Marina de Vilamoura, a mais antiga de Portugal, faz 50 anos. Conheça a história que nasceu do “sonho” de Cupertino de Miranda

Está a completar meio século desde que inaugurou a marina de Vilamoura, a mais antiga de Portugal, e que resultou da ambição do banqueiro português, António Cupertino de Miranda, em criar no Algarve um empreendimento de topo a nível internacional, na década de 1970.

“Hoje parece uma coisa normal, mas na altura o Cupertino de Miranda foi um homem de grande visão e coragem", enfatiza Isolete Correia, administradora da marina de Vilamoura, que tem 52 anos de ‘casa’ e chegou a trabalhar com o banqueiro. "Questionava-se na época: para quê uma marina com mil postos de amarração? E isto quando nem sequer havia uma marina em Portugal”.

Cupertino de Miranda a presidir à reunião com administradores da Lusotur, sociedade criada na década de 1970 para gerir o novo empreendimento em Vilamoura
Cupertino de Miranda a presidir à reunião com administradores da Lusotur, sociedade criada na década de 1970 para gerir o novo empreendimento em Vilamoura D.R.

A marina era o centro do empreendimento que estava nos planos para Vilamoura do fundador do Banco Português do Atlântico, com vista a desenvolver à sua volta imobiliário, hotéis, campos de golfe, comércio e uma série de serviços de alta qualidade, de forma a atraír ao Algarve elites internacionais, já nesses idos anos 70.

“O sonho de Cupertino de Miranda era o de criar em Vilamoura uma oferta integrada com um nível de excelência, ele foi de facto, naquela época, um visionário”, realça Isolete Correia.

Em 1970 foi aprovada a construção da marina de Vilamoura, com projeto de Eric Lyons e Ivor Cunningham, e concessão por 60 anos
Em 1970 foi aprovada a construção da marina de Vilamoura, com projeto de Eric Lyons e Ivor Cunningham, e concessão por 60 anos D.R.

O banqueiro começou a pensar o projeto para Vilamoura no final da década de 1960, e as escavações para a marina arrancaram no início dos anos de 1970. Foi na Quinta do Morgado de Quarteira, com 1600 hectares, que viria a nascer o empreendimento, tendo a quinta sido adquirida pelo dono do Banco Português do Atlântico nos anos de 1960 com esse fim.

“Era uma quinta que não tinha absolutamente nada, e que o Cupertino de Miranda comprou, já com a visão fantástica de desenvolver ali o projeto de Vilamoura”, conta a atual administradora na marina, lembrando ainda que, à época, o banqueiro fez questão de “lançar um concurso público a nível internacional para desenvolver o ‘masterplan’ de Vilamoura”.

Prosseguindo os planos do banqueiro, a marina inaugurou em março de 1974 com a chegada do veleiro ‘Giralda’, do conde de Barcelona, estreando-se assim com um membro da realeza como primeiro cliente.

A marina foi inaugurada em 1974 com a chegada do veleiro 'Giralda' do conde de Barcelona, que se tornou assim no seu primeiro cliente
A marina foi inaugurada em 1974 com a chegada do veleiro 'Giralda' do conde de Barcelona, que se tornou assim no seu primeiro cliente D.R.

Mas um mês depois ocorreu a revolução do 25 de abril, travando a fundo os florescentes planos de Cupertino de Miranda para a marina e todo o desenvolvimento que projetava em Vilamoura. “Literalmente, parou tudo em Portugal nessa altura”, nota Isolete Correia.

E na década seguinte, tudo mudou. “Os anos de 1980 foram brilhantes, costumamos dizer que foram anos de ouro, em que começámos a desenvolver bem a marina”, destaca.

A única marina em Portugal durante duas décadas

Ao longo de 20 anos, a marina de Vilamoura permaneceu como a única em Portugal - situação que só se alterou com a abertura da marina de Lagos, inaugurada em 1994 (entre marinas e portos de recreio, o país conta atualmente com uma capacidade de cerca de 31 mil postos de amarração) .

Em 1994, a marina de Vilamoura beneficiava de todo o desenvolvimento imobiliário que tinha sido acelerado acelerado desde os anos de 1980
Em 1994, a marina de Vilamoura beneficiava de todo o desenvolvimento imobiliário que tinha sido acelerado acelerado desde os anos de 1980 D.R.

“O facto de sermos únicos durante vinte anos não foi uma vantagem, foi um problema”, frisa a administradora da marina de Vilamoura. “Sempre que íamos promover a marina, em feiras internacionais, não havia outro porto próximo em Portugal, só em Espanha, e as pessoas que têm iates gostam de passear”.

O imobiliário turístico e residencial à volta da marina foi ganhando expressão no empreendimento de Vilamoura com o correr dos anos, integrando também hotéis e campos de golfe, um centro equestre e várias outras estruturas, além de um parque ambiental com 200 hectares.

A marina de Vilamoura em 2001, na altura sob gestão do grupo de André Jordan
A marina de Vilamoura em 2001, na altura sob gestão do grupo de André Jordan D.R.

A aposta em estruturas especializadas em desportos náuticos fambém marcou o desenvolvimento em Vilamoura, e um salto relevante neste campo foi a construção, em 2017, de um centro internacional de vela de alta competição.

O empreendimento de Vilamoura já passou por várias mãos: manteve-se com Cupertino de Miranda até 1996, altura em que passou para o grupo de André Jordan, que em 2006 o vendeu aos espanhóis da Prasa - que por sua vez o vendeu em 2016 à norte-americana Lone Star, tendo sido novamente alvo de transação em maio de 2021 de forma a chegar aos atuais proprietários, o grupo britânico de fundos Arrow Global.

A marina de Vilamoura foi sendo sucessivamente premiada ao longo dos anos, e em 2024 voltou a ser distinguida como a melhor marina do mundo, pela The Yatch Harbour Association, somando-se a id~enticos prémios anteriormente arrecadados em 2015, 2016, 2017, 2019, 2021 e 2022.

Inicialmente com 612 postos de amarração, a marina foi alvo de uma apliação em 1981 passando a ter 1000 lugares para iates. De momento, conta com 825 lugares, o que não representou uma redução, mas a reformulação do espaço para receber embarcações de maior dimensão.

A marina de Vilamoura em 2001, na altura sob gestão do grupo de André Jordan
A marina de Vilamoura em 2001, na altura sob gestão do grupo de André Jordan D.R.

Os 50 anos da marina de Vilamoura serão celebrados com um evento oficial em novembro, coincidindo com a inauguração de uma segunda marina, dedicada a iates de grande porte, mercado para o qual faltava oferta em Portugal.

Em 2020, a marina de Vilamoura tinha perspetivas aquecidas com o crescimento do turismo, mas enfrentou um revés generalizado com a pandemia de covid
Em 2020, a marina de Vilamoura tinha perspetivas aquecidas com o crescimento do turismo, mas enfrentou um revés generalizado com a pandemia de covid D.R.

Um dos ‘sonhos’ de Cupertino de Miranda que ficou por cumprir em Vilamoura foi a construção de uma Cidade Lacustre, projeto que contemplava a construção de um conjunto de lagos interligados a partir da água do mar proveniente da marina, estendendo-se por mais de 22 hectares. A Cidade Lacustre manteve-se um tema recorrente de discussão até 2020, altura em que foi definitivamente abandonado por razões ambientais.

Em 2024, a marina de Vilamoura voltou a ser eleita como a melhor do mundo, e continua a ser uma das maiores na Europa
Em 2024, a marina de Vilamoura voltou a ser eleita como a melhor do mundo, e continua a ser uma das maiores na Europa José Fonseca Fernandes

Mas a ambição continua a ser grande para o futuro da marina de Vilamoura, e os novos proprietários do empreendimento assumem-se dispostos em investir em melhorias no objetivo de elevar ainda mais a fasquia da emblemática estrutura náutica no Algarve.

“Continuamos a ser a maior marina em Portugal e uma das maiores da Europa”, frisa a administradora, isolete Correia, deixando expresso que irão prosseguir planos para “colocar Vilamoura num patamar muito elevado, foi esse sempre o sonho do sr. Cupertino de Miranda”.