
A Universidade Católica Portuguesa criou uma iniciativa inovadora e multidisciplinar com o objetivo de ajudar as empresas a aumentar o seu impacto positivo em termos sociais, ambientais e de governo das organizações. Inspirado pela nomeação de Wayne Visser como professor em Negócios Regenerativos, Inovação e Tecnologia na Católica Porto Business School (CPBS), e com o apoio da Galp, o novo Católica Centre for Thriving Futures afirma-se como "catalisador de mudanças sistémicas, reunindo diferentes disciplinas para enfrentar os desafios globais". O Católica Centre for Thriving Futures reúne três das principais escolas da UCP no Porto – a Católica Porto Business School, a Escola Superior de Biotecnologia e a Faculdade de Direito –, reconhecendo que os desafios mais prementes da atualidade exigem conhecimentos interdisciplinares.
O SAPO quis saber mais sobre a iniciativa e buscou as respostas de Wayne Visser (WV), diretor do Católica Centre for Thriving Futures e professor de Negócios Regenerativos, Inovação e Tecnologia na Católica Porto Business School, Marta Portocarrero (MP), docente da Faculdade de Direito – Escola do Porto da UCP e co-líder do Católica Centre for Thriving Futures, e Pedro Rodrigues, diretor-adjunto da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa e também co-líder do Católica Centre for Thriving Futures, que explicam como esta iniciativa pode ter um papel de mudança.
Como é que vai funcionar, na prática, o Católica Centre for Thriving Futures?
WV: Para cada empresa que se junte como parceira, trabalharemos em conjunto para definir um projeto de investigação aplicada e interdisciplinar que ajude a responder às questões que mais interessam à empresa. O Centro irá depois reunir a equipa de investigação, conduzir o estudo e apresentar os seus resultados. Iremos também proporcionar oportunidades para que os parceiros interajam entre si sobre temas-chave de interesse comum, bem como para darem visibilidade à sua empresa e partilharem os seus progressos em sustentabilidade e outras mensagens estratégicas no nosso simpósio anual Thriving Futures.
E como pode uma empresa envolver-se? E que benefícios poderá obter ao aderir a esta iniciativa?
WV: Qualquer empresa interessada em tornar-se parceira deve entrar em contacto comigo, como diretor do Centro. Em troca do seu investimento como parceira fundadora, existem três benefícios principais: Em primeiro lugar, a empresa beneficiará de um projeto de investigação personalizado que contribuirá para o avanço dos seus objetivos estratégicos de transformação sustentável; depois, terá acesso a uma mesa redonda confidencial com os restantes parceiros do Centro, onde poderá partilhar boas práticas e discutir como está a lidar com desafios específicos; e por fim, terá oportunidades para dar visibilidade à sua organização e divulgar quaisquer resultados de investigação ou outras mensagens-chave no simpósio anual Thriving Futures.
Sabemos que as leis podem ser limitativas da criatividade e travar inovação, mas também nos protegem de riscos que são particularmente relevantes num momento em que a tecnologia e a IA se desenvolvem a um ritmo diário. Como é que a contribuição de quem sabe como se estabelece um quadro regulatório pode ser determinante neste novo centro?
MP: A questão tem implícita a sua própria resposta: o centro possibilitará a colaboração de quem pode ajudar a pensar e construir o quadro regulatório aplicável à atividade das empresas, procurando o balanceamento, o equilíbrio devido, entre inovação e minimização possível do risco social (em todas as suas dimensões). Desta forma, potencia-se um desenvolvimento responsável, ético e sustentável, sem obstaculizar a inovação.
Em que dimensões podem as estratégias de inovação e sustentabilidade transformar os negócios?
MP: A integração de estratégias de inovação e sustentabilidade certamente conduzirá a uma atividade económica mais eficiente. Além disso, permitirá uma melhor diferenciação das marcas no mercado e pode, de igual modo, ajudar a atrair talento.
E que instrumentos concretos pode a Faculdade de Direito - Escola do Porto da Universidade Católica Portuguesa aportar ao projeto do Católica Centre for Thriving Futures e às empresas que a ele se juntarem/recorrerem?
MP: A Escola do Porto da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa possui a expertise necessária para ajudar as empresas a enfrentar os desafios que se colocam no cumprimento do complexo sistema regulatório em vigor. Da sua investigação aplicada poderão, além do mais, surgir propostas de melhoria do quadro legal, promovendo um melhor equilíbrio entre inovação e proteção dos direitos e interesses dos cidadãos e contribuindo, assim, para um desenvolvimento económico e social mais próspero e sustentável.
A biotecnologia é uma das áreas com maior desenvolvimento e de futuro. Em que medida faz sentido para a Escola Superior de Biotecnologia e Centro de Biotecnologia e Química Fina estar integrada neste projeto que pretende transformar a sociedade e o mundo, uma empresa de cada vez?
PR: A biotecnologia é uma área fascinante e repleta de potencial, com aplicações que abrangem desde a saúde até a agricultura e a sustentabilidade ambiental. A palavra "inovação" faz parte da Escola Superior de Biotecnologia (ESB) desde a nossa génese (1984) e estarmos envolvidos em projetos que visam transformar a sociedade e o mundo é essencial. Isso permite à nossa instituição contribuir para o desenvolvimento sustentável, estar na vanguarda da inovação e formar talentos preparados para enfrentar os desafios do futuro. Além disso, participar nestes projetos pode atrair parcerias estratégicas, financiamento e sinergias, impulsionando ainda mais a investigação e o desenvolvimento na área.
Que tipo de inovação acredita que terá mais potencial de ser indutora de mudanças estratégicas que nos apontem ao futuro que querem criar?
PR: Não salientaria apenas uma tecnologia, saliento três com grande potencial para induzir mudanças estratégicas e que de certa forma se complementam e promovem a inovação e avanços científico-técnicos em resposta aos desafios globais: a inteligência artificial (IA), a Internet das Coisas (IoT) e a biotecnologia verde. A IA melhora a tomada de decisões e cria oportunidades de negócios. A IoT permite conectar dispositivos e sistemas para recolha e análise de dados em tempo real, melhorando assim a eficiência operacional criando modelos de negócios. E a biotecnologia verde melhora a produtividade agrícola, reduz o impacto ambiental e promove práticas agrícolas mais sustentáveis.
De que forma pode a IA ajudar em concreto e que riscos pode também trazer – nomeadamente porque há um desenvolvimento mais cauteloso e espartilhado na Europa e dois “sem regras” nos EUA e na Ásia?
PR: De facto, na Europa, o desenvolvimento da IA é mais cauteloso e regulamentado, focado em segurança, ética e transparência, enquanto nos EUA e na Ásia há uma abordagem mais rápida e menos centralizada, com controlo estatal rigoroso em áreas sensíveis. Apesar das abordagens diferenciadas em termos de desenvolvimento tecnológico e que trazem desafios e regras diferentes na sua implementação nos diversos continentes, a IA oferece inevitavelmente benefícios extraordinários em tarefas como a automação de tarefas repetitivas, permitindo que as pessoas se concentrem em atividades mais estratégicas e criativas; mas também na análise rápida de grandes volumes de dados, fornecendo insights valiosos para a tomada de decisões informadas; e ainda na previsão de riscos, sugerindo medidas preventivas e melhorando a resiliência das operações empresariais.
Porém, há a outra face da moeda onde a IA também traz riscos, como preocupações com privacidade e segurança, devido à recolha e análise de grandes quantidades de dados pessoais; perpetuação de preconceitos existentes e erros se os algoritmos forem treinados com dados tendenciosos; e potencial desemprego em certos setores, exigindo políticas de requalificação, formação e apoio aos trabalhadores afetados.