"Nós nunca chegamos a pensar que a Total pode não voltar e da conversa que tenho tido com presidente da empresa [Patrick Pouyanné] nunca se levantou essa possibilidade", declarou Filipe Nyusi, durante a Reunião de Negócios da Agenda Africana da Comunidade dos Presidentes dos Conselhos de Administração e Diretores Executivos, realizado hoje em Maputo.

Segundo o chefe de Estado moçambicano, a petrolífera francesa tem estado a pressionar o Governo para que crie condições para o reinício das atividades da empresa, que tem estado, através de projetos comunitários, a apoiar os esforços das autoridades para que o problema da insurgência na região seja resolvido.

"A Total é que pressiona o Governo para que o Estado faça a sua parte, que é de devolver a tranquilidade e a segurança. A própria empresa tem estado a dar a sua contribuição para que a situação se estabilize, apoiando a juventude", frisou o chefe de Estado moçambicano.

Embora descarte a possibilidade de a Total abandonar o projeto, Filipe Nyusi lembra que o gás não vai desaparecer no caso de a multinacional francesa decidir suspender em definitivo a operação.

"Nós não colocamos a hipótese de a Total não voltar, mas bem, caso isso aconteça, o gás está lá [...] há quem pode explorar também. Não é um produto que desaparece. Mas nós não pensamos na negativa", frisou Filipe Nyusi, acrescentando que, com apoio de forças estrangeiras, a situação do distrito de Palma é estável e o empresariado já pode regressar.

A TotalEnergies, cujo consórcio vai investir mais de 20 mil milhões de dólares na exploração de gás natural no norte de Moçambique, suspendeu o desenvolvimento do projeto na região, devido a um ataque rebelde em 2021, perto das infraestruturas do empreendimento, no distrito de Palma, província de Cabo Delgado.

Em declarações à comunicação social hoje na província de Gaza, sul de Moçambique, o ministro dos Recursos Minerais e Energia, Carlos Zacarias, prometeu que até ao final deste ano estarão criadas todas as condições para a retoma do projeto de gás natural da Total.

Palma foi alvo de um dos mais mediáticos ataques protagonizados pelos rebeldes que aterrorizam a província de Cabo Delgado desde 2017, quando em 24 de março de 2021 os insurgentes invadiram a sede daquele distrito, tendo provocado dezenas de mortos e feridos, bem como a fuga de milhares de pessoas.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio.

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