"Não vamos sair daqui até sermos ouvidos. Viemos como se vai para a guerra: viemos, mas não sabemos quando saímos. E vamo-nos fazer ouvir. Querem-nos sufocar, mas o nosso último grito vai ser muito alto", afirmou à Lusa Fábio Viana, porta-voz do Movimento dos Agricultores do Norte, que hoje se mobilizou pela primeira vez desde o início dos protestos de agricultores para mostrar que as reivindicações e problemas do Norte são "diferentes" e "agravados" em relação ao resto do país.
Fábio Viana alertou que "o Norte não é na África Central, embora esteja um bocadinho distante", vincando que o Governo tem conhecimento dos problemas dos agricultores da região mas apresentou ainda qualquer resposta.
"Os nossos problemas são conhecidos pelo Governo, que tem arranjado maneira de descredibilizar a região, as áreas de pastoreio e o nosso produto", frisou.
O responsável alertou que "ninguém está a ver o problema como ele é".
"Neste momento, temos o sério risco, na região Norte, de 70 a 80% das explorações terminarem", sublinhou.
"Quem se vai responsabilizar por isso? Quem se vai responsabilizar pela gestão do nosso território. Daqui a uns anos temos um incêndio em Melgaço, vai acabar às portas de Lisboa", avisou.
Perante os "sérios problemas para resolver" a Norte, o movimento de agricultores optou por se "separar" das manifestações do resto do país, que ocorreram de forma mais intensa na semana passada.
"Sofremos os problemas que sofrem a nível nacional, mas são agravados", vincou.
A Norte, disse, o problema é "cinco ou seis vezes" mais "agravado", apontando o dedo ao facto de os baldios terem sido afastados dos apoios atribuídos à produção biológica.
"Nem sequer temos essa ajuda [reivindicada pelos agricultores do Sul]. Já tivemos, mas saiu daqui. Posso tocar numa ferida. A nossa área de baldio é 5 a 10% elegível para pastoreio. Lá em baixo temos sobreiros classificados como culturas frutícolas. Os nossos produtos biológicos não são certificados, têm preços mais baixos no mercado e não são elegíveis para apoios", lamentou.
Fábio Viana diz que os agricultores do Norte não tiveram "qualquer tipo de resposta", embora o Governo e as confederações conheçam os problemas.
"Os grandes núcleos de agricultura absorvem estas grandes questões para eles e nós ficamos aqui abandonados. Vivemos em zona de montanha, temos custos de entrega elevadíssimos. Este é o nosso último grito", notou.
Os acessos à cidade de Valença estão hoje condicionados, com a rotunda da Estrada Nacional (EN) 13 em São Pedro da Torre, Valença, e a rotunda de São Teotónio, no centro da cidade, cortadas pelo Movimento dos Agricultores do Norte.
Também a circulação na A3 está condicionada entre as portagens de Valença e a ponte internacional Valença-Tui.
Contactada pela Lusa, a GNR de Viana do Castelo sugere que o acesso a Espanha e a Valença seja feito a partir de Vila Nova de Cerveira, uma vez que as outras entradas estão bloqueadas.
O Governo avançou com um pacote de ajuda de mais de 400 milhões de euros destinados a mitigar o impacto provocado pela seca e a reforçar o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), garantindo que a maior parte das medidas entra em vigor este mês, com exceção das que estão dependentes de 'luz verde' de Bruxelas.
A Comissão Europeia vai preparar uma proposta para a redução de encargos administrativos dos agricultores, que será debatida pelos 27 Estados-membros a 26 de fevereiro.
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