O Millennium BCP obteve um lucro de 906,4 milhões de euros em 2024. Destes, 786,4 milhões são relativos à atividade do banco em Portugal. O resultado do grupo tem, assim, um incremento de 5,9% face a 2023. O dividendo proposto está nos 50% e o banco vai iniciar um programa de recompra de ações no valor de 200 milhões, já autorizada pelo Banco Central Europeu.

A margem financeira do grupo aumentou 0,2% para 2,83 mil milhões de euros. No entanto, a taxa da margem financeira viu uma redução de 3,36% para 3,04%, fruto do corte nas taxas de juro, o que vai ao encontro das expectativas do banco. Olhando para a operação nacional, a taxa de margem financeira desceu 9%, de 2,59% para 2,21%. Do lado das comissões, houve uma evolução de 4,8% ao nível do grupo, com a receita a subir de 771,7 milhões para 808,5 milhões de euros.

Olhando para a evolução do BCP em bolsa, o banco cresceu mais de 277% desde o início do plano estratégico, em 2021, que terminou em 2024.

As despesas tiveram uma subida de 12,4% para 1,31 mil milhões de euros, justificada pela atividade internacional, segundo o CEO do Millennium BCP, Miguel Maya. O rácio de eficiência do banco subiu 5,8 pontos percentuais para 36,6%

Maya destaca ainda a carteira de crédito, que cresceu 0,7%, de 56,8 mil milhões para 57,2 mil milhões de euros. Já os recursos totais de clientes no grupo subiram 8% em termos homólogos para 102,9 mil milhões.

Para a garantia pública de habitação, os pedidos ascenderam a cerca de 600 milhões de euros, num total de 3250 pedidos de crédito. Estão em contratação 461 propostas de um total de 1600 feitas aos clientes, correspondentes a cerca de 7% da verba atribuída ao banco.

O banco conseguiu um rácio CET1 de 16,3%, com o rácio de capital total a ascender a 20,6%. Estes rácios tiveram uma subida de 89 e 72 pontos base, respetivamente. Já o rácio de cobertura por liquidez fixou-se em 342%. O rácio de NPL do grupo fixou-se em 1,4%, mais 0,1 pontos percentuais do que no ano anterior.

O banco teve uma subida de 20% em transações, com as transações entre pessoas a crescer 47%. As vendas sobem 30%.

No que toca ao Bank Millennium, na Polónia, a empresa conseguiu um lucro de 167,1 milhões de euros. Já o Millennium bim, em Moçambique, alcançou um resultado líquido de 48,5 milhões.

Regulação continua a ter em si o holofote

O presidente não executivo do Conselho de Administração do BCP, Nuno Amado, recusa um excesso de resultados e critica um excesso de requisitos de capital. Deixa duras críticas à regulação em demasia, que, defende, não acontece apenas na banca. Sobre este tema, o CEO do BCP argumenta que é preciso tirar complexidade e não desregulação, a qual não subscreve, sublinha. Nuno Amado vai no mesmo sentido e fala em “proporcionalidade” no que diz respeito à regulação.

A título de exemplo, Amado repara como o tema das alterações climáticas é algo importante, mas que as exigências que foram feitas, no tempo que foram feitas, podem ter sido exageradas, considera.

Sobre a saída de colaboradores, Miguel Maya esclarece que não existe um programa de rescisões e de saídas para reformas antecipadas. Estas dependem do que o banco pretende com os seus trabalhadores, explica o líder do BCP.

Houve ainda espaço para a questão das tarifas, que Miguel Maya deixa claro ser uma preocupação, nomeadamente ao nível das empresas portuguesas e como vão afetar as mesmas. O CEO explica que a prioridade está em ajudar os clientes a encontrar soluções para as entraves que este problema lhes causa.

Novo Banco não é ameaça e Centeno “contribuiu para a estabilidade”

“O crescimento do BCP é por via do crescimento orgânico”, declara Maya, quando questionado sobre a questão do Novo Banco e a sua venda. No que toca à entrada do mesmo em bolsa, não vê perigo para a valorização do BCP.

Sobre a recondução ou não do Conselho de Administração, tanto Miguel Maya como Nuno Amado chutam o tema para o futuro, dado que ainda falta um ano para o fim do mandato, realçam. Ainda na questão de reconduções, o CEO recusa-se a comentar a possível recondução de Mário Centeno como governador do Banco de Portugal, mas deixa a nota de que o antigo ministro das Finanças “contribuiu para a estabilidade do sistema bancário”.

Sobre a possibilidade de uma redução das contribuições para o Fundo de Resolução (FdR), colocada em cima da mesa por Mário Centeno, Miguel Maya sublinha que a injustiça entre os bancos portugueses e os bancos estrangeiros que operam em Portugal e não são obrigados a pagar as contribuições é algo que o banco defende “desde o início”. “Custa-me que se fale em união bancária, mas para umas coisas e não para as outras”, reforça. Uma contribuição da parte de atores financeiros que trabalham para clientes portugueses trará mais dinheiro para o FdR, bem como mais justiça ao nível da concorrência, remata o CEO do BCP.

Sobre a venda direta do Novo Banco, Maya acredita que o governador tem uma visão “mais completa” do que o resto da população e, por isso, terá as suas razões para mencionar “riscos sistémicos” desta operação.

“Desde o primeiro momento que o BCP disse que não houve nenhuma intenção nem consequência para os clientes”, sublinha o CEO do BCP relativamente ao caso do ‘cartel da banca’. “Comparar o que não é comparável” é como o líder do Millennium descreve o paralelismo com o caso que surgiu recentemente em Inglaterra. Nuno Amado acrescenta, sobre este assunto, que “se há setor onde a concorrência funciona, é no da banca”.

Miguel Maya realça que o BCP não tem ‘spreads’ negativos, quando questionado sobre o caso que surgiu esta semana relativo a autarquias às quais foram oferecidos ‘spreads’ negativos.

Sobre intermediários de créditos, o BCP, esclarece Miguel Maya, “prefere trabalhar diretamente com o cliente”, defendendo que colocar mais passos no caminho não torna o processo melhor. Recorde-se que o Jornal PT50 noticiou no início deste mês que cerca 20% dos novos contratos de crédito à habitação em 2023 foram via intermediários de crédito.

(notícia em atualização)