a acontecer, "tanto na dimensão interna mas também na dimensão externa e tudo vai ter influência no que a economia portuguesa pode dar".
Alerta para o facto de a Europa ter de dar uma resposta global e concertada nos desafios que se colocam no futuro. Mas estas respostas se forem "consistentes" podem afetar a Europa no seu crescimento. Temos de tornar a Europa numa área económica mais íntegra e que possa dar mais ênfase ao euro.
No que à inflação diz respeito, em 2025, esta recua para 2,3% e "estabiliza em 2% nos dois anos seguintes, beneficiando de um crescimento mais contido dos preços nos serviços. Em 2025, continua a ter um desempenho volátil, projetando-se valores trimestrais entre 1,9% e 2,6%".
Para estas estimativas em 2025 contribuiu segundo o governador Mário Centeno "o alívio das condições financeiras", como sejam "a redução das taxas de juro e a manutenção da procura externa que continua com alguma dinâmica".
"No horizonte da projeção, antecipa-se o regresso a um padrão de crescimento mais assente no investimento e nas exportações do que no consumo que, em 2024, explica mais de metade do crescimento", aponta o relatório.
Já no que toca à "evolução do consumo privado acompanha a do rendimento, mantendo-se a taxa de poupança elevada. Em 2024, o rendimento disponível real teve um crescimento elevado (7,8%), projetando-se uma desaceleração progressiva em 2025-27, que se traduzirá num abrandamento do consumo das famílias".
Centeno, afirma que se estima uma certa desaceleração. "Após um aumento de 3,2% em 2024, o consumo privado cresce 2,8% em 2025 e 1,8% em 2026 e 2027" esclarece o documento.
Investimento cai em 2027
"O investimento acelera em 2025-26, impulsionado pela melhoria das condições de financiamento, da procura e do fluxo de fundos europeus. Para 2027, projeta-se uma estagnação provocada pelo termo do PRR".
Mário Centeno sublinha que a componente empresarial deve crescer, mas para o que tem sido a dinâmica do crescimento pré-pandemia é "bastante contida".
O boletim sublinha que "as exportações avançam a um ritmo médio de 2,9% em 2025-27, inferior ao seu desempenho recente, num ambiente de crescimento da procura externa, mas com menor dinamismo dos serviços e menores ganhos de quota de mercado. Com a entrada de fundos europeus, a capacidade de financiamento da economia atingirá níveis historicamente elevados".
O governador, no decurso da sua apresentação, refere que "existem vários domínios de risco ao longo do horizonte" e uma delas tem a ver com o facto da implementação de várias por parte dos EUA, o que pode trazer algumas preocupações.
O governador do Banco de Portugal sublinha ainda que apesar de as famílias em Portugal hoje terem "um nível de poupança mais elevado, é preciso lembrar que todos estes equilíbrios se colocam e pode haver alterações face a esta posição (portuguesa) cíclica positiva".
Para concluir: "temos de estar preparados".