
"A revisão em baixa da notação financeira de longo prazo do emitente em moeda local reflete os graves problemas de liquidez do Governo; estes desafios devem-se principalmente às dificuldades de refinanciamento da dívida e às pressões orçamentais, que foram ainda agravadas pela agitação política e social que se seguiu às eleições gerais do início de outubro", escrevem os analistas da Moody's.
Na nota que acompanha a decisão de baixar o rating das emissões de dívida interna e manter em Caa2 as emissões de dívida externa, a Moody's explica que "estes desafios conduziram a situações de incumprimento, incluindo atrasos nos reembolsos das obrigações nacionais e ao início de leilões de 'swaps' da dívida interna destinados a gerir o perfil de maturidade", que a Moody's diz configurarem uma troca problemática.
A decisão da Moody's surge pouco tempo depois de a Standard & Poor's também rever o rating de Moçambique, mas numa perspetiva mais grave, colocando as emissões de dívida interna em Incumprimento Parcial.
No final de março, o Banco de Moçambique já tinha comentado a decisão da S&P, alertando que a pressão sobre a dívida pública emitida internamente continua a agravar-se, aumentando 11,6 mil milhões de meticais (168,7 milhões de euros) desde a última avaliação divulgada pelo banco central, há dois meses.
"A pressão sobre o endividamento público interno continua a agravar-se", referiu o banco central na informação sobre a reunião do Comité de Política Monetária (CPMO), que decorreu a 26 de março, em Maputo.
Acrescenta que a dívida pública interna, excluindo os contratos de mútuo e de locação e as responsabilidades em mora, situava-se em 447,2 mil milhões de meticais (6.505 milhões de euros) no final de dezembro, um aumento de 31,7 mil milhões de meticais (461,1 milhões de euros) na dívida emitida internamente no ano de 2024.
Na reunião anterior do CPMO, realizada em 27 de janeiro, o banco central já assinalava a mesma pressão sobre o endividamento interno (tal como nas análises anteriores), que contabilizava até então em 435,6 mil milhões de meticais (6.337 milhão de euros), o que representa um crescimento de 11,6 mil milhões de meticais (168,7 milhões de euros) face à avaliação divulgada esta semana.
"Quer dizer que nós ficamos com um instrumento de dívida quase especulativo. Sendo especulativo, poucos investidores vão querer esse título, esse instrumento, na sua carteira", observou então o governador do Banco de Moçambique, Rogério Zandamela.
MBA (PVJ) // JMC
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