Um conjunto de 14 dos maiores bancos e instituições financeiras do mundo, incluindo o Bank of America, Morgan Stanley e Goldman Sachs, acordou aumentar o apoio à energia nuclear como parte dos esforços globais para combater as alterações climáticas, informou o Financial Times esta segunda-feira. Este compromisso alinha-se com o objetivo estabelecido durante a cimeira sobre o clima COP28 de triplicar a capacidade nuclear global até 2050. O anúncio está previsto para um evento em Nova Iorque esta segunda-feira, onde o conselheiro da Casa Branca para o clima, John Podesta, se juntará a líderes da indústria para discutir o papel da energia nuclear num futuro com baixas emissões de carbono.
Historicamente, a energia nuclear tem tido dificuldade em atrair apoio financeiro consistente devido aos elevados custos, à complexidade da regulamentação e à perceção dos riscos associados aos projetos nucleares. Este apoio do sistema financeiro, no entanto, poderá marcar um ponto de viragem.
George Borovas, responsável pela área nuclear da Hunton Andrews Kurth e membro do conselho de administração da Associação Nuclear Mundial, classificou ao FT o compromisso dos bancos como uma “mudança”, observando que, até agora, as instituições financeiras hesitavam em envolver-se em projetos nucleares.
Com o apoio dos principais bancos, espera-se que o financiamento de projetos de energia nuclear se torne mais fácil. A concessão de empréstimos diretos, o financiamento de projetos e a emissão de obrigações são algumas das formas como os bancos podem impulsionar o desenvolvimento da energia nuclear. Além disso, os bancos podem apresentar as empresas nucleares a fundos de capital privado e de crédito para desbloquear ainda mais o investimento.
O BNP Paribas sublinhou a importância crucial da energia nuclear para o cumprimento dos objetivos climáticos globais, afirmando que, sem ela, “não há cenário” em que o mundo possa atingir a neutralidade carbónica até 2050. Do mesmo modo, o Barclays salientou que a energia nuclear oferece uma solução para os problemas de intermitência que afetam as fontes renováveis como a eólica e a solar.
As grandes empresas tecnológicas estão também a começar a adotar a energia nuclear como forma de satisfazer as suas vastas necessidades energéticas, reduzindo simultaneamente a sua pegada de carbono. A Microsoft assinou recentemente um acordo de 20 anos com a Constellation Energy para reativar um reator nuclear na Pensilvânia, nos Estados Unidos da América (EUA).
Apesar da crescente dinâmica da energia nuclear, o assunto continua a ser sensível nos círculos financeiros. Vários bancos recusaram-se a comentar publicamente o apoio dado no evento de Nova Iorque, sinalizando que a energia nuclear ainda enfrenta algum estigma, mesmo quando a opinião pública se torna mais favorável nos Estados Unidos e na Europa, explicou o FT.
A 28.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP28), realizada no Dubai de 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023, fez história ao apelar a uma implantação mais célere da energia nuclear.
Embora muitos esperassem um apelo claro à “eliminação progressiva” dos combustíveis fósseis, o acordo apenas se comprometeu a abandonar a sua utilização nos sistemas elétricos, o que passará por triplicar o investimento em energias renováveis até 2030, mas também por triplicar a capacidade nuclear global até 2050.
O objetivo é “acelerar as tecnologias de emissões nulas e baixas, incluindo, nomeadamente, as energias renováveis, a energia nuclear, as tecnologias de redução e remoção, como a captura e utilização e armazenamento de carbono, e a produção de hidrogénio com baixo teor de carbono”, pode ler-se num comunicado emitido no final da conferência de 2023.
A linguagem utilizada foi um compromisso, com os principais países produtores de petróleo, como a Arábia Saudita, a defenderem tecnologias como a captura de carbono para prolongar a utilização de combustíveis fósseis, apesar das preocupações de que tais soluções não sejam suficientes para cumprir os objetivos climáticos.
A COP28 adiou muitas decisões relacionadas com o financiamento para a COP29, em especial o estabelecimento do Novo Objetivo Quantitativo Coletivo para o financiamento do clima, que visa substituir o atual objetivo anual de 100 mil milhões de dólares (89,9 mil milhões de euros), apontado como inadequado face aos atuais desafios climáticos.