Foi a determinação em criar uma empresa com a madeira como core do negócio, que apostasse permanentemente no desenvolvimento das pessoas e tivesse uma elevada intensidade tecnológica que fez nascer a Toscca. E talvez não fosse nada demais nos dias que correm, mas esta construtora de Oliveira de Frades foi fundada há quase 30 anos, com a sustentabilidade, a inovação tecnológica e as pessoas no centro do negócio.
Como foi que Pedro Pinhão arrancou? "Começámos com uma equipa pequena, composta por mim e dois colaboradores, e fomos crescemos de forma sustentada, superando desafios significativos ao longo do caminho", conta ao SAPO, identificando os fogos de 15 de outubro de 2017, que destruíram por completo a operação, como um dos momentos mais terríveis. "Fomos forçados a recomeçar do zero, mas esta adversidade reforçou a nossa determinação e o compromisso com os princípios que guiam a empresa." Entre o esforço de meia centena de funcionários e a solidariedade dos vizinhos e do município, arregaçou as mangas e voltou ao trabalho numa semana, num armazém ali ao lado, e no ano seguinte reabria atividade em pleno, com um investimento de 11 milhões, cerca de metade deles garantidos pelo programa Repor. E cinco anos passados conseguira já triplicar a faturação, atingindo os 20 milhões.
Mas o "compromisso" de que fala também implicou escolhas como nunca tirar dividendos e canalizar todos os resultados conseguidos para aumentar a capacidade de produção, melhorar a competitividade e desenvolver produtos e equipamentos inovadores. "Desde o início, adotámos uma filosofia de reinvestimento total, retirando apenas o meu salário, e isso permitiu-nos construir uma base sólida e diferenciadora no mercado", acredita Pedro Pinhão. E aponta os exemplos distintivos em que a Toscca foi apostando: "Fomos pioneiros em soluções como casas e abrigos de madeira em kit, baseados no conceito 'faça você mesmo', que democratizou o acesso a estas estruturas, reduziu custos de transporte e simplificou a montagem para os clientes. Expandimos também a oferta para incluir mobiliário de jardim e parques infantis, sempre com foco em design funcional e sustentável."
O lançamento das vendas digitais num momento em que o canal era ainda insipiente no setor, em 2012, também ajudou a dar um empurrão, diversificando os canais de venda e alcançando novos públicos com a marca a afirmar-se num mercado em transformação. E seis anos mais tarde, veio um marco extraordinário: a Louis Vuitton encomendou à Toscca a construção de uma fábrica em CLT (Cross Laminated Timber) para a marca de luxo, em Penafiel. "Este material, que alia sustentabilidade e resistência, era ainda pouco conhecido em Portugal e foi a nossa veia inovadora que permitiu que acontecesse", conta.
Hoje, há várias áreas em crescimento na Toscca, com ênfase para os equipamentos e soluções para paisagismo, bem como a construção de habitações — em altura e moradias unifamiliares. "Na área do paisagismo, desenvolvemos equipamentos que combinam funcionalidade, sustentabilidade e design, contribuindo para transformar espaços exteriores em ambientes harmoniosos e integrados com a natureza, que têm sido particularmente procurados. Já no setor da construção, a nossa aposta na madeira como principal material coloca-nos na vanguarda de um mercado em rápida evolução e graças à sua sustentabilidade, resistência e flexibilidade, com este material conseguimos criar soluções inovadoras para habitações em altura, um conceito ainda emergente em Portugal, mas com grande potencial de crescimento." Mas para Pedro Pinhão, além do crescimento, há aqui um tema de posicionamento: a Toscca tornou-se "parceiro estratégico em projetos de referência, consolidando a reputação de qualidade, inovação e compromisso com a sustentabilidade", diz ao SAPO.
Agora, esse compromisso vai mais além na descarbonização, implicando um investimento de 10 milhões de euros. "Não há outra alternativa. O drama climático é uma realidade que todos enfrentamos e estamos convictos de que as escolhas futuras dos consumidores irão inevitavelmente privilegiar a sustentabilidade e a redução das emissões de carbono ao longo de todo o processo produtivo." Dadas as vantagens ambientais da madeira, por comparação com o betão e o aço, Pedro não teve grandes hesitações. E explica essas vantagens de longo prazo: "Por um lado, requer significativamente menos energia durante a sua produção; por outro, oferece um balanço de carbono extremamente positivo, armazenando mais carbono do que aquele que é emitido ao longo de todas as etapas, desde a gestão florestal até ao produto final."
A aposta que está a ser feita é conhecida como tecnologia CHP (Combine Heat and Power), que combina o calor resultante do processo produtivo com a produção de energia elétrica. Com esta tecnologia, a Toscca pretende produzir toda a energia elétrica que consome internamente através de uma central de cogeração que permita aproveitar o próprio processo de secagem da madeira. O projeto contará com apoio do PRR em quase dois terços do valor e inclui ainda a instalação de uma grua elétrica, alimentada pela energia produzida internamente, que irá permitir a concentração de madeira num espaço menor.
O empresário que há 29 anos fundou a Toscca prevê concluir o investimento até junho de 2026, com a expectativa de que, nos anos subsequentes, este venha a traduzir-se numa significativa poupança em custos energéticos, "acima dos 60%". "Para o processo ficamos autónomos, com energia gerada a partir de biomassa e painéis fotovoltaicos, e ainda teremos manuseamento e algumas operações dependentes de fósseis, como camiões e algumas viaturas ligeiras. Esta redução será alcançada através da implementação de tecnologias mais eficientes e sustentáveis, permitindo não só diminuir as despesas operacionais, mas também contribuir para a redução da pegada de carbono da empresa, alinhando-nos com as exigências ambientais e económicas do futuro."
E por falar no amanhã, que objetivos de crescimento assinala para os próximos cinco anos? "O nosso objetivo é crescer a uma taxa superior a dois dígitos anualmente, e para alcançar esse ambicioso crescimento, a internacionalização será um passo fundamental", responde, assinalando que plantar o negócio em mercados internacionais permitirá não apenas diversificar fontes de receita, mas também fortalecer a presença global (hoje, a empresa vende 80% do que faz em Portugal). O objetivo é duplicar o volume de negócios, atingindo os 40 milhões. "Espanha será a nossa primeira etapa nessa jornada de internacionalização, com o início das operações planeado para 2025, aproveitando o potencial de um mercado vizinho com grande afinidade cultural e económica, para criar as bases para um crescimento sustentável e consolidado em outros mercados internacionais nos próximos anos."