
O número de agências bancárias em Espanha foi significativamente reduzido, de mais de 45 mil, em 2008, para cerca de 17 mil, na atualidade, mantendo uma expressão de 38% comparativamente à que se registava nessa altura. Os dados são avançados pela Fundação de Estudos e Investigação Social (Funcas), que indica que a redução do número de agências foi acelerada pela pandemia de COVID-19, com 6.469 agências fechadas desde o final de 2019.
Embora o número de agências tenha diminuído, a média de funcionários por escritório aumentou, de 5,93 em 2008 para 9,18 em 2023, revela o estudo. Os escritórios abertos agora lidam com um volume maior de operações e concentram-se em serviços de consultoria financeira.
Por outro lado, a digitalização mudou o perfil dos funcionários bancários. Entre 2008 e 2023, o número total de empregados no setor diminuiu 40%, de 270.855 para 161.640. No entanto, a procura por profissionais com habilidades em tecnologia, como inteligência artificial, segurança cibernética e análise de dados, tem aumentado, apurando que os bancos precisam de especialistas que possam projetar sistemas de defesa e responder a incidentes de segurança de forma rápida e eficaz.
“O setor bancário espanhol sofreu uma profunda transformação nas últimas décadas, impulsionada por vários fatores macroeconómicos, tecnológicos e regulamentares. Este processo de mudança acelerou com a crise financeira de 2008, que revelou vulnerabilidades estruturais e a necessidade de reforçar a regulação e melhorar a solvabilidade das instituições financeiras. Desde então, o setor passou por um período de reestruturação que afetou tanto a sua estrutura operacional como o seu modelo de negócio. A isto juntam-se desafios recentes, como a passagem dos canais digitais e a transição para uma economia verde”, refere a Funcas.
Também foi observada a consolidação do setor bancário espanhol desde a crise financeira, o que levou ao aumento na concentração da oferta. No entanto, esse aumento de concentração “não deve ser necessariamente interpretado como uma redução da concorrência, já que a redução de agências vem acompanhada de uma maior oferta digital”, explicam os analistas.
Tecnologia e estrutura operacional
À medida que as agências bancárias foram reduzidas, aquelas que permaneceram abertas evoluíram para um modelo de atendimento mais especializado, fortalecendo a sua componente tecnológica. Essa abordagem permite que os bancos concentrem os seus recursos na consultoria sobre questões complexas, como planeamento financeiro de longo prazo, investimento em produtos financeiros sofisticados, gestão de grandes hipotecas e empréstimos e fornecimento de suporte em situações fiscais.
Manter o “elemento relacional” que o setor bancário cultiva há décadas “é essencial nesse processo de transformação para um modelo de atenção especializado”, assinala a Fundação.
O setor bancário adotou uma abordagem híbrida na sua estrutura operacional. Escritórios físicos complementam serviços digitais com atenção personalizada para transações complexas. Essa estratégia responde à preferência dos clientes em utilizar canais digitais para operações quotidianas, mas com acesso a assistência direta para serviços mais especializados.
O uso do banco digital em Espanha cresceu “exponencialmente”. Em 2010, 40,9% dos utilizadores da Internet utilizavam serviços bancários online, enquanto que em 2024 esse número chegou a 80,8%.
Espanha tem uma taxa de adoção bancária acima da média da União Europeia (63,87%) e está numa posição superior à de países como Itália (51,55%) e Alemanha (57,22%). Se o ritmo atual continuar, até 2030, 94,9% dos internautas usarão o canal digital para realizar operações bancárias.
Além disso, esse processo está a ser inclusivo. Desde a pandemia, houve uma redução nas lacunas do banco digital por idade (-12,5 pontos percentuais), rendimento (-19,1 pp) e nacionalidade (-12,5 pp).
A adoção de um modelo omnicanal tornou-se uma estratégia fundamental para o setor bancário, dada a evolução das expectativas dos clientes e a busca pela transformação digital. “Para implementar um modelo omnicanal eficaz, os bancos devem investir em tecnologias que permitam a integração de dados em tempo real em todos os canais”, destaca a fundação espanhola. Na última década, os bancos espanhóis duplicaram os investimentos em tecnologia. Em 2023, as principais entidades espanholas destinaram mais de 5,125 milhões de euros à tecnologia, e espera-se que esse investimento continue aumentando, com um valor projetado de quase 8 milhões de euros até 2030.
Riscos climáticos
A transição para um modelo de sustentabilidade exige que os bancos adaptem os seus portfólios para reduzir a exposição a setores de alta emissão e gerir riscos climáticos, físicos e de transição, alinhando-se com objetivos de sustentabilidade e garantindo estabilidade financeira de longo prazo.
Os bancos estão a reavaliar a sua exposição ao crédito para se adaptar aos padrões de sustentabilidade e mitigar os riscos climáticos e financeiros. Além disso, os portfólios dos bancos espanhóis, como os de muitos outros países, estão expostos aos riscos da seca e ao impacto das chuvas torrenciais. As perdas resultantes de cheias de rios podem ascender entre 0,16% e 0,17% das carteiras dos bancos (entre 695,11 e 738,33 milhões de euros).
“Maior robustez na gestão de riscos climáticos permite que os bancos não apenas protejam os seus portfólios dos efeitos adversos das mudanças climáticas, mas também se posicionem como atores-chave na transição para uma economia de baixo carbono”, destaca a Funcas. Entre 2009 e 2023, os principais bancos espanhóis do IBEX 35 conseguiram reduzir as suas emissões de gases poluentes – dióxido de carbono (CO₂) e equivalentes – em 57,2%, o equivalente a 699.824 toneladas.
“O financiamento verde oferece aos bancos uma ampla gama de oportunidades para diversificar as suas receitas, aceder a novos mercados, melhorar o seu perfil de risco e fortalecer a sua reputação num ambiente cada vez mais focado na sustentabilidade”, destaca a fundação.